Mudanças entre as edições de "Ambiente pelágico"
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Outros impactos antropogênicos indiretos, como as mudanças climáticas e os lixos jogados ao mar, também ameaçam a vida marinha. Os resíduos plásticos representam o principal tipo de lixo jogado ao mar. Existem cerca de 150 milhões de toneladas de plástico nos oceanos e estimativas apontam que, até 2050, haverá mais plástico do que peixe nos mares (em peso).<ref>World Economic Forum, Ellen MacArthur Foundation and McKinsey & Company. 2016. "The New Plastic Economy — Rethinking the future of plastics<nowiki>''</nowiki>. </ref> | Outros impactos antropogênicos indiretos, como as mudanças climáticas e os lixos jogados ao mar, também ameaçam a vida marinha. Os resíduos plásticos representam o principal tipo de lixo jogado ao mar. Existem cerca de 150 milhões de toneladas de plástico nos oceanos e estimativas apontam que, até 2050, haverá mais plástico do que peixe nos mares (em peso).<ref>World Economic Forum, Ellen MacArthur Foundation and McKinsey & Company. 2016. "The New Plastic Economy — Rethinking the future of plastics<nowiki>''</nowiki>. </ref> | ||
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Edição atual tal como às 10h26min de 14 de junho de 2023
O ambiente pelágico, também conhecido como zona ou domínio pelágico, representa todo ecossistema que abrange a coluna d’água nos mares e oceanos.[1] Localizada entre os ambientes de transição costeiros, abaixo da zona das marés até os ambientes bentônicos, é o habitat dos seres que não dependem dos fundos marinhos, como os peixes, tubarões, baleias e plânctons.
Em relação ao distanciamento da costa, o ambiente pelágico é dividido entre o Nerítico, que abrange do litoral até o sublitoral e Oceânico, a partir das profundidades batiais, a cerca de 200 m. De forma geral, o ambiente pelágico pode ser dividido em duas regiões principais: fótica e afótica, em relação à penetração da luz solar na água, sendo essa última subdividida em demais zonas.
A região fótica corresponde à camada superficial dos oceanos, até a profundidade em que ainda há incidência solar. Essa profundidade é variável, pois em regiões costeiras a quantidade de material em suspensão na coluna d’água dificulta que os raios solares ultrapassem os 30 m, geralmente. Enquanto em áreas oceânicas claras é possível que o comprimento de onda referente à luz azul atinja até os 150 m de profundidade[2], possivelmente até os 200 m. É nessa região que habitam a maior quantidade e diversidade de organismos pelágicos, sejam eles do plâncton ou do nécton. Isso ocorre devido à maior presença de organismos fotossintetizantes, que produzem seu próprio alimento, e servem de base da cadeia alimentar marinha.
Já a região afótica compõe a maior parte do oceano[3], e depende quase que exclusivamente do que é produzido na camada fótica, e pode ser subdividida em diferentes zonas, de acordo com a profundidade, sendo elas:
- Zona Epipelágica corresponde à primeira camada da coluna d’água, que vai da superfície dos oceanos até cerca de 200 metros de profundidade, que é zona que recebe incidência solar, e consequentemente onde ocorre a maior parte da fotossíntese (produtividade primária pelo fitoplâncton);
- Zona Mesopelágica: usualmente e estende desde os 200 m até os 1000 m de profundidade, recebendo pouca da incidência solar, devido ao fenômeno de absorção da luz ao longo das primeiras centenas de metros da coluna d’água, devido às partículas orgânicas e inorgânicas existentes;
- Zona Batipelágica: a partir dos 1000 m, se estende até os 2000 m de profundidade, já completamente escura e fria, e com pressão elevada;
- Zona Abissal: ocorre entre 2000 m e 6000 m de profundidade;
- Zona Hadal: camada mais profunda do oceano, que pode chegar até 11000 m (Fossa das Marianas, no Pacífico Oeste), e consequentemente com pressões extremas.
ORGANISMOS DO AMBIENTE PELÁGICO
As comunidades biológicas que podem ser encontradas no ambiente pelágico são divididas entre o plâncton e o nécton.
O plâncton se refere a todos os organismos que não possuem capacidade natatória, sendo carregados pelas correntes marinhas. No plâncton existem diferentes categorias de organismos, divididos em escalas de tamanho que vão desde o fitoplâncton – de 0,02 a 0,2 micrômetros), passa por picoplâncton (0,2 a 2,0 micrômetros), nanoplâncton (2,0 a 20 micrômetros) microplâncton (20 a 200 micrômetros), mesoplâncton (0,2 a 20 milímetros), macroplâncton (2 a 20 centímetros), e por último megaplâncton (de 20 a 200 centímetros). Além disso, também são classificados, baseada em sua natureza biológica, sendo eles:
- Fitoplâncton: microalgas unicelulares que são responsáveis por cerca de 45% da produção primária global, e inclui diatomáceas, cocolitoforídeos, dinoflagelados;
- Zooplâncton: primeiros consumidores do fitoplâncton[4], são pequenos organismos, como protistas (unicelulares), como os foraminíferos (XX), e representantes de diversos filos de animais marinhos, que vão desde pequenos crustáceos (copépodes) até grandes águas vivas;
- Bacterioplâncton: parcela do plâncton composta por bactérias; auxiliam na ciclagem de nutrientes na coluna d’água, como, por exemplo, cianobactérias.[5]
Também existe a divisão entre holoplâncton (que passa sua vida inteira no plâncton) e meroplâncton (que passa somente parte da sua vida, geralmente a fase larval).[6]
Diferentemente do plâncton, o nécton representa um grupo de organismos que se deslocam ativamente por todo o oceano, ou seja, tem capacidade de locomoção por natação. Neste grupo estão incluídos uma enorme diversidade de animais como o krill, peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis, e aves. Os peixes herbívoros e baleias são considerados os consumidores secundários mais importantes dos organismos nectônicos e possuem sua alimentação baseada no consumo dos plânctons. Já os tubarões, peixes carnívoros e lulas estão situados nos níveis tróficos mais superiores. Dentre os répteis nectônicos, as tartarugas são os principais animais do grupo e muitas vezes são tidos como espécies guarda-chuva por atraírem investimentos financeiros para a proteção de vários ecossistemas marinhos como um todo. [7]
CORRENTES MARINHAS
As correntes marinhas são um complexo sistema de grandes corpos d’água no oceano, que se movimentam devido a diferentes fatores, como a rotação do planeta, que influencia na direção dos ventos, no caso das correntes superficiais; à densidade (dependente da temperatura e salinidade) e o formato das bacias oceânicas, no caso das correntes de fundo e massas d’água.
Seus movimentos são descritos em padrões previsíveis e carregam os plânctons por rotas conhecidas. Dessa forma, as correntes marinhas participam, mesmo que indiretamente, da distribuição da vida marinha dos oceanos, uma vez que muitos consumidores secundários seguirão as correntes marinhas em busca de alimento, e assim farão também os consumidores de níveis tróficos superiores.[8]
As correntes marinhas são movimentos contínuos de água no oceano, que desempenham um papel crucial na circulação global dos mares. Essas correntes são influenciadas por diversos fatores, como a temperatura da água, a forma e a topografia do fundo oceânico, os ventos e a rotação da Terra.
Existem diferentes tipos de correntes marinhas, cada uma com características distintas. As correntes quentes, por exemplo, são aquelas que se originam em áreas de baixa latitude, onde o clima é mais quente. Elas transportam águas quentes em direção a regiões de latitudes mais altas, influenciando o clima dessas regiões e fornecendo calor para as massas de ar que passam sobre elas. Um exemplo de corrente quente é a Corrente do Golfo, que flui do Golfo do México em direção ao Atlântico Norte, aquecendo as áreas costeiras da Europa Ocidental. Outro exemplo é a Corrente do Brasil, que é uma corrente quente que flui ao longo da costa brasileira, em direção ao norte.
Por outro lado, existem também as correntes frias, que se originam em regiões de alta latitude ou em áreas próximas aos polos. Essas correntes transportam águas frias em direção a áreas de baixa latitude, exercendo influência sobre o clima e a vida marinha dessas regiões. A Corrente de Humboldt, ao longo da costa oeste da América do Sul, é um exemplo de corrente fria que contribui para o clima temperado e a rica biodiversidade marinha da região.
Além das correntes quentes e frias, existem as correntes de deriva, também conhecidas como correntes oceânicas superficiais. Elas são influenciadas principalmente pelos ventos e pela rotação da Terra. Essas correntes tendem a seguir trajetórias circulares ou elípticas, formando grandes giros oceânicos conhecidos como giros subtropicais. Um exemplo notável é o Giro do Atlântico Norte, onde as águas circulam no sentido horário, criando um padrão característico.
As correntes marinhas desempenham um papel fundamental na distribuição de nutrientes e organismos marinhos ao redor do mundo. Elas também têm um impacto significativo no transporte marítimo, na navegação e na pesca. Além disso, as correntes podem influenciar o clima local e global, pois ajudam a transferir calor dos trópicos para as regiões polares, regulando as temperaturas e os padrões climáticos.
Os estudos sobre as correntes marinhas são fundamentais para compreendermos melhor o funcionamento dos oceanos e prevermos mudanças climáticas e eventos extremos. Satélites, boias e instrumentos de medição no oceano são utilizados para monitorar e mapear essas correntes, fornecendo informações valiosas para cientistas e pesquisadores.
Em suma, as correntes marinhas desempenham um papel vital na dinâmica do oceano e no equilíbrio climático global. Sua compreensão é essencial para a preservação dos ecossistemas marinhos, a previsão do clima e o desenvolvimento sustentável das atividades humanas relacionadas aos oceanos.
IMPACTOS ANTROPOGÊNICOS
Os impactos causados pelos seres humanos nos ambientes pelágicos são inúmeros. A sobrepesca, por exemplo, é uma das principais atividades que ameaçam a vida marinha. Estimativas apontam que anualmente, mais de 35 milhões de toneladas de peixes, tartarugas, tubarões e polvos são capturadas "acidentalmente" pela pesca de arrasto, fenômeno conhecido como bycatch.[9] Além disso, todos os anos a sobrepesca vem reduzindo também a quantidade de baleias ao redor do mundo, afetando não só os ambientes pelágicos, mas também outros ecossistemas.[10]
Outros impactos antropogênicos indiretos, como as mudanças climáticas e os lixos jogados ao mar, também ameaçam a vida marinha. Os resíduos plásticos representam o principal tipo de lixo jogado ao mar. Existem cerca de 150 milhões de toneladas de plástico nos oceanos e estimativas apontam que, até 2050, haverá mais plástico do que peixe nos mares (em peso).[11]
- ↑ Lalli, C. M.; Parsons, T. R. 2006. Biological Oceanography – An Introduction (2nd ed). Elsevier Butterwoth-Heinemann.
- ↑ Soares-Gomes, A.; Figueiredo, A. G. 2009. O ambiente marinho. In: Pereira, R. C.; Soares-Gomes, A. Biologia Marinha (2ª ed). Editora Interciência: Rio de Janeiro, p. 1-34.
- ↑ Gerling et al. Manual de ecossistemas: marinhos e costeiros para educadores. Santos, SP: Editora Comunnicar, 2016. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/ManualEcossistemasMarinhoseCost eiros3.pdf.
- ↑ Brierley, A. S. 2017. Plankton. Current Biology, 27, R431-R510.
- ↑ Pommier, T. 2011. Bacterioplankton. In: Reitner, J., Thiel, V. (Eds) Encyclopedia of Geobiology. Encyclopedia of Earth Sciences Series. Springer, Dordrecht. https://doi.org/10.1007/978-1-4020-9212-1_18
- ↑ Brierley, A. S. 2017. Plankton. Current Biology, 27, R431-R510.
- ↑ Lopes, R.M., Dias, J.F.; Gaeta, S.A. Ambiente pelágico. In: Hatje, V., and Andrade, J.B., (orgs). Baía de todos os santos: aspectos oceanográficos [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, pp. 122- 155. ISBN 978-85-232-0929-2.
- ↑ Gerling et al. Manual de ecossistemas: marinhos e costeiros para educadores. Santos, SP: Editora Comunnicar, 2016. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/ManualEcossistemasMarinhoseCost eiros3.pdf.
- ↑ Lakshmanan, Ranjith; Shukla, Satya Prakash; Vinod, Kavungal; Ramkumar, Sugumar; Amarnath, Mathan Babu; George, Rani Mary; Chakraborty, Sushant Kumar; Purushothaman, Chandra Sekharan (2020). Destruction of non-edible biota due to bottom trawling: The ecological and conservation issues in a global context. Ocean & Coastal Management, 105420–. doi:10.1016/j.ocecoaman.2020.105420
- ↑ Bastian, Michelle; Whale Falls, Suspended Ground, and Extinctions Never Known. Environmental Humanities 1 November 2020; 12 (2): 454–474. doi: https://doi.org/10.1215/22011919-8623219
- ↑ World Economic Forum, Ellen MacArthur Foundation and McKinsey & Company. 2016. "The New Plastic Economy — Rethinking the future of plastics''.