161
edições
(4 revisões intermediárias pelo mesmo usuário não estão sendo mostradas) | |||
Linha 37: | Linha 37: | ||
Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de vertebrados,<ref>Tunnicliffe, V.; Juniper, S. K.; Sibuet, M. 2003. Reducing environments of the dee-sea floor. In: Tyler, P. A. (ed). Ecosystems of the World, v. 28. Ecosystems of the deep Oceans, pp. 81-110.</ref><ref>Bernardino, A. F.; Levin, L. A.; Thurber, A. R.; Smith, C. R. 2012. Comparative composition, diversity and trophic ecology of sediment macrofauna at vents, seeps and organic falls. PLoS ONE, v. 7: e33515.</ref> sendo as de baleias as mais estudadas até o momento.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref> | Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de vertebrados,<ref>Tunnicliffe, V.; Juniper, S. K.; Sibuet, M. 2003. Reducing environments of the dee-sea floor. In: Tyler, P. A. (ed). Ecosystems of the World, v. 28. Ecosystems of the deep Oceans, pp. 81-110.</ref><ref>Bernardino, A. F.; Levin, L. A.; Thurber, A. R.; Smith, C. R. 2012. Comparative composition, diversity and trophic ecology of sediment macrofauna at vents, seeps and organic falls. PLoS ONE, v. 7: e33515.</ref> sendo as de baleias as mais estudadas até o momento.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref> | ||
Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas<span style="color:blue" title="Sinônimo de necrófagos, refere-se aos animais que se alimentam de grandes quantidades de material em decomposição">saprófagos</span> ou<span style="color:blue" title="Animais que possuem hábito alimentar não seletivo, que utiliza material morto e em decomposição, como fonte energética, auxiliando na ciclagem de nutrientes na natureza.">detritívoros</span>surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref> | Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas <span style="color:blue" title="Sinônimo de necrófagos, refere-se aos animais que se alimentam de grandes quantidades de material em decomposição">saprófagos</span> ou <span style="color:blue" title="Animais que possuem hábito alimentar não seletivo, que utiliza material morto e em decomposição, como fonte energética, auxiliando na ciclagem de nutrientes na natureza.">detritívoros</span> surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref> | ||
O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref> | O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref> | ||
Linha 45: | Linha 45: | ||
Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O<sub>2</sub>) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O<sub>2</sub> por L de água do mar. | Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O<sub>2</sub>) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O<sub>2</sub> por L de água do mar. | ||
Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia | Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de <span style="color:blue" title="Condição físico-química na qual a concentração de oxigênio dissolvido na água é menor que 0,2 mL/L.">hipóxia</span>. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo.<ref>Levin, L. A. 2003. Oxygen Minimum Zone benthos: adaptation and community response to hypoxia. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 1-45. </ref> | ||
'''CORAIS DE MAR PROFUNDO''' | '''CORAIS DE MAR PROFUNDO''' | ||
Linha 51: | Linha 51: | ||
Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi: 10.3389/fmars.2021.621151.</ref> | Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi: 10.3389/fmars.2021.621151.</ref> | ||
Sendo os corais organismos suspensívoros | Sendo os corais organismos <span style="color:blue" title="Hábito alimentar não seletivo, no qual os organismos utilizam partículas orgânicas suspensas na água ao alcance de suas estruturas alimentares, por meio de filtração, captura ou aprisionamento. ">suspensívoros</span>, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de <span style="color:blue" title="Microalgas simbiontes de diversos organismos marinhos de ambientes recifais, como corais, tridacnas (moluscos)">zooxantelas</span>.<ref>Lim et al, 2020.</ref> | ||
'''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS''' | '''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS''' | ||
Linha 59: | Linha 59: | ||
Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref> | Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref> | ||
Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies sésseis | Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies <span style="color:blue" title="Hábito de vida fixo do organismo adulto em algum tipo de substrato, sem movimentação ativa.">sésseis</span> ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (''hotspots'') no mar profundo.<ref>Rowden, A. A., Schlacher, T. A., Williams, A., Clark, M. R., Stewart, R., Althaus, F., … Dowdney, J. (2010). A test of the seamount oasis hypothesis: seamounts support higher epibenthic megafaunal biomass than adjacent slopes. Marine Ecology, 31, 95–106. doi:10.1111/j.1439-0485.2010.00369.x </ref> | ||
No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras. | No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras. | ||
Linha 86: | Linha 86: | ||
Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central),<ref>Lodge, M.; Johnson, D.; Le Gurun, G.; Wengler, M.; Weaver, P.; Gunn, V. 2014. Seabed mining: International Seabed Authority environmental management plan for the Clarion-Clipperton Zone. A partnership approach. Marine Policy, 49, 66-72. doi: 10.1016/j.marpol.2014.04.006</ref> e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul,<ref>Montserrat, F.; Guilhon, M.; Corrêa, P. V. F.; Bergo, N. M.; Signori, C. N.; Tura, P. M.; Maly, M. de los S.; Moura, D.; Jovane, L.; Pellizari, V.; Sumida, P. Y. G.; Brandini, F. P.; Turra, A. 2019. Deep-sea mining on the rio Grande Rise (Southewestern Atlantic): a review on environmental baseline, ecosystem services and potential impacts. Deep-Sea Research I, 45, p. 31-58. </ref> são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho.<ref>Jones, D. O. B.; Simon-Llédo, E.; Amon, D. J.; Bett, B. J.; Caulle, C.; Clément, L.; Connelly, D. P.; Dahlgren, T. G.; Durden, J. M.; Drazen, J. G.; Felden, J.; Gates, A. R.; Georgieva, M. N.; Glover, A. G.; Gooday, A. J.; Hollingsworth, A. L.; Horton, T.; James, R. H.; Jeffreys, R. M.; Laguionie-Marchais, C.; Leitner, A. B.; Lichtschlag, A.; Menendez, A.; Paterson, G. L. J.; Peel, K.; Robert, K.; Schoening, T.; Shulga, N. A.; Smith, C. R.; Taboada, A.; Thurnerr, A. M.; Wiklund, H.; Young, C. R.; Huvenne, V. A. I. 2021. Environemnte, ecology and potential effectiveness of an area protected from deep-sea mining (Clarion Clipperton Zone, abyssal Pacific). Progress in Oceanography, 197: 102653</ref> Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> | Além disso, regiões como planícies abissais (e.g. Clarion-Clipperton, no oceano Pacifico central),<ref>Lodge, M.; Johnson, D.; Le Gurun, G.; Wengler, M.; Weaver, P.; Gunn, V. 2014. Seabed mining: International Seabed Authority environmental management plan for the Clarion-Clipperton Zone. A partnership approach. Marine Policy, 49, 66-72. doi: 10.1016/j.marpol.2014.04.006</ref> e altos, como a Elevação de Rio Grande, no Atlântico Sul,<ref>Montserrat, F.; Guilhon, M.; Corrêa, P. V. F.; Bergo, N. M.; Signori, C. N.; Tura, P. M.; Maly, M. de los S.; Moura, D.; Jovane, L.; Pellizari, V.; Sumida, P. Y. G.; Brandini, F. P.; Turra, A. 2019. Deep-sea mining on the rio Grande Rise (Southewestern Atlantic): a review on environmental baseline, ecosystem services and potential impacts. Deep-Sea Research I, 45, p. 31-58. </ref> são locais de interesse comercial pela quantidade de nódulos polimetálicos existentes junto ao fundo marinho.<ref>Jones, D. O. B.; Simon-Llédo, E.; Amon, D. J.; Bett, B. J.; Caulle, C.; Clément, L.; Connelly, D. P.; Dahlgren, T. G.; Durden, J. M.; Drazen, J. G.; Felden, J.; Gates, A. R.; Georgieva, M. N.; Glover, A. G.; Gooday, A. J.; Hollingsworth, A. L.; Horton, T.; James, R. H.; Jeffreys, R. M.; Laguionie-Marchais, C.; Leitner, A. B.; Lichtschlag, A.; Menendez, A.; Paterson, G. L. J.; Peel, K.; Robert, K.; Schoening, T.; Shulga, N. A.; Smith, C. R.; Taboada, A.; Thurnerr, A. M.; Wiklund, H.; Young, C. R.; Huvenne, V. A. I. 2021. Environemnte, ecology and potential effectiveness of an area protected from deep-sea mining (Clarion Clipperton Zone, abyssal Pacific). Progress in Oceanography, 197: 102653</ref> Bem como fontes hidrotermais, que concentram diversos minerais de alto valor econômico como o cobre, chumbo, prata, ouro e zinco. Por isso, muitas vezes estes ecossistemas são alvos de mineração submarina, causando estresse e possíveis danos nos seres que ali habitam.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> | ||
Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente,<ref>Pusceddu, A.; Bianchelli, S.; Martín, J.; Puig, P.; Palanques, A.; Masqué, P.; Danovaro, R. 2014. Chronic and intensive bottom trawling impairs deep-sea biodiversity and ecosystem functioning. PNAS, 111, n. 24, 8861-8866.</ref> além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do bycatch | Outra atividade humana que impacta diretamente os ecossistemas marinhos de mar profundo é a pesca desenfreada. Diversas espécies de interesse comercial que residem junto ao fundo do mar (com hábito de vida bentônico ou demersal), como alguns peixes e crustáceos (caranguejos, camarões, lagostas) são pescados com o uso de redes de arrasto de fundo que causam grandes estragos ao carregar quaisquer materiais e animais que encontram pela frente,<ref>Pusceddu, A.; Bianchelli, S.; Martín, J.; Puig, P.; Palanques, A.; Masqué, P.; Danovaro, R. 2014. Chronic and intensive bottom trawling impairs deep-sea biodiversity and ecosystem functioning. PNAS, 111, n. 24, 8861-8866.</ref> além de armadilhas, que também nem sempre são bem-sucedidas em separar a espécie-alvo do <span style="color:blue" title="Todo o material vivo coletado ou pescado junto de uma espécie-alvo, e que é descartado por não ter interesse comercial.">bycatch</span>. | ||
Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos.<ref>Jamieson A. J., Brooks L. S. R., Reid W. D. K., Piertney S. B., Narayanaswamy B. E. and Linley T. D. 2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 <nowiki>http://doi.org/10.1098/rsos.180667</nowiki></ref> | Por fim, as atividades humanas também afetam os animais de mar profundo de forma indireta. Em 2019 foi detectado pela primeira vez a presença de microplásticos dentro de animais marinhos (crustáceos anfípodes) de seis trincheiras oceânicas distintas (Japão, Izu-Bonin, Mariana, Kermadec, Novas Hébridas e trincheiras Peru-Chile), em profundidades variando de 7.000 m a 10.890 m. Além disso, observaram que mais de 72% dos indivíduos examinados continham pelo menos uma micropartícula em seu organismo, ilustrando que os contaminantes plásticos ocorrem até nas regiões mais profundas dos oceanos.<ref>Jamieson A. J., Brooks L. S. R., Reid W. D. K., Piertney S. B., Narayanaswamy B. E. and Linley T. D. 2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 <nowiki>http://doi.org/10.1098/rsos.180667</nowiki></ref> |
edições