Mudanças entre as edições de "Mineração no Mar"

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O despejo dos rejeitos sobre o fundo marinho também pode causar um aumento da turbidez, além de eliminar grande parte da população de seres que não têm condições de escapar para a superfície após o soterramento. Marés e correntes podem espalhar plumas de rejeitos além da área da mina<ref name=":3" />.
O despejo dos rejeitos sobre o fundo marinho também pode causar um aumento da turbidez, além de eliminar grande parte da população de seres que não têm condições de escapar para a superfície após o soterramento. Marés e correntes podem espalhar plumas de rejeitos além da área da mina<ref name=":3" />.


Adicionalmente, a mineração marinha pode introduzir e promover a liberação de substâncias tóxicas  que podem ser incorporadas à biota, num fenômeno de bioacumulação <span style="color:blue" title="Acúmulo de substâncias no organismo de um ser vivo.">bioacumulação</span>, ou serem passadas através das redes tróficas e apresentar concentrações elevadas nos organismos de topo de cadeia, num processo de biomagnificação trófica <span style="color:blue" title="Acúmulo progressivo de substâncias de um nível para outro em uma cadeia alimentar.">biomagnificação trófica</span>. Essas substâncias tóxicas, uma vez incorporadas pela biota, podem promover alterações fisiológicas, bioquímicas, genéticas e comportamentais, que por sua vez podem alterar o crescimento, a taxa de reprodução e a sobrevivência das espécies<ref name=":2" />.
Adicionalmente, a mineração marinha pode introduzir e promover a liberação de substâncias tóxicas  que podem ser incorporadas à biota, num fenômeno de <span style="color:blue" title="Acúmulo de substâncias no organismo de um ser vivo.">bioacumulação</span>, ou serem passadas através das teias alimentares e apresentar concentrações elevadas nos organismos de topo de cadeia, num processo de <span style="color:blue" title="Acúmulo progressivo de substâncias de um nível para outro em uma cadeia alimentar.">biomagnificação trófica</span>. Essas substâncias tóxicas, uma vez incorporadas pela biota, podem promover alterações fisiológicas, bioquímicas, genéticas e comportamentais, que por sua vez podem alterar o crescimento, a taxa de reprodução e a sobrevivência das espécies<ref name=":2" />.


Existe também a preocupação com o patrimônio histórico subaquático, principalmente pela maioria das atividades de mineração estarem sendo feitas perto do litoral<ref name=":3" />. As atividades de mineração, particularmente a dragagem de agregados, mostraram danificar irreversivelmente o patrimônio cultural subaquático, incluindo naufrágios, locais de acidentes e locais pré-históricos submersos<ref>FIRTH, A. (2006). Marine Aggregates and Prehistory. HERITAGE AT RISK, 8.</ref>.
Existe também a preocupação com o patrimônio histórico subaquático, principalmente pela maioria das atividades de mineração estarem sendo feitas perto do litoral<ref name=":3" />. As atividades de mineração, particularmente a dragagem de agregados, mostraram danificar irreversivelmente o patrimônio cultural subaquático, incluindo naufrágios, locais de acidentes e locais pré-históricos submersos<ref>FIRTH, A. (2006). Marine Aggregates and Prehistory. HERITAGE AT RISK, 8.</ref>.

Edição atual tal como às 15h20min de 5 de janeiro de 2023

Segundo a classificação internacional adotada pela ONU, define-se mineração como sendo a extração, elaboração e beneficiamento de minerais que se encontram em estado natural: sólido, líquido ou gasoso. Esta definição inclui a exploração das reservas subterrâneas e de superfície, tanto na terra como no mar.

Mineração offshore é a que ocorre a partir da linha de costa, no mar.

Em geral, se diz que:

Águas rasas: profundidade entre 0 (zero) e 300 metros.

Águas profundas: profundidade entre 300 metros e 1.500 metros.

Águas ultraprofundas: profundidade acima de 1.500 metros.

Portanto, a mineração em águas rasas seria a que ocorre até 300 metros de profundidade, e a mineração em águas profundas a que ocorre a partir de 300 metros de profundidade.

A mineração no mar normalmente é feita da seguinte forma: um sistema de dragagem escava o material do fundo mar, o material retirado de lá é bombeado para um navio, onde são separados os minerais do resto dos rejeitos, e esses rejeitos, junto com a água, são descartados novamente no mar.

A mineração em andamento no mar ainda é bem menos expressiva do que a mineração terrestre. Entretanto, o interesse pelos minerais que se encontram no leito marinho vem crescendo no mundo todo, principalmente devido à previsão de que muitos minerais em terra vão entrar em escassez nas próximas décadas. Assim, o tema “recursos minerais do mar” entrou na agenda estratégica de várias nações, tanto nas desenvolvidas como nas emergentes[1].

Nesse sentido, o Brasil se lançou na pesquisa mineral marinha com certo atraso em relação até mesmo a outros países emergentes. Porém, os esforços da Petrobras para encontrar as reservas do pré-sal geraram um extenso e detalhado escaneamento do fundo do oceano sob jurisdição nacional com uma infinidade de dados que começaram a ser compartilhados com outras instituições[1].

O Ministério de Minas e Energia (MME) e a Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, por meio do Serviço Geológico do Brasil (SGM - CPRM) são os principais atores no âmbito de planejamento e gestão da geologia e produção mineral do Brasil[2].

O Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC) e o  Programa de Prospecção e Exploração de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA) são iniciativas brasileiras voltadas à exploração dos recursos minerais marinhos. O REMPLAC está mapeando os recursos minerais marinhos (exceto o petróleo) na plataforma continental brasileira, e é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, mas envolve outras instituições, como a Marinha.  

O PROAREA é coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores e é focado na “Área”, ou seja, nas águas de jurisdição internacionais, porém, essa iniciativa é importante para o Brasil, pois, com a corrida internacional para requisição de sítios de exploração mineral na “Área”, há a possibilidade de outros países requisitarem sítios de exploração mineral em frente a plataforma continental brasileira[3]. Assim, é importante que o Brasil desenvolva o conhecimento científico e domine novas tecnologias de forma a capacitar o país para competir, em igualdade de condições, com outras nações.

Ademais, o projeto LEPLAC - Levantamento da Plataforma Continental Brasileira - também trouxe importantes subsídios para o conhecimento da geologia marinha[4].

Impactos da mineração marinha

Todo o processo de mineração no mar, que envolve raspagem do fundo oceanico, extração de material e lançamento de resíduos, pode causar diversos tipos de impactos ambientais, principalmente a destruição de habitats, o aumento da turbidez da água e a introdução de substâncias tóxicas[5].

Ao realizar a dragagem, a raspagem do fundo do oceano pode acabar alterando sua estrutura, afetando ecossistemas, destruindo habitats, erradicando espécies raras e prejudicando a atividade pesqueira. A maioria dos estudos acerca do impacto da dragagem sobre o bentos marinho mostra que a ela pode resultar em queda de 30 a 70% na variedade de espécies, uma redução de 40 a 95% no número de indivíduos, e uma redução semelhante na biomassa em áreas dragadas[6]. Além disso, a dragagem pode alterar a geomorfologia e os processos hidrodinâmicos do fundo do mar[7]. Esse processo pode também causar a mudança na turbidez da água, impedindo a luminosidade de atingir o fundo. Isso afeta a produtividade primária local, pois sem luminosidade os organismos  fotossintetizantes não conseguem fazer fotossíntese[4]. Quando você altera a produtividade primária de um local, você causa um desequilíbrio em todos os níveis da cadeia alimentar.

O despejo dos rejeitos sobre o fundo marinho também pode causar um aumento da turbidez, além de eliminar grande parte da população de seres que não têm condições de escapar para a superfície após o soterramento. Marés e correntes podem espalhar plumas de rejeitos além da área da mina[7].

Adicionalmente, a mineração marinha pode introduzir e promover a liberação de substâncias tóxicas  que podem ser incorporadas à biota, num fenômeno de bioacumulação, ou serem passadas através das teias alimentares e apresentar concentrações elevadas nos organismos de topo de cadeia, num processo de biomagnificação trófica. Essas substâncias tóxicas, uma vez incorporadas pela biota, podem promover alterações fisiológicas, bioquímicas, genéticas e comportamentais, que por sua vez podem alterar o crescimento, a taxa de reprodução e a sobrevivência das espécies[5].

Existe também a preocupação com o patrimônio histórico subaquático, principalmente pela maioria das atividades de mineração estarem sendo feitas perto do litoral[7]. As atividades de mineração, particularmente a dragagem de agregados, mostraram danificar irreversivelmente o patrimônio cultural subaquático, incluindo naufrágios, locais de acidentes e locais pré-históricos submersos[8].

Pesquisas também apontam que as máquinas usadas para realizar a mineração em águas profundas podem causar uma poluição sonora e luminosa, além de emitir vibrações que afetam várias espécies de animais[9].

Já os impactos sociais da mineração no mar, segundo documentos produzidos pela ONU[7], são mais complexos de elencar, mas provavelmente são menores do que para a mineração terrestre.

Atividades de mineração terrestres também podem afetar a zona costeira e marinha. Muitas vezes elas são feitas próximas a rios, fazendo com que partículas de solo e areia cheguem ao ambiente do manguezal, o que provoca alterações no ecossistema[10].

  1. 1,0 1,1 CHRISTANTE, L. [s.d]. A era da mineração marinha. Unespciencia. 2010. Disponível em: http://unespciencia.com.br/2010/07/01/minerios-10/.
  2. Ministério de Minas e Energia. Geologia e Produção Mineral. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/secretarias/geologia-mineracao-e-transformacao-mineral/geologia-e-producao-mineral-1.
  3. SECIRM. Recursos minerais da amazônia azul e da área internacional dos oceanos. Brasília: 2013. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/54a-legislatura/pl-0037-11-mineracao/arquivos/apresentacao-comandante-teixeira-21.08.13.
  4. 4,0 4,1 ROCHA, D. B. et al. OS IMPACTOS AMBIENTAIS NA OBTENÇÃO DOS RECURSOS MINERAIS MARINHOS E A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA NAVAL. Poços de Caldas: 2018. Disponível em: http://www.meioambientepocos.com.br/Anais2018/Recursos%20Naturais/483.%20OS%20IMPACTOS%20AMBIENTAIS%20NA%20OBTEN%C3%87%C3%83O%20DOS%20RECURSOS%20MINERAIS%20MARINHOS%20E%20A%20IMPORT%C3%82NCIA%20DA%20TECNOLOGIA%20NAVAL.pdf.
  5. 5,0 5,1 GOMES, A. S.; PALMA J. J. C.; SILVA C. G. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DO IMPACTO AMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS MINERAIS MARINHOS. Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000. Disponível em:https://sbgf.org.br/revista/index.php/rbgf/article/view/1422/539.
  6. NEWELL, R.C., SEIDERER, L.J. AND HITCHCOCK, D.R. (1998). The impact of dredging works in coastal waters: A review of the sensitivity to disturbance and subsequent recovery of biological resources on the seabed. Oceanography and Marine Biology: An Annual Review, 36: 127-78.
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 NAÇÕES UNIDAS. World Ocean Assessment I. United Nations publication, 2017. Disponível em: <https://www.un.org/regularprocess/content/first-world-ocean-assessment>.
  8. FIRTH, A. (2006). Marine Aggregates and Prehistory. HERITAGE AT RISK, 8.
  9. AZEVEDO, J. Conheça os impactos da mineração em águas profundas. Ecycle. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/mineracao-em-aguas-profundas/.
  10. HARARI, Joseph (org.). Noções de oceanografia. São Paulo: Instituto Oceanográfico (Usp), 2021. 926 p. Disponível em: https://www.inserver.com.br/usp/livros/nocoes-oceanografia.pdf. Acesso em: 28 set. 2021.