Mudanças entre as edições de "Mar Profundo"

De BLAB Wiki
Ir para navegação Ir para pesquisar
 
(12 revisões intermediárias pelo mesmo usuário não estão sendo mostradas)
Linha 12: Linha 12:
* Zona Hadal: camada mais profunda do oceano, que pode chegar até 11000 m (Fossa das Marianas, no Pacífico Oeste), e consequentemente com pressões extremas.
* Zona Hadal: camada mais profunda do oceano, que pode chegar até 11000 m (Fossa das Marianas, no Pacífico Oeste), e consequentemente com pressões extremas.


Outra característica muito importante das maiores profundidades, é que, diferentemente das regiões mais próximas do continente, e consequentemente mais rasas, o mar profundo é considerado um ambiente oligotrófico*, com chegadas esporádicas de alimento.
Outra característica muito importante das maiores profundidades, é que, diferentemente das regiões mais próximas do continente, e consequentemente mais rasas, o mar profundo é considerado um ambiente <span style="color:blue" title="Ambientes pobres em matéria orgânica e/ou nutrientes, ao contrário da eutrofia, que referem-se a ambientes ricos.">oligotrófico</span>, com chegadas esporádicas de alimento.


= ECOLOGIA DE MAR PROFUNDO =
= ECOLOGIA DE MAR PROFUNDO =
Linha 25: Linha 25:
Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas,<ref>German, C. R.; Von Damm, K. L. 2004. Hydrothermal processes. In: Holland, H. D.; Turekian, K. K.; Elderfield, H. (Eds). Treatise on geochemistry, vol. 6. The oceans and marine geochemistry. Oxford, UK. Elsevier-Pergamon, pp. 181-222.</ref> sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente.<ref>Hannington, M. D.; Jonasson, I. R.; Herzig, P. M.; Petersen, S. 1995. Physical and chemical processes of seafloor mineralization at Mid-Ocean Ridges. In: Humphris, S. E.; Zierenberg, R. A.; Mullineaux, L. S.; Thomson, R. E. (Eds). Seafloor hydrothermal systems: physical, chemical, biological, and geological interactions.Geophysical Monograph, 91. American Geophysical Union: Washington, DC, pp. 115-157.</ref>
Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas,<ref>German, C. R.; Von Damm, K. L. 2004. Hydrothermal processes. In: Holland, H. D.; Turekian, K. K.; Elderfield, H. (Eds). Treatise on geochemistry, vol. 6. The oceans and marine geochemistry. Oxford, UK. Elsevier-Pergamon, pp. 181-222.</ref> sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente.<ref>Hannington, M. D.; Jonasson, I. R.; Herzig, P. M.; Petersen, S. 1995. Physical and chemical processes of seafloor mineralization at Mid-Ocean Ridges. In: Humphris, S. E.; Zierenberg, R. A.; Mullineaux, L. S.; Thomson, R. E. (Eds). Seafloor hydrothermal systems: physical, chemical, biological, and geological interactions.Geophysical Monograph, 91. American Geophysical Union: Washington, DC, pp. 115-157.</ref>


Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>) em compostos orgânicos,<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> servindo como base da cadeia alimentar quimiossintética, por meio de ecto ou endossimbiose com diversas espécies endêmicas*. Entre os organismos dessa fauna encontram-se: poliquetas tubulares da família Siboglinidae, moluscos como Bathymodiolus, Vesicomyidae, e Provannidae; além de crustáceos, como Alvinocarididae e Kiwa.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref>  
Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>) em compostos orgânicos,<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> servindo como base da cadeia alimentar quimiossintética, por meio de ecto ou endossimbiose com diversas espécies <span style="color:blue" title="Característica referente à presença exclusiva de certas espécies em determinados locais.">endêmicas</span>. Entre os organismos dessa fauna encontram-se: poliquetas tubulares da família Siboglinidae, moluscos como Bathymodiolus, Vesicomyidae, e Provannidae; além de crustáceos, como Alvinocarididae e Kiwa.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref>  


== INFILTRAÇÕES FRIAS ==
== INFILTRAÇÕES FRIAS ==
As exsudações, infiltrações ou emanações frias (''cold seeps'') são ecossistemas de mar profundo comumente encontradas em margens continentais ativas e passivas tectonicamente,<ref>Levin, L. A. 2005. Ecology of cold seep sediments: interactions of fauna with flow, chemistry and microbes.Oceanography and Marine Biology: An Annual Review, 43, 1-46. </ref> e que podem inclusive estar associadas à hidrotermalismo.<ref>Levin, L. A.; Orphan, V. J.; Rouse, G. W.; Rathburn, A. E.; Ussler III, W.; Cook, G. S.; Goffredi, S. K.; et al. 2012. A hydrothermal seep on the Costa Rica margin: middle ground in a continuum of reducing ecosystems. Proceedings of the Royal Society, v. 279, p. 2580-2588. </ref> Com uma variedade grande de formas (precipitados de carbonatos autigênicos*, pockmarks*, montes de hidratos e vulcões lamosos)<ref>Boetius, A.; Wenzhöfer, F. 2013. Seafloor oxygen consumption fueled by methane from cold seeps. Nature Geoscience, v. 6, p. 725-734. </ref> as infiltrações frias emitem fluidos com uma mistura de gases, como metano (CH<sub>4</sub>), dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>), hidrogênio (H<sub>2</sub>) e sulfeto de hidrogênio (H<sub>2</sub>S).<ref>Levin, L. A.; Baco, A. R.; Bowden. D. A.; Colaco, A.; Cordes, E. E.; Cunha, M. R.; Demopoulos, A. W. J.; Gobin, J.; Grupe, B. M.; Le, J.; Metaxas, A.; Netbur, A. N.; Rouse, G. W.; Thurber, A. R.; Tinnicliffe, V.; Van Dover, C. L.; Venreusel, A.; Watling, L. 2016. Hydothermal vents and methane seeps: rethinking the sphere of influence. Forintiers in Marine Science, 3: 72. doi: 10.3389/fmars.2016.00072</ref>
As exsudações, infiltrações ou emanações frias (''cold seeps'') são ecossistemas de mar profundo comumente encontradas em margens continentais ativas e passivas tectonicamente,<ref>Levin, L. A. 2005. Ecology of cold seep sediments: interactions of fauna with flow, chemistry and microbes.Oceanography and Marine Biology: An Annual Review, 43, 1-46. </ref> e que podem inclusive estar associadas à hidrotermalismo.<ref>Levin, L. A.; Orphan, V. J.; Rouse, G. W.; Rathburn, A. E.; Ussler III, W.; Cook, G. S.; Goffredi, S. K.; et al. 2012. A hydrothermal seep on the Costa Rica margin: middle ground in a continuum of reducing ecosystems. Proceedings of the Royal Society, v. 279, p. 2580-2588. </ref> Com uma variedade grande de formas (precipitados de carbonatos <span style="color:blue" title="Carbonato produzido localmente, de origem biológica (biogênica), ou seja, pelos próprios organismos daquele local.">autigênicos</span>, <span style="color:blue" title="O nome dessa configuração de infiltração fria se refere à cicatriz na pele resultante da catapora, como uma depressão de formato circular (geralmente), no solo marinho.">pockmarks</span>, montes de hidratos e vulcões lamosos)<ref>Boetius, A.; Wenzhöfer, F. 2013. Seafloor oxygen consumption fueled by methane from cold seeps. Nature Geoscience, v. 6, p. 725-734. </ref> as infiltrações frias emitem fluidos com uma mistura de gases, como metano (CH<sub>4</sub>), dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>), hidrogênio (H<sub>2</sub>) e sulfeto de hidrogênio (H<sub>2</sub>S).<ref>Levin, L. A.; Baco, A. R.; Bowden. D. A.; Colaco, A.; Cordes, E. E.; Cunha, M. R.; Demopoulos, A. W. J.; Gobin, J.; Grupe, B. M.; Le, J.; Metaxas, A.; Netbur, A. N.; Rouse, G. W.; Thurber, A. R.; Tinnicliffe, V.; Van Dover, C. L.; Venreusel, A.; Watling, L. 2016. Hydothermal vents and methane seeps: rethinking the sphere of influence. Forintiers in Marine Science, 3: 72. doi: 10.3389/fmars.2016.00072</ref>


Elas são consideradas “frias” porque, comparadas às fontes hidrotermais, as temperaturas dos fluidos são mais baixas, além dessas emanações apresentarem velocidades menores. Entretanto, a temperatura da água das infiltrações frias são geralmente as mesmas das águas circundantes presentes no fundo do mar.<ref>Suess, E. Marine cold seeps and their manifestations: geological control, biogeochemical criteria and environmental conditions. Int J Earth Sci (Geol Rundsch) 103, 1889–1916 (2014). <nowiki>https://doi.org/10.1007/s00531-014-1010-0</nowiki></ref>
Elas são consideradas “frias” porque, comparadas às fontes hidrotermais, as temperaturas dos fluidos são mais baixas, além dessas emanações apresentarem velocidades menores. Entretanto, a temperatura da água das infiltrações frias são geralmente as mesmas das águas circundantes presentes no fundo do mar.<ref>Suess, E. Marine cold seeps and their manifestations: geological control, biogeochemical criteria and environmental conditions. Int J Earth Sci (Geol Rundsch) 103, 1889–1916 (2014). <nowiki>https://doi.org/10.1007/s00531-014-1010-0</nowiki></ref>
Linha 37: Linha 37:
Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de vertebrados,<ref>Tunnicliffe, V.; Juniper, S. K.; Sibuet, M. 2003. Reducing environments of the dee-sea floor. In: Tyler, P. A. (ed). Ecosystems of the World, v. 28. Ecosystems of the deep Oceans, pp. 81-110.</ref><ref>Bernardino, A. F.; Levin, L. A.; Thurber, A. R.; Smith, C. R. 2012. Comparative composition, diversity and trophic ecology of sediment macrofauna at vents, seeps and organic falls. PLoS ONE, v. 7: e33515.</ref> sendo as de baleias as mais estudadas até o momento.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref>
Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de vertebrados,<ref>Tunnicliffe, V.; Juniper, S. K.; Sibuet, M. 2003. Reducing environments of the dee-sea floor. In: Tyler, P. A. (ed). Ecosystems of the World, v. 28. Ecosystems of the deep Oceans, pp. 81-110.</ref><ref>Bernardino, A. F.; Levin, L. A.; Thurber, A. R.; Smith, C. R. 2012. Comparative composition, diversity and trophic ecology of sediment macrofauna at vents, seeps and organic falls. PLoS ONE, v. 7: e33515.</ref> sendo as de baleias as mais estudadas até o momento.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref>


Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas saprófagos* ou detritívoros* surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref>
Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas <span style="color:blue" title="Sinônimo de necrófagos, refere-se aos animais que se alimentam de grandes quantidades de material em decomposição">saprófagos</span> ou <span style="color:blue" title="Animais que possuem hábito alimentar não seletivo, que utiliza material morto e em decomposição, como fonte energética, auxiliando na ciclagem de nutrientes na natureza.">detritívoros</span> surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref>


O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref>
O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref>
Linha 45: Linha 45:
Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O<sub>2</sub>) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O<sub>2</sub> por L de água do mar.  
Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O<sub>2</sub>) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O<sub>2</sub> por L de água do mar.  


Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia*. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo.<ref>Levin, L. A. 2003. Oxygen Minimum Zone benthos: adaptation and community response to hypoxia. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 1-45. </ref>  
Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de <span style="color:blue" title="Condição físico-química na qual a concentração de oxigênio dissolvido na água é menor que 0,2 mL/L.">hipóxia</span>. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo.<ref>Levin, L. A. 2003. Oxygen Minimum Zone benthos: adaptation and community response to hypoxia. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 1-45. </ref>  


'''CORAIS DE MAR PROFUNDO'''
'''CORAIS DE MAR PROFUNDO'''
Linha 51: Linha 51:
Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi:  10.3389/fmars.2021.621151.</ref>  
Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi:  10.3389/fmars.2021.621151.</ref>  


Sendo os corais organismos suspensívoros*, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de zooxantelas*.<ref>Lim et al, 2020.</ref>
Sendo os corais organismos <span style="color:blue" title="Hábito alimentar não seletivo, no qual os organismos utilizam partículas orgânicas suspensas na água ao alcance de suas estruturas alimentares, por meio de filtração, captura ou aprisionamento. ">suspensívoros</span>, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de <span style="color:blue" title="Microalgas simbiontes de diversos organismos marinhos de ambientes recifais, como corais, tridacnas (moluscos)">zooxantelas</span>.<ref>Lim et al, 2020.</ref>


'''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS'''
'''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS'''
Linha 59: Linha 59:
Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref>
Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref>


Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies sésseis * ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (''hotspots'') no mar profundo.<ref>Rowden, A. A., Schlacher, T. A., Williams, A., Clark, M. R., Stewart, R., Althaus, F., … Dowdney, J. (2010). A test of the seamount oasis hypothesis: seamounts support higher epibenthic megafaunal biomass than adjacent slopes. Marine Ecology, 31, 95–106. doi:10.1111/j.1439-0485.2010.00369.x </ref>
Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies <span style="color:blue" title="Hábito de vida fixo do organismo adulto em algum tipo de substrato, sem movimentação ativa.">sésseis</span> ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (''hotspots'') no mar profundo.<ref>Rowden, A. A., Schlacher, T. A., Williams, A., Clark, M. R., Stewart, R., Althaus, F., … Dowdney, J. (2010). A test of the seamount oasis hypothesis: seamounts support higher epibenthic megafaunal biomass than adjacent slopes. Marine Ecology, 31, 95–106. doi:10.1111/j.1439-0485.2010.00369.x </ref>


No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras.  
No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras.  
Linha 76: Linha 76:
Removendo-se todos os ecossistemas de mar profundo mencionados anteriormente, ainda temos mais de 50% da superfície do planeta que não se enquadra em nenhuma de suas configurações, e sim como planícies abissais.  
Removendo-se todos os ecossistemas de mar profundo mencionados anteriormente, ainda temos mais de 50% da superfície do planeta que não se enquadra em nenhuma de suas configurações, e sim como planícies abissais.  


Presentes em todas as bacias oceânicas, elas são caracterizadas por pequenas variações de profundidade (considerando grandes escalas horizontais), as correntes de baixa velocidade e temperatura entre 0,5 e 3 °C fazem com que a biomassa da fauna encontrada nessas regiões seja baixa, apesar de altos índices de diversidade específica encontrados em algumas dessas planícies, devido à limitação de alimento32 (Paulus, 2021).
Presentes em todas as bacias oceânicas, elas são caracterizadas por pequenas variações de profundidade (considerando grandes escalas horizontais), as correntes de baixa velocidade e temperatura entre 0,5 e 3 °C fazem com que a biomassa da fauna encontrada nessas regiões seja baixa, apesar de altos índices de diversidade específica encontrados em algumas dessas planícies, devido à limitação de alimento.<ref>Paulus, 2021.</ref>


'''IMPACTOS ANTROPOGÊNICOS'''
'''IMPACTOS ANTROPOGÊNICOS'''


Mesmo a quilômetros de distância da superfície oceânica e, por tanto, dos humanos, praticamente todos os ecossistemas de mar profundo são afetados por atividades antropogênicas, seja de forma direta ou indireta33 (Ramirez-Llodra et al., 2011).
Mesmo a quilômetros de distância da superfície oceânica e, por tanto, dos humanos, praticamente todos os ecossistemas de mar profundo são afetados por atividades antropogênicas, seja de forma direta ou indireta.<ref>Ramirez-Llodra et al., 2011.</ref>


Como um primeiro exemplo, podemos citar o gás CH4, considerado importante fonte energética; apesar de contribuidor do efeito estufa34 (Badr et al., 1991), que pode ser encontrado em grandes quantidades em reservatórios de hidratos de gás, bem como infiltrações frias, junto de outros gases35 (Levin et al, 2016). Demais atividades de exploração, como de petróleo e gás, por exemplo, têm um poder imensurável de destruição do ambiente marinho. Basta lembrarmos dos acidentes com a plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México36 (Montseny et al, 2021), em 2010 ou com o navio Exxon-Valdez, na costa do Alasca, em 198937 (Barron, et al., 2020).
Como um primeiro exemplo, podemos citar o gás CH<sub>4</sub>, considerado importante fonte energética; apesar de contribuidor do efeito estufa,<ref>Badr, O. Probert, S. D.; O’Callaghan, P. W. O. 1991. Atmospheric methane: its contribution to global warmimg. Applied Energy, 40, 273-313.</ref> que pode ser encontrado em grandes quantidades em reservatórios de hidratos de gás, bem como infiltrações frias, junto de outros gases.<ref>Levin, L. A.; Baco, A. R.; Bowden. D. A.; Colaco, A.; Cordes, E. E.; Cunha, M. R.; Demopoulos, A. W. J.; Gobin, J.; Grupe, B. M.; Le, J.; Metaxas, A.; Netbur, A. N.; Rouse, G. W.; Thurber, A. R.; Tinnicliffe, V.; Van Dover, C. L.; Venreusel, A.; Watling, L. 2016. Hydothermal vents and methane seeps: rethinking the sphere of influence. Forintiers in Marine Science, 3: 72. doi: 10.3389/fmars.2016.00072</ref> Demais atividades de exploração, como de petróleo e gás, por exemplo, têm um poder imensurável de destruição do ambiente marinho. Basta lembrarmos dos acidentes com a plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México,<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi:  10.3389/fmars.2021.621151.</ref> em 2010 ou com o navio Exxon-Valdez, na costa do Alasca, em 1989.<ref>Barron, M. G.; Vivian, D. N.; Heintz, R. A.; Yim, U. H. 2020. Long-term ecological impacts from oil spills: comparison of Exxon Valdez, Hebei Spirit, and Deepwater Horizon. Environmental Science & Technology, 54, 6456-6467.</ref>


Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central)38 (Lodge et al., 2014), e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul38.5 (Montserrat et al., 2019), são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho39 (Jones et al, 2021). Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam40 (Magdalena et al., 2021).  
Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central),<ref>Lodge, M.; Johnson, D.; Le Gurun, G.; Wengler, M.; Weaver, P.; Gunn, V. 2014. Seabed mining: International Seabed Authority environmental management plan for the Clarion-Clipperton Zone. A partnership approach. Marine Policy, 49, 66-72. doi: 10.1016/j.marpol.2014.04.006</ref> e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul,<ref>Montserrat, F.; Guilhon, M.; Corrêa, P. V. F.; Bergo, N. M.; Signori, C. N.; Tura, P. M.; Maly, M. de los S.; Moura, D.; Jovane, L.; Pellizari, V.; Sumida, P. Y. G.; Brandini, F. P.; Turra, A. 2019. Deep-sea mining on the rio Grande Rise (Southewestern Atlantic): a review on environmental baseline, ecosystem services and potential impacts. Deep-Sea Research I, 45, p. 31-58. </ref> são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho.<ref>Jones, D. O. B.; Simon-Llédo, E.; Amon, D. J.; Bett, B. J.; Caulle, C.; Clément, L.; Connelly, D. P.; Dahlgren, T. G.; Durden, J. M.; Drazen, J. G.; Felden, J.; Gates, A. R.; Georgieva, M. N.; Glover, A. G.; Gooday, A. J.; Hollingsworth, A. L.; Horton, T.; James, R. H.; Jeffreys, R. M.; Laguionie-Marchais, C.; Leitner, A. B.; Lichtschlag, A.; Menendez, A.; Paterson, G. L. J.; Peel, K.; Robert, K.; Schoening, T.; Shulga, N. A.; Smith, C. R.; Taboada, A.; Thurnerr, A. M.; Wiklund, H.; Young, C. R.; Huvenne, V. A. I. 2021. Environemnte, ecology and potential effectiveness of an area protected from deep-sea mining (Clarion Clipperton Zone, abyssal Pacific). Progress in Oceanography, 197: 102653</ref> Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref>


Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente41 (Pusceddu et al., 2014), além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do bycatch*.
Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente,<ref>Pusceddu, A.; Bianchelli, S.; Martín, J.; Puig, P.; Palanques, A.; Masqué, P.; Danovaro, R. 2014. Chronic and intensive bottom trawling impairs deep-sea biodiversity and ecosystem functioning. PNAS, 111, n. 24, 8861-8866.</ref> além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do <span style="color:blue" title="Todo o material vivo coletado ou pescado junto de uma espécie-alvo, e que é descartado por não ter interesse comercial.">bycatch</span>.


Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos42 (Jamieson et al., 2019).
Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos.<ref>Jamieson A. J.,  Brooks L. S. R.,  Reid W. D. K.,  Piertney S. B.,  Narayanaswamy B. E. and  Linley T. D.  2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 <nowiki>http://doi.org/10.1098/rsos.180667</nowiki></ref>


Apesar de termos alguma ideia do que ocorre nos ecossistemas de mar profundo, a dificuldade de acesso a estes locais dificultam muito a aquisição de informações sobre os seres que neles habitam. Existem indícios de que muitas espécies já foram extintas nesses ambientes por atividades antropogênicas, entretanto nunca saberemos de fato, quais ou quantas43 (Bastian, 2020).  
Apesar de termos alguma ideia do que ocorre nos ecossistemas de mar profundo, a dificuldade de acesso a estes locais dificultam muito a aquisição de informações sobre os seres que neles habitam. Existem indícios de que muitas espécies já foram extintas nesses ambientes por atividades antropogênicas, entretanto nunca saberemos de fato, quais ou quantas.<ref>Bastian, Michelle; Whale Falls, Suspended Ground, and Extinctions Never Known. Environmental Humanities 1 November 2020; 12 (2): 454–474. doi: <nowiki>https://doi.org/10.1215/22011919-8623219</nowiki></ref>


Para existir a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas do fundo do mar são necessárias a formação e comprometimento de uma agenda internacional, além do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas avançadas44 (Feng et al., 2022).
Para existir a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas do fundo do mar são necessárias a formação e comprometimento de uma agenda internacional, além do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas avançadas.<ref>Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016</nowiki></ref>


Por conta disso, é essencial que a gestão e demais atividades humanas, como prospecção e exploração, sejam realizadas com base em uma Abordagem de Precaução45 (Kumar, 2018; Smith, 2019), respeitando-se as práticas científicas adequadas e já estabelecidas, para minimização dos impactos46 (Ramirez-Llodra et al., 2011).
Por conta disso, é essencial que a gestão e demais atividades humanas, como prospecção e exploração, sejam realizadas com base em uma Abordagem de Precaução,<ref>Kumar, S. S. Extreme Environments: The Science behind the Scenes. CRC Press. 2018.</ref> respeitando-se as práticas científicas adequadas e já estabelecidas, para minimização dos impactos.<ref>Ramirez-Llodra et al., 2011.</ref>
[[category: Biodiversidade]]

Edição atual tal como às 12h25min de 14 de junho de 2023

A zona Epipelágica corresponde à primeira camada da coluna d’água, que vai da superfície dos oceanos até cerca de 200 metros de profundidade, que é zona que recebe incidência solar, e consequentemente onde ocorre a maior parte da fotossíntese (produtividade primária pelo fitoplâncton).

Abaixo disso, existe o que se conhece como Mar Profundo, que constitui o maior ecossistema do planeta,[1] com cerca de 326 milhões de km2.[2]

O mar profundo pode ser dividido em diferentes zonas, baseado em diversos aspectos oceanográficos, como profundidade e pressão, temperatura e salinidade.[3]

Entre essas zonas, temos:

  • Zona Mesopelágica: usualmente e estende desde os 200 m até os 1000 m de profundidade, recebendo pouca da incidência solar, devido ao fenômeno de absorção da luz ao longo das primeiras centenas de metros da coluna d’água, devido às partículas orgânicas e inorgânicas existentes;
  • Zona Batipelágica: a partir dos 1000 m, se estende até os 2000 m de profundidade, já completamente escura e fria, e com pressão elevada;
  • Zona Abissal: ocorre entre 2000 m e 6000 m de profundidade;
  • Zona Hadal: camada mais profunda do oceano, que pode chegar até 11000 m (Fossa das Marianas, no Pacífico Oeste), e consequentemente com pressões extremas.

Outra característica muito importante das maiores profundidades, é que, diferentemente das regiões mais próximas do continente, e consequentemente mais rasas, o mar profundo é considerado um ambiente oligotrófico, com chegadas esporádicas de alimento.

ECOLOGIA DE MAR PROFUNDO

Como dito anteriormente, o ambiente de mar profundo é caracterizado por altas pressões, temperaturas extremas, falta de luz, e escassez de nutrientes/alimento.[4] E mesmo com toda sua imensidão, especula-se que se conheça apenas 2% da fauna marinha a partir de 500 metros, de acordo com o Ocean Biogeographic Information System (OBIS),[5] justamente pela dificuldade de se chegar nesses ambientes.

Entretanto, estudos recentes demonstram a existência de alguns ecossistemas típicos de águas profundas,[6] tratadas a seguir:

FONTES HIDROTERMAIS

As fontes hidrotermais são mais comumente encontradas em fundos marinhos formados por crosta oceânica recente, em regiões ativas tectonicamente, pelos quais ocorre a saída de fluidos em altas temperaturas (até ~ 400 °C) e ricos em minerais, como sulfetos e metais. As baixas concentrações de oxigênio desses fluidos favorece o crescimento de uma fauna baseada na quimiossíntese, com diversos organismos típicos desses habitats dependendo da relação com microorganismos simbiontes.[7]

Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas,[8] sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente.[9]

Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO2) em compostos orgânicos,[10] servindo como base da cadeia alimentar quimiossintética, por meio de ecto ou endossimbiose com diversas espécies endêmicas. Entre os organismos dessa fauna encontram-se: poliquetas tubulares da família Siboglinidae, moluscos como Bathymodiolus, Vesicomyidae, e Provannidae; além de crustáceos, como Alvinocarididae e Kiwa.[11]

INFILTRAÇÕES FRIAS

As exsudações, infiltrações ou emanações frias (cold seeps) são ecossistemas de mar profundo comumente encontradas em margens continentais ativas e passivas tectonicamente,[12] e que podem inclusive estar associadas à hidrotermalismo.[13] Com uma variedade grande de formas (precipitados de carbonatos autigênicos, pockmarks, montes de hidratos e vulcões lamosos)[14] as infiltrações frias emitem fluidos com uma mistura de gases, como metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), hidrogênio (H2) e sulfeto de hidrogênio (H2S).[15]

Elas são consideradas “frias” porque, comparadas às fontes hidrotermais, as temperaturas dos fluidos são mais baixas, além dessas emanações apresentarem velocidades menores. Entretanto, a temperatura da água das infiltrações frias são geralmente as mesmas das águas circundantes presentes no fundo do mar.[16]

Semelhante às fontes hidrotermais, a fauna desses ecossistemas depende de microorganismos quimiossintéticos, que representam a principal fonte de alimento para organismos maiores. Outra característica interessante é que a intensidade e composição do fluxo desses fluidos vai determinar o tipo de comunidade dominante, sejam de tapetes microbianos (bactérias Beggiatoa sp., em infiltrações mais ativas e ricas em metano) ou moluscos (relacionados a ambientes menos ativos).[17]

GRANDES QUEDAS ORGÂNICAS

Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de vertebrados,[18][19] sendo as de baleias as mais estudadas até o momento.[20]

Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas saprófagos ou detritívoros surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.[21]

O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais.[22]

ZONAS DE OXIGÊNIO MÍNIMO

Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O2) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O2 por L de água do mar.

Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo.[23]

CORAIS DE MAR PROFUNDO

Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.[24]

Sendo os corais organismos suspensívoros, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de zooxantelas.[25]

MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS

Montes submarinos são definidos como qualquer elevação isolada com uma altura vertical superior a 100 m. Ou seja, na prática esses montes são verdadeiras montanhas que possuem sua base no fundo dos oceanos e cujos picos ainda permanecem submersos, sendo muitos deles vulcões submarinos extintos.[26]

Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.[27] Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.[28]

Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies sésseis ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica.[29] Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (hotspots) no mar profundo.[30]

No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,[31] como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras.

TRINCHEIRAS OU FOSSAS OCEÂNICAS

Trincheira oceânica, também conhecida como fossa, é uma depressão longa, estreita e geralmente com maior profundidade que o terreno no seu entorno. As fossas oceânicas representam os lugares mais profundos da superfície terrestre, podendo atingir até aproximadamente os 11 km abaixo do nível do mar, como na fossa das Marianas com 10.920 metros de profundidade abaixo,[32] ou seja, já dentro da zona Hadal.

As fossas oceânicas são formadas pela convergência de duas placas tectônicas, que ficam uma sobre a outra. Assim, elas não são necessariamente fendas verticais, mas assimétricas, com um declive suave em direção ao centro da Terra.[33]

Ao contrário do que se pode pensar a princípio, as fossas oceânicas não são inabitadas. Suas baixas temperaturas não diferem das temperaturas comumente encontradas no mar profundo, bem como as concentrações de oxigênio dissolvido. Dessa maneira, a pressão extremamente alta é o verdadeiro aspecto físico que molda a vida nesses ambientes, bem como a baixa disponibilidade de alimento.[34] Dito isso, grandes depósitos de sedimentos ricos em matéria orgânica oriundos da superfície dos oceanos já foram encontrados nas fossas oceânicas.[35]

Somente em 1901, pesquisadores encontraram pela primeira vez diversas espécies de metazoários, incluindo echiúros, equinodermes (Asteroidea, Ophiuroidea), e alguns peixes observados a 6.035 m de profundidade na Trincheira de Moseley.[36] Dado sua profundidade extrema, poucos estudos são realizados para compreender melhor os ecossistemas das trincheiras oceânicas, quando comparados ao estudo de ecossistemas oceânicos mais superficiais. Entretanto, recentemente vêm se demonstrando algumas adaptações morfológicas e fisiológicas dos organismos que vivem nesses ambientes. Por exemplo, para sobreviver à alta pressão, os peixes caracóis (família Liparidae) exibem altos volumes de tecidos gelatinosos, músculos aquosos, pele e escamas transparentes e finas, esqueleto não completamente calcificado, bem como crânio não fechado. Além disso, estes peixes possuem fortes maxilares e estômagos que inflam, possivelmente para aumentar sua capacidade de predação de crustáceos anfípodes, também encontrados nessas profundidades.[37]

PLANÍCIES ABISSAIS

Removendo-se todos os ecossistemas de mar profundo mencionados anteriormente, ainda temos mais de 50% da superfície do planeta que não se enquadra em nenhuma de suas configurações, e sim como planícies abissais.

Presentes em todas as bacias oceânicas, elas são caracterizadas por pequenas variações de profundidade (considerando grandes escalas horizontais), as correntes de baixa velocidade e temperatura entre 0,5 e 3 °C fazem com que a biomassa da fauna encontrada nessas regiões seja baixa, apesar de altos índices de diversidade específica encontrados em algumas dessas planícies, devido à limitação de alimento.[38]

IMPACTOS ANTROPOGÊNICOS

Mesmo a quilômetros de distância da superfície oceânica e, por tanto, dos humanos, praticamente todos os ecossistemas de mar profundo são afetados por atividades antropogênicas, seja de forma direta ou indireta.[39]

Como um primeiro exemplo, podemos citar o gás CH4, considerado importante fonte energética; apesar de contribuidor do efeito estufa,[40] que pode ser encontrado em grandes quantidades em reservatórios de hidratos de gás, bem como infiltrações frias, junto de outros gases.[41] Demais atividades de exploração, como de petróleo e gás, por exemplo, têm um poder imensurável de destruição do ambiente marinho. Basta lembrarmos dos acidentes com a plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México,[42] em 2010 ou com o navio Exxon-Valdez, na costa do Alasca, em 1989.[43]

Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central),[44] e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul,[45] são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho.[46] Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam.[47]

Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente,[48] além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do bycatch.

Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos.[49]

Apesar de termos alguma ideia do que ocorre nos ecossistemas de mar profundo, a dificuldade de acesso a estes locais dificultam muito a aquisição de informações sobre os seres que neles habitam. Existem indícios de que muitas espécies já foram extintas nesses ambientes por atividades antropogênicas, entretanto nunca saberemos de fato, quais ou quantas.[50]

Para existir a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas do fundo do mar são necessárias a formação e comprometimento de uma agenda internacional, além do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas avançadas.[51]

Por conta disso, é essencial que a gestão e demais atividades humanas, como prospecção e exploração, sejam realizadas com base em uma Abordagem de Precaução,[52] respeitando-se as práticas científicas adequadas e já estabelecidas, para minimização dos impactos.[53]

  1. Ramirez-Llodra, E.; Tyler, P. A.; Baker, M. C.; Bergstad, O. A.; Clark, M. P.; Escobar, E.; Levin, L. A.; Menot, L.; Rowden, A. A.; Smith, C. R.; Van Dover, C. L. 2021. Man and the last great wilderness: human impact on the deep-sea. PLoS One 6(7): e22588. doi: 10.1371/journal.pone.0022588
  2. Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016
  3. Paulus, 2021.
  4. Snelgrove, P. V. R.; Grassle, J. F. 2019. Deep-sea fauna. In: Steele, J. H. (Ed). Encylopedia of Oceans Sciences (3rd ed). Academic Press, pp. 706-714.
  5. Levin et al., 2019.
  6. Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016
  7. Van Dover, C. L.; German, C. R.; Speer, K. G.; Parson, L. M.; Vrjenhoek, R. C. 2002. Evolution and biogeography of deep-sea vent and seep invertebrates. Science, v. 298, p. 1253-1257.
  8. German, C. R.; Von Damm, K. L. 2004. Hydrothermal processes. In: Holland, H. D.; Turekian, K. K.; Elderfield, H. (Eds). Treatise on geochemistry, vol. 6. The oceans and marine geochemistry. Oxford, UK. Elsevier-Pergamon, pp. 181-222.
  9. Hannington, M. D.; Jonasson, I. R.; Herzig, P. M.; Petersen, S. 1995. Physical and chemical processes of seafloor mineralization at Mid-Ocean Ridges. In: Humphris, S. E.; Zierenberg, R. A.; Mullineaux, L. S.; Thomson, R. E. (Eds). Seafloor hydrothermal systems: physical, chemical, biological, and geological interactions.Geophysical Monograph, 91. American Geophysical Union: Washington, DC, pp. 115-157.
  10. Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602.
  11. Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602.
  12. Levin, L. A. 2005. Ecology of cold seep sediments: interactions of fauna with flow, chemistry and microbes.Oceanography and Marine Biology: An Annual Review, 43, 1-46.
  13. Levin, L. A.; Orphan, V. J.; Rouse, G. W.; Rathburn, A. E.; Ussler III, W.; Cook, G. S.; Goffredi, S. K.; et al. 2012. A hydrothermal seep on the Costa Rica margin: middle ground in a continuum of reducing ecosystems. Proceedings of the Royal Society, v. 279, p. 2580-2588.
  14. Boetius, A.; Wenzhöfer, F. 2013. Seafloor oxygen consumption fueled by methane from cold seeps. Nature Geoscience, v. 6, p. 725-734.
  15. Levin, L. A.; Baco, A. R.; Bowden. D. A.; Colaco, A.; Cordes, E. E.; Cunha, M. R.; Demopoulos, A. W. J.; Gobin, J.; Grupe, B. M.; Le, J.; Metaxas, A.; Netbur, A. N.; Rouse, G. W.; Thurber, A. R.; Tinnicliffe, V.; Van Dover, C. L.; Venreusel, A.; Watling, L. 2016. Hydothermal vents and methane seeps: rethinking the sphere of influence. Forintiers in Marine Science, 3: 72. doi: 10.3389/fmars.2016.00072
  16. Suess, E. Marine cold seeps and their manifestations: geological control, biogeochemical criteria and environmental conditions. Int J Earth Sci (Geol Rundsch) 103, 1889–1916 (2014). https://doi.org/10.1007/s00531-014-1010-0
  17. Martin, R. A.; Nesbitt, E. A.; Campbell, K. A. 2007. Carbon stable isotopic composition of benthic foraminifera fromPliocene cold methane seeps, Cascadia accretionary margin. Palaeogeograpgy, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 246, p. 260-277.
  18. Tunnicliffe, V.; Juniper, S. K.; Sibuet, M. 2003. Reducing environments of the dee-sea floor. In: Tyler, P. A. (ed). Ecosystems of the World, v. 28. Ecosystems of the deep Oceans, pp. 81-110.
  19. Bernardino, A. F.; Levin, L. A.; Thurber, A. R.; Smith, C. R. 2012. Comparative composition, diversity and trophic ecology of sediment macrofauna at vents, seeps and organic falls. PLoS ONE, v. 7: e33515.
  20. Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.
  21. Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. https://doi. org/10.34133/olar.0005.
  22. Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.
  23. Levin, L. A. 2003. Oxygen Minimum Zone benthos: adaptation and community response to hypoxia. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 1-45.
  24. Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi:  10.3389/fmars.2021.621151.
  25. Lim et al, 2020.
  26. Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086.
  27. Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.
  28. Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086.
  29. Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.
  30. Rowden, A. A., Schlacher, T. A., Williams, A., Clark, M. R., Stewart, R., Althaus, F., … Dowdney, J. (2010). A test of the seamount oasis hypothesis: seamounts support higher epibenthic megafaunal biomass than adjacent slopes. Marine Ecology, 31, 95–106. doi:10.1111/j.1439-0485.2010.00369.x
  31. Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.
  32. Stern, R. J. (2021) Ocean Trenches. In: Alderton, David; Elias, Scott A. (eds.) Encyclopedia of Geology, 2nd edition. vol. 3, pp. 845-854. United Kingdom: Academic Press. dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-102908-4.00099-0.
  33. Stern, R. J. (2021) Ocean Trenches. In: Alderton, David; Elias, Scott A. (eds.) Encyclopedia of Geology, 2nd edition. vol. 3, pp. 845-854. United Kingdom: Academic Press. dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-102908-4.00099-0.
  34. Jamieson, A. J.; Fujii, T.; Mayor, D. J.; Solan, M.; Priede, I. G. 2010. Hadal trenches: the ecology of the deepest places on Earth. Trends in Ecology and Evolution – Review, 25, n. 3, pp. 190-197.
  35. Du, M., Peng, X., Zhang, H., Ye, C., Dasgupta, S., Li, J., … Ta, K. (2021). Geology, environment, and life in the deepest part of the world’s oceans. The Innovation, 2(2), 100109. doi:10.1016/j.xinn.2021.100109.
  36. Du, M., Peng, X., Zhang, H., Ye, C., Dasgupta, S., Li, J., … Ta, K. (2021). Geology, environment, and life in the deepest part of the world’s oceans. The Innovation, 2(2), 100109. doi:10.1016/j.xinn.2021.100109.
  37. Jamieson A. J.,  Brooks L. S. R.,  Reid W. D. K.,  Piertney S. B.,  Narayanaswamy B. E. and  Linley T. D.  2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 http://doi.org/10.1098/rsos.180667.
  38. Paulus, 2021.
  39. Ramirez-Llodra et al., 2011.
  40. Badr, O. Probert, S. D.; O’Callaghan, P. W. O. 1991. Atmospheric methane: its contribution to global warmimg. Applied Energy, 40, 273-313.
  41. Levin, L. A.; Baco, A. R.; Bowden. D. A.; Colaco, A.; Cordes, E. E.; Cunha, M. R.; Demopoulos, A. W. J.; Gobin, J.; Grupe, B. M.; Le, J.; Metaxas, A.; Netbur, A. N.; Rouse, G. W.; Thurber, A. R.; Tinnicliffe, V.; Van Dover, C. L.; Venreusel, A.; Watling, L. 2016. Hydothermal vents and methane seeps: rethinking the sphere of influence. Forintiers in Marine Science, 3: 72. doi: 10.3389/fmars.2016.00072
  42. Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi:  10.3389/fmars.2021.621151.
  43. Barron, M. G.; Vivian, D. N.; Heintz, R. A.; Yim, U. H. 2020. Long-term ecological impacts from oil spills: comparison of Exxon Valdez, Hebei Spirit, and Deepwater Horizon. Environmental Science & Technology, 54, 6456-6467.
  44. Lodge, M.; Johnson, D.; Le Gurun, G.; Wengler, M.; Weaver, P.; Gunn, V. 2014. Seabed mining: International Seabed Authority environmental management plan for the Clarion-Clipperton Zone. A partnership approach. Marine Policy, 49, 66-72. doi: 10.1016/j.marpol.2014.04.006
  45. Montserrat, F.; Guilhon, M.; Corrêa, P. V. F.; Bergo, N. M.; Signori, C. N.; Tura, P. M.; Maly, M. de los S.; Moura, D.; Jovane, L.; Pellizari, V.; Sumida, P. Y. G.; Brandini, F. P.; Turra, A. 2019. Deep-sea mining on the rio Grande Rise (Southewestern Atlantic): a review on environmental baseline, ecosystem services and potential impacts. Deep-Sea Research I, 45, p. 31-58.
  46. Jones, D. O. B.; Simon-Llédo, E.; Amon, D. J.; Bett, B. J.; Caulle, C.; Clément, L.; Connelly, D. P.; Dahlgren, T. G.; Durden, J. M.; Drazen, J. G.; Felden, J.; Gates, A. R.; Georgieva, M. N.; Glover, A. G.; Gooday, A. J.; Hollingsworth, A. L.; Horton, T.; James, R. H.; Jeffreys, R. M.; Laguionie-Marchais, C.; Leitner, A. B.; Lichtschlag, A.; Menendez, A.; Paterson, G. L. J.; Peel, K.; Robert, K.; Schoening, T.; Shulga, N. A.; Smith, C. R.; Taboada, A.; Thurnerr, A. M.; Wiklund, H.; Young, C. R.; Huvenne, V. A. I. 2021. Environemnte, ecology and potential effectiveness of an area protected from deep-sea mining (Clarion Clipperton Zone, abyssal Pacific). Progress in Oceanography, 197: 102653
  47. Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602.
  48. Pusceddu, A.; Bianchelli, S.; Martín, J.; Puig, P.; Palanques, A.; Masqué, P.; Danovaro, R. 2014. Chronic and intensive bottom trawling impairs deep-sea biodiversity and ecosystem functioning. PNAS, 111, n. 24, 8861-8866.
  49. Jamieson A. J.,  Brooks L. S. R.,  Reid W. D. K.,  Piertney S. B.,  Narayanaswamy B. E. and  Linley T. D.  2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 http://doi.org/10.1098/rsos.180667
  50. Bastian, Michelle; Whale Falls, Suspended Ground, and Extinctions Never Known. Environmental Humanities 1 November 2020; 12 (2): 454–474. doi: https://doi.org/10.1215/22011919-8623219
  51. Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016
  52. Kumar, S. S. Extreme Environments: The Science behind the Scenes. CRC Press. 2018.
  53. Ramirez-Llodra et al., 2011.