Ecossistemas costeiros

Revisão de 15h38min de 7 de junho de 2023 por Leticia ff (discussão | contribs)

A zona costeira corresponde ao espaço geográfico de interação do ar, mar e terra, abrangendo uma faixa terrestre e uma marítima1. É na região costeira que se concentram as maiores cidades do planeta2, bem como a maior parcela da sua população3. Pelo fato de representar um ambiente de transição, os ecossistemas costeiros proporcionam diversos serviços a essas populações e, ao mesmo tempo, estão vulneráveis às atividades antrópicas4.

Entre os diversos ecossistemas que podemos encontrar no ambiente costeiro, temos: praias, costões rochosos, manguezais, marisma, recifes de corais, entre outros.

1. PRAIAS ARENOSAS

1.1 Definições

As praias são depósitos de sedimento inconsolidado, como areia e cascalho, formados na região entre terra e o mar ou outro corpo aquoso de grandes dimensões (rios, lagos) e que são retrabalhados por ondas, marés, ventos e correntes geradas por esses três agentes5 .

São ambientes muito dinâmicos que se ajustam às condições de ondas e maré, atuando como um importante elemento de proteção do litoral6. Além da proteção costeira para os ecossistemas adjacentes e de ser habitat para várias espécies animais e vegetais, as praias são muito importantes para diversas atividades urbanas, recreação e turismo.

1.2. Características gerais e classificações

De acordo com as características das ondas e dos processos costeiros, as praias podem ser classificadas em dissipativas*, reflexivas* e intermediárias*7 . Além disso, de acordo com o alcance das marés ao longo de um perfil transversal à linha de costa, as praias podem também ser classificadas em ambientes ou zonas chamadas de pós-praia ou supramaré , estirâncio ou entremarés, face litorânea ou inframarés, praia subaérea, zona de surfe e arrebentação de ondas* e zona próxima à praia *8:

A morfologia e a estrutura de uma praia podem mudar drasticamente, dependendo de fatores oceanográficos, meteorológicos/climáticos, geológicos e antrópicos. Os fatores oceanográficos abrangem as influências das ondas, marés e ventos, assim como as correntes geradas por cada um desses agentes.

Os fatores meteorológicos/climáticos exercem uma influência significativa nas variações do nível médio do mar (diárias, sazonais e de longo prazo) e na ação dos ventos e das ondas, interferindo nas características das correntes costeiras9.

Entre os vários fatores geológicos que atuam na zona costeira, os processos sedimentares são os mais relevantes para as praias, sendo responsáveis pelos ganhos (deposição) e perdas (erosão) de areia, determinando o seu balanço sedimentar. Os fatores antrópicos englobam as interferências humanas nos ecossistemas costeiros, modificando os demais fatores.

1.3 Serviços ecossistêmicos

As praias desempenham uma variedade de serviços ecossistêmicos* que são essenciais para o bem-estar das comunidades humanas e a saúde dos ecossistemas costeiros. Alguns dos principais serviços ecossistêmicos das praias incluem biodiversidade, proteção costeira, manutenção da qualidade da água costeira, ciclagem de nutrientes, recreação e turismo, entre outros.

As praias arenosas são habitats importantes para uma variedade de espécies de plantas e animais. Muitas espécies de aves, répteis, insetos e crustáceos dependem desse ambiente para alimentação, reprodução e abrigo. A presença e a diversidade destes organismos são influenciadas pelas características físicas da praia, como o tamanho do grão (granulometria) da areia, a inclinação da praia e a presença de vegetação10. Portanto, essa biodiversidade desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde dos ecossistemas costeiros e na sustentação de cadeias alimentares complexas.

As praias atuam como uma barreira natural de proteção contra a erosão costeira causada por ondas, tempestades e marés. A presença de dunas e vegetação costeira ajuda a dissipar a energia das ondas, reduzindo o impacto das tempestades e minimizando a perda de terras.

Elas atuam ativamente na filtragem e depuração da água: As praias e suas zonas adjacentes, como as dunas e os pântanos costeiros, atuam como filtros naturais, removendo impurezas e poluentes da água que se infiltra no solo ou escoa para o mar. Essa filtragem auxilia na melhoria da qualidade da água e na manutenção de ecossistemas marinhos saudáveis.

Além disso, as praias desempenham um papel importante na ciclagem de nutrientes entre os ecossistemas terrestres e marinhos. Os materiais orgânicos, como folhas, algas e detritos, depositados nas praias são decompostos e liberam nutrientes essenciais que sustentam a produtividade dos ecossistemas costeiros.

As praias são também um importante destino turístico e proporcionam oportunidades de lazer e recreação para as pessoas. As atividades como natação, banhos de sol, prática de esportes aquáticos, passeios e turismo costeiro contribuem para o bem-estar físico e mental, além de serem uma fonte de renda para as comunidades locais.

É importante ressaltar que as praias arenosas estão sujeitas a uma série de ameaças, incluindo a erosão costeira, o aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas, urbanização descontrolada, a poluição e a exploração excessiva de recursos. Estas ameaças podem levar à perda de habitat, à redução da diversidade biológica e à degradação da qualidade desse ecossistema, ameaçando a integridade dos serviços ecossistêmicos das praias. A gestão eficaz das praias arenosas é, portanto, crucial para a conservação desse valioso ecossistema e pode incluir a proteção das áreas costeiras, a restauração de habitats degradados e a mitigação dos impactos das atividades humanas11 . Portanto, a conservação e a gestão adequada desses ecossistemas são essenciais para garantir a continuidade dos serviços que eles fornecem.

2. COSTÕES ROCHOSOS

2.1  Definições

Costões rochosos, também conhecidos como rocky shores em inglês, são formações litorâneas de grande importância ecológica e geomorfológica. Eles são caracterizados por estruturas geológicas expostas que se estendem em direção ao mar, formando um habitat único para diversas espécies de plantas, invertebrados, peixes e pássaros.

Os costões rochosos são formados por rochas ígneas, metamórficas ou sedimentares, que são expostas à ação das ondas, marés e intemperismo. A ação constante desses processos ao longo do tempo pode resultar em formas e estruturas variadas, como arcos, fendas, plataformas e piscinas naturais.

2.2 Características gerais e classificações

Uma das características marcantes dos costões rochosos é a zona de influência das marés, que cria uma área única e dinâmica entre os limites da maré alta e baixa. Essa zona, chamada de zona entremarés*, está sujeita a flutuações diárias das condições ambientais, como a exposição ao ar durante a maré baixa e a imersão na água durante a maré alta. Essa alternância de condições cria desafios e oportunidades únicas para os organismos que habitam o costão rochoso.

Portanto, a estrutura física dos costões rochosos e a influência das condições oceânicas, como marés, correntes e ondas, bem como a competição por espaço e recursos entre os organismos contribuem para uma zonação nos costões12.

A zonação nos costões rochosos é geralmente observada em faixas horizontais ou verticais, que são definidas por diferentes espécies de organismos e pelas adaptações necessárias para sobreviver em cada área específica. Essas faixas são conhecidas como zonas de acordo com a localização em relação à maré e às condições ambientais predominantes. As principais zonas encontradas nos costões rochosos são:

  • Zona Supralitoral: Também conhecida como zona do borrifo ou de respingo, é a área mais alta do costão rochoso e é exposta ao ar na maioria do tempo, mesmo durante a maré alta. Aqui, predominam organismos resistentes à dessecação, como algas verdes (Enteromorpha spp.) e líquens e, é o limite superior de ocorrência de cirripédios (cracas) ou, por vezes, de gastrópodes do gênero Littorina.
  • Zona Mediolitoral: É a zona intermediária entre o nível da maré alta e a maré baixa. Essa área é regularmente coberta e descoberta pelas marés e é caracterizada por uma maior diversidade de organismos. Nessa região os organismos sésseis, que são aqueles que não se movem e estão fixos, desenvolveram adaptações para lidar com a variação das marés e as mudanças ambientais resultantes desse ciclo. Essas adaptações incluem a capacidade de se alimentar e liberar larvas em um período de tempo reduzido. Por outro lado, os organismos móveis têm a capacidade de migrar para áreas mais baixas durante a maré baixa e permanecem sempre submersos. No mediolitoral, podem ser encontradas várias espécies de algas, mexilhões (Mytilus spp.), cracas (Balanus spp. e Chthamalus spp.), Caranguejos eremitas (Pagurus spp), ouriços-do-mar e estrelas-do-mar.
  • Zona Infralitoral: Também chamada de zona submersa, está localizada abaixo da maré baixa e é regularmente submersa pelas marés. Nessa zona, a luz solar é menos disponível, e os organismos encontrados são adaptados a essas condições. Aqui os fatores abióticos são relativamente estáveis e as relações de predação e competição regulam as comunidades locais. Algas de maiores tamanhos, como as algas pardas (Sargassum), cnidários (anêmonas), crustáceos (camarão, ermitão, caranguejo), ouriços-do-mar e peixes são comuns nessa área.

Na zona entremarés* dos costões rochosos, também ocorrem as chamadas poças de maré, que são depressões onde a água do mar se acumula formando piscinas temporárias. Essas poças estão sujeitas às condições atmosféricas e apresentam alta variabilidade de temperatura e salinidade durante a maré baixa. Os organismos presentes nessas poças de maré são expostos a flutuações extremas nas condições ambientais, o que requer adaptações específicas para sobreviver nesse ambiente dinâmico. Estes microhabitats proporcionam um refúgio para uma variedade de organismos, incluindo moluscos, anêmonas, caranguejos, algas entre outros13 .

2.3 Serviços ecossistêmicos

Os costões rochosos fornecem uma variedade de serviços ecossistêmicos importantes que incluem biodiversidade e habitat; proteção costeira; recreação e turismo; pesca e recursos naturais.

Os costões abrigam uma grande diversidade de espécies marinhas, incluindo algas, moluscos, crustáceos, peixes e invertebrados. Esses ecossistemas oferecem habitats variados, com nichos ecológicos específicos, e promovem a sobrevivência, reprodução e alimentação de diversas espécies.

Eles também contribuem para a estabilidade do ecossistema marinho, fornecendo substrato sólido para a fixação de organismos e servindo como base para as cadeias alimentares marinhas. Eles também ajudam a filtrar e purificar a água, promovendo a qualidade da água marinha.

Os costões rochosos também desempenham um papel significativo em processos costeiros maiores, incluindo a proteção da linha de costa contra a erosão, a dissipação de energia das ondas e o fornecimento de sedimentos para praias e dunas14. A sua configuração rochosa ajuda a dissipar a energia das ondas, reduzindo o impacto das tempestades e protegendo as áreas costeiras adjacentes da erosão.

Eles também podem servir como áreas de pesca, oferecendo habitat para várias espécies comerciais e recreativas. Além disso, certas espécies marinhas presentes nos costões rochosos são utilizadas como recursos naturais, como algas marinhas para a indústria alimentícia e moluscos para a aquicultura.

Apesar de sua importância ecológica, os costões rochosos são frequentemente impactados por atividades humanas, incluindo poluição, pesca excessiva e desenvolvimento costeiro. É importante reconhecer e valorizar os serviços ecossistêmicos dos costões rochosos, bem como adotar práticas de manejo sustentável para garantir a conservação desses ecossistemas e sua capacidade de fornecer benefícios contínuos para as comunidades humanas e a natureza. Portanto, a proteção e a gestão destes habitats são cruciais para a conservação da biodiversidade marinha15 .

3. MANGUEZAIS

3.1  Definições

Manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes terrestre e marinho de grande importância ambiental situados em regiões tropicais e subtropicais. Eles são encontrados em regiões onde as águas do mar e do rio se encontram, como estuários, desembocaduras de rios, lagunas, reentrâncias da costa sujeitas à influência das marés. Os manguezais são formados por árvores e arbustos resistentes, adaptados a condições de salinidade variável, substrato lamoso e inundação periódica.

2.2 Características gerais e classificações

Os manguezais são caracterizados por apresentarem uma grande diversidade de espécies vegetais e animais adaptadas a condições extremas, como a salinidade elevada e sedimento anóxico, devido a variação do nível d’água durante os intervalos de maré (Alongi, 2002). Entre as espécies vegetais de mangue conhecidas, temos os gêneros Avicennia (mangue-preto), Laguncularia (mangue-branco), Rhizophora (mangue-vermelho) e Conocarpus erectus (mangue de botão)16.

Os manguezais são influenciados por uma série de fatores abióticos e bióticos que controlam a vida dos organismos que habitam esses ecossistemas. Os fatores abióticos incluem a salinidade da água, a variação das marés, a disponibilidade de nutrientes, tipo de sedimento (lamoso, arenoso etc.) e a temperatura. Esses fatores podem variar dependendo da localização geográfica e das condições climáticas. Os fatores bióticos incluem a interação entre as espécies de plantas e animais que habitam os manguezais, como as relações de predação, competição e simbiose.

Os manguezais apresentam uma zonação distintiva, ou seja, uma organização espacial em diferentes zonas, de acordo com as características físicas do ambiente e a tolerância das espécies à inundação e salinidade. Essa zonação pode variar em detalhes dependendo da região específica e das condições locais, mas, de forma geral, os manguezais são divididos em três zonas principais:

  • Zona de Maré Alta: Também conhecida como zona de mangue vermelho, é a área mais próxima da linha da maré alta. Recebe inundação diária da maré e está sujeita a maior influência das ondas e da salinidade. Nessa zona, predominam as espécies de mangue vermelho (Rhizophora spp.), que possuem raízes aéreas chamadas de "pneumatóforos" para obter oxigênio em ambientes com baixa disponibilidade de oxigênio no solo.
  • Zona de Transição: Também chamada de zona intermediária ou de mangue branco, está localizada acima da zona de maré alta e é periodicamente inundada pelas marés. Essa zona é caracterizada pela presença de espécies como o mangue branco (Avicennia spp.) e o mangue siriúba (Laguncularia racemosa). Essas espécies possuem raízes adaptadas a solos mais firmes e apresentam menor tolerância à salinidade.
  • Zona de Maré Baixa: Essa zona, também conhecida como zona de mangue preto, é a área mais distante da linha da maré alta e recebe inundação apenas em marés excepcionais. Nessa zona, estão presentes espécies como o mangue preto (Avicennia schaueriana) e o mangue de botão (Conocarpus erectus). Essas espécies são mais tolerantes à salinidade e possuem raízes que se aprofundam no solo em busca de água e nutrientes.

É importante ressaltar que essa zonação não é rígida, e algumas espécies podem ocorrer em diferentes zonas dependendo de suas características ecológicas. Além disso, as condições ambientais, como o gradiente de salinidade, a topografia local e a influência de fatores climáticos, também podem influenciar a distribuição das espécies dentro do manguezal.

3.3 Serviços ecossistêmicos

Os manguezais desempenham um importante papel na manutenção da saúde dos ecossistemas costeiros e na sustentabilidade das comunidades humanas. Esses ecossistemas funcionam como berçários para diversas espécies marinhas, uma vez que fornecem proteção e alimento para as primeiras fases da vida de muitos organismos. Além disso, contribuem para a manutenção da qualidade da água, por meio da retenção de sedimentos e nutrientes que seriam levados para o mar, ajudando a prevenir a eutrofização de ambientes marinhos17 .

Em geral, os manguezais são considerados ecossistemas altamente produtivos devido à atividade fotossintética das plantas e à decomposição dos detritos orgânicos. Estudos científicos têm estimado a produtividade primária líquida dos manguezais em uma média de cerca de 2 a 4 toneladas de carbono por hectare por ano. Essa estimativa leva em consideração a quantidade de carbono fixado pelas plantas por meio da fotossíntese, descontando a respiração das plantas e a decomposição dos detritos vegetais. Parte dessa matéria orgânica é liberada nas águas costeiras por meio da decomposição de folhas, raízes e outros detritos vegetais.

Os manguezais também têm importância social e econômica. Eles fornecem uma série de serviços ambientais, como a proteção da linha de costa contra a erosão e o amortecimento de ondas de tempestades e tsunamis. Além disso, muitas comunidades humanas dependem diretamente dos recursos dos manguezais para sua subsistência, seja pela pesca, coleta de mariscos, ou pelo uso da madeira18 . Além dos produtos pesqueiros, os manguezais fornecem recursos naturais valiosos como fibras e medicamentos tradicionais.

Apesar de sua importância, os manguezais estão entre os ecossistemas mais ameaçados do planeta, principalmente devido à expansão urbana, ao desmatamento para a aquicultura (principalmente de camarão), à poluição e às mudanças climáticas. A degradação e a perda de manguezais podem ter impactos significativos tanto na biodiversidade como na resiliência de comunidades costeiras19.

Nesse contexto, a conservação dos manguezais é uma necessidade urgente. Para isso, é preciso não apenas a criação de áreas protegidas, mas também a implementação de políticas públicas efetivas e a conscientização da sociedade sobre a importância desses ecossistemas20 .

4. MARISMAS ou PÂNTANO SALOBRO

4.1 Definições, características gerais e serviços ecossistêmicos

Marismas, também conhecidos por pântanos salobros (salt marshes em inglês) são ecossistemas costeiros entremarés* caracterizados por vegetação herbácea resistente à salinidade, principalmente gramíneas (Spartina alterniflora), juncos (Juncus effusus) e ervas, que são inundadas periodicamente por marés de água salgada.

As marismas são formadas por sedimentos costeiros e fluviais que acumulam matéria orgânica, criando um ambiente rico em nutrientes que suporta uma diversidade de espécies de plantas e animais. As condições físicas das marismas, como salinidade, umidade do solo e frequência de inundações, variam significativamente, influenciando na distribuição e na diversidade de espécies21.

Geralmente localizadas em zonas temperadas e subtropicais desempenham um papel crucial na filtragem de poluentes, estabilização da linha de costa e fornecimento de habitats para uma variedade de vida selvagem22 . No Brasil, os marismas, ou pântanos salobros estão presentes em estuários, lagunas e baías ao longo da costa dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul23 . Bancos de Spartina spp. são também observados no litoral sul de São Paulo (Cananéia) e Paraná.

Esses ecossistemas são um dos mais eficientes no sequestro de carbono do mundo. Pois capturam CO2 da atmosfera armazenando no solo de forma muito mais eficaz do que a maioria dos outros ecossistemas terrestres24 . Além disso, as marismas oferecem um valioso serviço de proteção da linha de costa, reduzindo a energia das ondas e minimizando a erosão costeira25 . Especialmente nas atuais condições de aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos26 .

Esses ecossistemas costeiros são caracterizados por condições extremas de salinidade e temperatura, sendo frequentemente hipersalinos. A vegetação dominante nessas áreas é composta por angiospermas herbáceas adaptadas a essas variações ambientais.

5. LEITOS DE MACRÓFITAS MARINHAS

5.1 Definições, características gerais e serviços ecossistêmicos

Os leitos de macrófitas (plantas superiores – angiospermas) marinhas são definidos por sistemas dominados por plantas com flores, encontrados em águas rasas costeiras salgadas e salobras, em todo o mundo (com exceção das regiões polares). Alguns leitos de macrófitas marinhas podem ocorrer em áreas entremarés baixas27 .

Elas compõem um grupo de espécies de plantas que se adaptaram para viver submersas inteiramente em ambiente marinho. Apenas para fins comparativos, atualmente existem cerca de 60 espécies de ervas marinhas ao redor do globo, enquanto há, aproximadamente, 250.000 espécies terrestres de angiospermas .

Para as macrófitas marinhas sobreviverem inteiramente submersas, muitas adaptações evolutivas ocorreram durante o tempo e impactam diretamente o ambiente das águas costeiras. Por exemplo, essas plantas são capazes de alterar o fluxo de água, realizar a ciclagem de nutrientes, além de participarem da teia alimentar desses ecossistemas, como por exemplo, de tartarugas marinhas verdes, dugongos e peixes-boi, além de fornecem habitat crítico para muitos animais, incluindo espécies pesqueiras comercialmente e recreativamente importantes.

Algumas das adaptações evolutivas das ervas marinhas incluem o transporte interno de gás, cloroplastos* epidérmicos, polinização submarina e dispersão marinha. Além disso, para fornecer oxigênio às suas raízes e rizomas as macrófitas marinhas necessitam de altos níveis de luz. Inclusive, existem estudos que indicam que esses leitos servem como sentinelas ambientais, alertando possíveis alterações biológicas. Isso significa que essas plantas são muito vulneráveis às mudanças ambientais28 .

Os leitos de macrófitas marinhas podem ocorrer em diferentes regiões costeiras ao redor do mundo. Sua distribuição está relacionada a fatores como a temperatura da água, salinidade, disponibilidade de luz e substrato adequado. As regiões onde os leitos de macrófitas marinhas são mais comuns incluem regiões temperadas, tropicais e subtropicais.

Em áreas de clima temperado, os leitos de macrófitas marinhas são encontrados principalmente nas costas de regiões como o noroeste do Pacífico, nordeste do Atlântico (incluindo o norte da Europa) e o sul da Austrália. Nessas regiões, as macrófitas marinhas mais comuns são as ervas marinhas, como as da família Zosteraceae (Zostera marina).

Em regiões tropicais e subtropicais, os leitos de macrófitas marinhas são mais diversos e podem incluir uma variedade de espécies de algas e ervas marinhas. Exemplos notáveis são as pradarias marinhas, como as da família Posidoniaceae e Hydrocharitaceae, encontradas em regiões tropicais e subtropicais do Atlântico, Pacífico e Índico.

Outro exemplo típico é o Sargassum spp. que é uma alga parda encontrada em regiões costeiras tropicais e subtropicais, especialmente no Oceano Atlântico. Essas algas flutuantes podem formar grandes agregações conhecidas como "mar de sargaço" e são importantes como habitat e berçário para uma variedade de organismos marinhos.

Vale ressaltar que a distribuição dos leitos de macrófitas marinhas pode variar de acordo com as condições ambientais locais e a disponibilidade de nutrientes. Além disso, fatores como a poluição, alterações climáticas e atividades humanas podem afetar a saúde e a extensão desses ecossistemas costeiros.

6. FLORESTAS DE MACROALGAS

6.1 Definições, características gerais e serviços ecossistêmicos

As florestas de macroalgas são verdadeiros bosques submersos, definidos por ecossistemas marinhos rasos cobertos por algas de crescimento denso (grandes algas marrons, como kelps) e encontrados em regiões temperadas de todo o mundo, além de latitudes subpolares, como no Ártico29 . No total, existem 112 espécies de algas da ordem Laminariales, divididos em 33 gêneros diferentes que compõem a maior parte das florestas de algas.

Nestes ecossistemas, as algas vivem por muito tempo e são capazes de atingir vários metros de comprimento, tornando-as grandes produtoras de biomassa. Como consequência, as florestas de algas abrigam uma grande variedade de espécies30, como por exemplo, mamíferos marinhos (lontras, focas e leões marinhos), além de aves e invertebrados. Entre os maiores consumidores de kelps estão os ouriços marinhos31, que destroem os rizoides* das macroalgas (*estruturas “semelhantes” às raízes das plantas, que possibilitam sua fixação no substrato).

Alguns dos principais serviços ecossistêmicos das florestas de macroalgas incluem produção primária e sequestro de carbono; ciclagem de nutrientes, habitat e refúgio, proteção costeira.

As macroalgas realizam a fotossíntese, convertendo a energia solar em matéria orgânica por meio da absorção de dióxido de carbono e liberação de oxigênio. Elas são altamente produtivas, contribuindo para a produtividade primária* do ecossistema marinho e servindo como base da cadeia alimentar. Desempenham um papel significativo no sequestro de carbono do ambiente marinho. Elas absorvem dióxido de carbono da água durante a fotossíntese, armazenando esse carbono em sua biomassa, ajudando, portanto, a mitigar as mudanças climáticas, reduzindo a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.

Outro serviço ecossistêmico importante é a ciclagem de nutrientes. Macroalgas absorvem nutrientes como nitrogênio e fósforo da água e do sedimento, incorporando-os em sua biomassa. Quando as algas morrem e se decompõem, esses nutrientes são liberados novamente no ambiente, enriquecendo a água e o sedimento circundantes e sustentando a produtividade do ecossistema.

As florestas de macroalgas fornecem habitats complexos e estruturados para uma variedade de organismos marinhos. Elas oferecem abrigo, proteção contra predadores e locais de reprodução para várias espécies de peixes, invertebrados e microorganismos. Muitos organismos encontram alimento e abrigo entre as macroalgas, contribuindo para a diversidade e a abundância da vida marinha.

Elas exercem um papel crucial na proteção costeira, atuando como uma barreira natural contra a erosão. As algas absorvem parte da energia das ondas, ajudando a reduzir a força das correntes e dos ventos e estabilizando o sedimento costeiro. Isso é especialmente importante em áreas onde a vegetação costeira terrestre é escassa.

7. RECIFES DE CORAL

7.1 Definições

Os recifes de coral são definidos por ecossistemas marinhos tropicais subaquáticos caracterizados por corais que se agregam e constroem os recifes32 . Eles são estruturas formadas principalmente por carbonato de cálcio, que é secretado pelos animais do filo Cnidaria, pertencentes à classe dos Antozoários. Esses animais, chamados corais, existem na forma de pólipos e podem formar colônias. Os corais que são mais conhecidos por formarem recifes são chamados de corais hermatípicos.

7.2 Características gerais e classificações

Os corais hermatípicos são encontrados em águas rasas, na zona eufótica, onde há uma grande incidência de luz, pois dependem da luz solar para a fotossíntese realizada pelas suas algas simbióticas. Eles não toleram águas com alto teor de sedimentos e variações significativas de salinidade. Portanto, a falta de luz adequada devido à água turva, sedimentação ou sombreamento por outros organismos, bem como o aporte de água doce oriunda de rios pode limitar o crescimento dos corais hermatípicos.

Além da luminosidade, presença de águas límpidas e salinas, corais requerem níveis elevados de oxigênio e são sensíveis a temperaturas abaixo de 18°C e acima de 30°C. Temperaturas muito altas ou muito baixas podem levar ao branqueamento dos corais, um fenômeno no qual os corais perdem as algas simbióticas que vivem em seus tecidos e fornecem energia por meio da fotossíntese. O branqueamento pode resultar na morte dos corais se as condições não se normalizarem.

Os corais também não toleram variações no pH da água. A acidificação dos oceanos, resultante do aumento da absorção de dióxido de carbono pela água do mar, pode afetar a capacidade dos corais de construir seus esqueletos de carbonato de cálcio, tornando-os mais frágeis e suscetíveis a danos. Além disso, os corais requerem nutrientes essenciais, como nitrogênio e fósforo, para o seu crescimento e sobrevivência. Embora sejam organismos adaptados a ambientes com baixos nutrientes, um desequilíbrio na disponibilidade de nutrientes pode afetar negativamente as algas simbióticas dos recifes de corais.

Os recifes de corais são amplamente distribuídos ao redor do mundo, com áreas mais notáveis nos oceanos Índico e Pacífico. Algumas das regiões mais famosas incluem a Grande Barreira de Corais na Austrália, o Triângulo de Coral no Sudeste Asiático e os recifes do Caribe. No Brasil, os recifes de corais estão presentes principalmente ao longo da costa nordeste, abrangendo os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. A região dos Abrolhos, na Bahia, é especialmente conhecida por seus recifes de corais, que abrigam uma grande diversidade de espécies marinhas.

Quanto à classificação dos recifes de corais, podemos mencionar os seguintes tipos:

  • Recife de franja: não forma uma laguna entre ele e a praia, estando diretamente conectado à costa.
  • Recife de barreira: localiza-se a vários quilômetros da praia e é separado por uma laguna, uma área de água mais calma entre o recife e a costa.
  • Atol: também conhecido como recife circular, é uma estrutura que circunda uma laguna e não inclui uma ilha. É formado pela acumulação de corais ao redor de uma antiga ilha vulcânica submersa.

Os recifes de corais também apresentam uma zonação horizontal e vertical característica. A distribuição horizontal das espécies de corais e outros organismos ao longo do recife varia de acordo com fatores como a profundidade, a exposição à luz solar, a turbidez da água e a força das correntes. Essa zonação pode ser observada em diferentes níveis:

  • Zona de Recife Externo: Também conhecida como frente do recife ou face externa, é a área exposta ao oceano aberto, onde as ondas e as correntes são mais fortes. Essa zona é geralmente marcada pela presença de corais ramificados e resistentes, que podem suportar a ação das ondas e a maior turbulência da água.
  • Zona de Recife Médio: Localizada entre o recife externo e o recife interno, essa zona é caracterizada por uma menor ação das ondas e correntes em comparação à zona de recife externo. Aqui, podem ocorrer uma variedade de formações de corais, incluindo corais massivos e corais de prato.
  • Zona de Recife Interno: Também conhecida como recife de franja ou face interna, é a área mais próxima da costa e abrigada das ondas e correntes fortes. Nessa zona, os corais tendem a ser mais delicados e frágeis, e é comum encontrar colônias de coral que se desenvolvem em formas de franja ou platôs. Essa zona é frequentemente influenciada pela água doce e pode ser afetada por sedimentos e nutrientes provenientes de rios e áreas costeiras.

Além dessa zonação horizontal, os recifes de corais também apresentam uma zonação vertical, com diferentes tipos de corais e organismos ocorrendo em diferentes profundidades. Por exemplo, em águas mais rasas, onde há maior disponibilidade de luz solar, é comum encontrar corais construtores de recifes que dependem da simbiose com as zooxantelas (algas unicelulares). Em maiores profundidades, onde a luz solar é limitada, predominam os corais de águas mais profundas e outros organismos adaptados a condições de menor luminosidade.

A zonação nos recifes de corais é dinâmica e pode variar em diferentes regiões do mundo, dependendo das condições ambientais locais. No entanto, a compreensão dessa zonação é importante para o estudo e a conservação dos recifes de corais, pois diferentes áreas apresentam características ecológicas distintas e abrigam uma diversidade única de espécies.

7.3 Serviços ecossistêmicos

Os recifes de corais oferecem uma ampla variedade de serviços ecossistêmicos* essenciais para os ecossistemas marinhos e para as comunidades humanas. Alguns dos principais serviços ecossistêmicos dos corais incluem a sua biodiversidade e habitat. Os recifes abrigam uma das mais ricas biodiversidades do planeta, oferecendo habitat e abrigo para uma grande variedade de organismos marinhos, incluindo peixes, crustáceos, moluscos, equinodermos e tartarugas marinhas33. São ecossistemas complexos e tridimensionais que sustentam uma rede intrincada de interações entre diferentes espécies.

Os recifes de corais também desempenham um papel importante na ciclagem de nutrientes nos oceanos. Eles capturam e reciclam nutrientes essenciais, como nitrogênio e fósforo, contribuindo para a produtividade das águas costeiras e do oceano em geral. Além disso, os corais desempenham um papel significativo no sequestro de carbono da atmosfera. Embora os corais sejam organismos que liberam pequenas quantidades de dióxido de carbono durante a noite, eles também o capturam durante a maior parte do dia. O carbono capturado pelos recifes de corais é armazenado no esqueleto de carbonato de cálcio dos corais, que se acumula ao longo do tempo e forma a estrutura sólida dos recifes. Esse processo de sequestro de carbono é conhecido como "bombas de carbono" dos recifes de corais.

Os recifes atuam também como barreiras naturais que reduzem a força das ondas e ajudam a proteger as áreas costeiras contra a erosão causada por tempestades e eventos extremos34 . Eles desempenham um papel fundamental na estabilização das praias e proteção das comunidades costeiras.

Os recifes são fontes importantes de recursos pesqueiros, fornecendo alimentos e meios de subsistência para muitas comunidades costeiras em todo o mundo. Eles abrigam uma grande diversidade de espécies de peixes e outros organismos marinhos que são capturados para consumo humano.

Além disso, os recifes de corais são destinos turísticos populares, atraindo milhões de visitantes que desejam explorar a beleza e a biodiversidade subaquática. O turismo relacionado aos corais contribui significativamente para a economia local, gerando empregos e receitas para as comunidades costeiras.

Outro serviço ecossistêmico são os recursos farmacêuticos: Os corais e outros organismos encontrados nos recifes são fontes potenciais de compostos bioativos com propriedades medicinais. Pesquisas científicas estão em andamento para descobrir novas substâncias que possam ser utilizadas no desenvolvimento de medicamentos e tratamentos para diversas doenças.

No entanto, uma variedade de fatores incluindo mudanças climáticas, acidificação dos oceanos, pesca predatória e poluição ameaçam os ecossistemas de recifes de corais. Estimativas apontam que já perdemos metade da cobertura de corais no mundo entre os anos de 1957-2007 e, pelo menos, 63% da biodiversidade associada aos recifes de corais foram reduzidas com a perda da extensão dos corais35 .

É fundamental reconhecer e valorizar os serviços ecossistêmicos dos corais, pois eles desempenham um papel crucial na saúde dos ecossistemas marinhos e no bem-estar das comunidades humanas. A conservação e a proteção adequada dos recifes de corais são essenciais para garantir a sustentabilidade desses serviços ecossistêmicos e preservar a beleza e a biodiversidade desses ecossistemas únicos.

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8. ZONA COSTEIRA BRASILEIRA

8.1 Definições e características gerais

A zona costeira brasileira é estabelecida como patrimônio nacional na Constituição Federal e compreende uma faixa terrestre de mais de 8500 km e inclui também o mar territorial, correspondente à faixa marinha de 12 milhas náuticas. Apesar do desmatamento e ocupação desordenada, é na zona costeira que se encontra a maior faixa de Mata Atlântica remanescente no país.

O  Brasil possui um dos mais ricos ecossistemas costeiros do mundo (Knoppers et al., 2009) com manguezais, marismas, recifes de corais, praias arenosas, costões rochosos; assim como  lagoas, estuários, dunas e restingas, que abrigam inúmeras espécies de flora e fauna exclusivas do território brasileiro36. A zona costeira brasileira é uma região de grande importância econômica, social e ambiental, oferecendo uma variedade de serviços ecossistêmicos cruciais para as comunidades humanas e a conservação da biodiversidade.

Ela é caracterizada por uma combinação única de ecossistemas, que incluem praias, dunas, manguezais, restingas, costões rochosos, estuários, recifes de corais e ilhas. Cada um desses ambientes desempenha um papel fundamental na sustentação da vida marinha e costeira, na proteção costeira contra a erosão e na promoção de atividades recreativas e turísticas.

Os manguezais, por exemplo, são encontrados em várias regiões da costa brasileira, especialmente nos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Pará. Esses ecossistemas desempenham um papel crucial na estabilidade costeira, atuando como berçários e refúgios para inúmeras espécies marinhas e aves migratórias. Além disso, os manguezais contribuem para a purificação da água, a ciclagem de nutrientes e o sequestro de carbono, desempenhando um papel importante na mitigação das mudanças climáticas.

As praias e dunas, por sua vez, são características marcantes da costa brasileira. Elas oferecem espaços de lazer e recreação para as comunidades locais e são destinos turísticos populares. As dunas desempenham um papel vital na proteção costeira, atuando como uma barreira natural contra a erosão e ajudando a manter a estabilidade das áreas costeiras.

Os recifes de corais, embora menos extensos na costa brasileira em comparação com outras regiões do mundo, estão presentes principalmente nas regiões nordeste do país. Esses ecossistemas são conhecidos por sua rica biodiversidade marinha e sua importância na pesca, no turismo e na proteção costeira. Os recifes de corais brasileiros abrigam uma variedade de espécies de corais, peixes, moluscos e outros organismos marinhos, contribuindo para a saúde e a resiliência dos ecossistemas marinhos.

Além da importância ecológica, a zona costeira brasileira também abriga diversas comunidades humanas, incluindo pescadores artesanais, comunidades tradicionais e populações urbanas. Essas comunidades dependem dos recursos naturais da zona costeira para subsistência, pesca, turismo e outras atividades econômicas.

8.2 Comunidades tradicionais da região costeira do Brasil

As comunidades tradicionais da região costeira brasileira são grupos humanos que possuem uma relação ancestral com o ambiente marinho e costeiro. Essas comunidades estão intimamente ligadas aos recursos naturais da costa, dependendo deles para a sua subsistência, cultura, identidade e formas tradicionais de vida.

Existem diferentes tipos de comunidades tradicionais na zona costeira brasileira, cada uma com sua própria história, cultura e modo de vida. Alguns exemplos incluem os pescadores artesanais, os quilombolas costeiros, os caiçaras e os marisqueiros.

Os pescadores artesanais são grupos que praticam a pesca de forma tradicional, utilizando técnicas seculares e embarcações de pequeno porte. Eles têm um profundo conhecimento sobre os ciclos de reprodução dos peixes, as áreas de pesca, as técnicas de captura e as práticas de manejo sustentável. Essas comunidades valorizam a conservação dos recursos pesqueiros e possuem um sistema de organização social baseado em normas comunitárias e regras de uso dos recursos compartilhados.

Os quilombolas costeiros são descendentes de comunidades formadas por escravos fugitivos que se estabeleceram em áreas costeiras remotas. Eles possuem uma relação íntima com o ambiente costeiro, praticando atividades como pesca, agricultura, extrativismo e artesanato. Essas comunidades preservam suas tradições culturais, como danças, músicas, rituais religiosos e conhecimentos ancestrais sobre o uso sustentável dos recursos naturais.

Os caiçaras são comunidades tradicionais encontradas principalmente na região litorânea do estado de São Paulo. Eles têm uma forte ligação com o mar, as praias, as ilhas e a Mata Atlântica. Os caiçaras praticam a pesca artesanal, a agricultura de subsistência, a produção de farinha de mandioca e a coleta de frutos do mar. Sua cultura é marcada por festividades, como a Festa de São Pedro, e por atividades como a construção de canoas e o artesanato em fibras naturais.

Os marisqueiros são comunidades que vivem da coleta de mariscos, moluscos e crustáceos nas áreas de manguezais e estuários. Essas comunidades possuem um profundo conhecimento sobre os ecossistemas de manguezal, suas espécies e os períodos de reprodução. A coleta desses recursos é uma atividade tradicional que desempenha um papel importante na subsistência das comunidades e na conservação dos manguezais.

Essas comunidades tradicionais desempenham um papel fundamental na conservação da biodiversidade costeira, na manutenção de práticas de manejo sustentável dos recursos naturais e na preservação das tradições culturais. Seus modos de vida e práticas sustentáveis contribuem para a manutenção da biodiversidade marinha e terrestre, bem como para a preservação dos recursos naturais e do patrimônio cultural da região. No entanto, elas também enfrentam desafios, como a pressão do desenvolvimento urbano, a restrição do acesso aos recursos naturais e a falta de políticas públicas adequadas para o reconhecimento e apoio às suas atividades tradicionais.

Portanto, a gestão adequada e a conservação da zona costeira, bem como a proteção e o fortalecimento das comunidades tradicionais costeiras são essenciais para garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento humano e a preservação dos ecossistemas costeiros.