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Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi: 10.3389/fmars.2021.621151.</ref> | Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi: 10.3389/fmars.2021.621151.</ref> | ||
Sendo os corais organismos <span style="color:blue" title="Hábito alimentar não seletivo, no qual os organismos utilizam partículas orgânicas suspensas na água ao alcance de suas estruturas alimentares, por meio de filtração, captura ou aprisionamento. ">suspensívoros</span>, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de zooxantelas | Sendo os corais organismos <span style="color:blue" title="Hábito alimentar não seletivo, no qual os organismos utilizam partículas orgânicas suspensas na água ao alcance de suas estruturas alimentares, por meio de filtração, captura ou aprisionamento. ">suspensívoros</span>, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de <span style="color:blue" title="Microalgas simbiontes de diversos organismos marinhos de ambientes recifais, como corais, tridacnas (moluscos)">zooxantelas</span>.<ref>Lim et al, 2020.</ref> | ||
'''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS''' | '''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS''' | ||
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Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref> | Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref> | ||
Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies sésseis | Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies <span style="color:blue" title="Hábito de vida fixo do organismo adulto em algum tipo de substrato, sem movimentação ativa.">sésseis</span> ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (''hotspots'') no mar profundo.<ref>Rowden, A. A., Schlacher, T. A., Williams, A., Clark, M. R., Stewart, R., Althaus, F., … Dowdney, J. (2010). A test of the seamount oasis hypothesis: seamounts support higher epibenthic megafaunal biomass than adjacent slopes. Marine Ecology, 31, 95–106. doi:10.1111/j.1439-0485.2010.00369.x </ref> | ||
No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras. | No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras. | ||
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Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central),<ref>Lodge, M.; Johnson, D.; Le Gurun, G.; Wengler, M.; Weaver, P.; Gunn, V. 2014. Seabed mining: International Seabed Authority environmental management plan for the Clarion-Clipperton Zone. A partnership approach. Marine Policy, 49, 66-72. doi: 10.1016/j.marpol.2014.04.006</ref> e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul,<ref>Montserrat, F.; Guilhon, M.; Corrêa, P. V. F.; Bergo, N. M.; Signori, C. N.; Tura, P. M.; Maly, M. de los S.; Moura, D.; Jovane, L.; Pellizari, V.; Sumida, P. Y. G.; Brandini, F. P.; Turra, A. 2019. Deep-sea mining on the rio Grande Rise (Southewestern Atlantic): a review on environmental baseline, ecosystem services and potential impacts. Deep-Sea Research I, 45, p. 31-58. </ref> são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho.<ref>Jones, D. O. B.; Simon-Llédo, E.; Amon, D. J.; Bett, B. J.; Caulle, C.; Clément, L.; Connelly, D. P.; Dahlgren, T. G.; Durden, J. M.; Drazen, J. G.; Felden, J.; Gates, A. R.; Georgieva, M. N.; Glover, A. G.; Gooday, A. J.; Hollingsworth, A. L.; Horton, T.; James, R. H.; Jeffreys, R. M.; Laguionie-Marchais, C.; Leitner, A. B.; Lichtschlag, A.; Menendez, A.; Paterson, G. L. J.; Peel, K.; Robert, K.; Schoening, T.; Shulga, N. A.; Smith, C. R.; Taboada, A.; Thurnerr, A. M.; Wiklund, H.; Young, C. R.; Huvenne, V. A. I. 2021. Environemnte, ecology and potential effectiveness of an area protected from deep-sea mining (Clarion Clipperton Zone, abyssal Pacific). Progress in Oceanography, 197: 102653</ref> Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> | Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central),<ref>Lodge, M.; Johnson, D.; Le Gurun, G.; Wengler, M.; Weaver, P.; Gunn, V. 2014. Seabed mining: International Seabed Authority environmental management plan for the Clarion-Clipperton Zone. A partnership approach. Marine Policy, 49, 66-72. doi: 10.1016/j.marpol.2014.04.006</ref> e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul,<ref>Montserrat, F.; Guilhon, M.; Corrêa, P. V. F.; Bergo, N. M.; Signori, C. N.; Tura, P. M.; Maly, M. de los S.; Moura, D.; Jovane, L.; Pellizari, V.; Sumida, P. Y. G.; Brandini, F. P.; Turra, A. 2019. Deep-sea mining on the rio Grande Rise (Southewestern Atlantic): a review on environmental baseline, ecosystem services and potential impacts. Deep-Sea Research I, 45, p. 31-58. </ref> são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho.<ref>Jones, D. O. B.; Simon-Llédo, E.; Amon, D. J.; Bett, B. J.; Caulle, C.; Clément, L.; Connelly, D. P.; Dahlgren, T. G.; Durden, J. M.; Drazen, J. G.; Felden, J.; Gates, A. R.; Georgieva, M. N.; Glover, A. G.; Gooday, A. J.; Hollingsworth, A. L.; Horton, T.; James, R. H.; Jeffreys, R. M.; Laguionie-Marchais, C.; Leitner, A. B.; Lichtschlag, A.; Menendez, A.; Paterson, G. L. J.; Peel, K.; Robert, K.; Schoening, T.; Shulga, N. A.; Smith, C. R.; Taboada, A.; Thurnerr, A. M.; Wiklund, H.; Young, C. R.; Huvenne, V. A. I. 2021. Environemnte, ecology and potential effectiveness of an area protected from deep-sea mining (Clarion Clipperton Zone, abyssal Pacific). Progress in Oceanography, 197: 102653</ref> Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> | ||
Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente,<ref>Pusceddu, A.; Bianchelli, S.; Martín, J.; Puig, P.; Palanques, A.; Masqué, P.; Danovaro, R. 2014. Chronic and intensive bottom trawling impairs deep-sea biodiversity and ecosystem functioning. PNAS, 111, n. 24, 8861-8866.</ref> além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do bycatch | Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente,<ref>Pusceddu, A.; Bianchelli, S.; Martín, J.; Puig, P.; Palanques, A.; Masqué, P.; Danovaro, R. 2014. Chronic and intensive bottom trawling impairs deep-sea biodiversity and ecosystem functioning. PNAS, 111, n. 24, 8861-8866.</ref> além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do<span style="color:blue" title="Todo o material vivo coletado ou pescado junto de uma espécie-alvo, e que é descartado por não ter interesse comercial.">bycatch</span>. | ||
Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos.<ref>Jamieson A. J., Brooks L. S. R., Reid W. D. K., Piertney S. B., Narayanaswamy B. E. and Linley T. D. 2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 <nowiki>http://doi.org/10.1098/rsos.180667</nowiki></ref> | Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos.<ref>Jamieson A. J., Brooks L. S. R., Reid W. D. K., Piertney S. B., Narayanaswamy B. E. and Linley T. D. 2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 <nowiki>http://doi.org/10.1098/rsos.180667</nowiki></ref> |
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