Mudanças entre as edições de "Desastres ambientais no ambiente costeiro e marinho"

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 Ao entrar em contato com o óleo, os animais marinhos de valor comercial passam a representar uma ameaça à economia. A contaminação em massa de recursos pesqueiros provoca uma alta taxa de mortalidade, e consequentemente um prejuízo econômico para pescadores e maricultores. Assim, comunidades tradicionais e o comércio são fragilizados, sendo necessária a busca por outras alternativas para meios de subsistência e lucro.<ref>Gonçalves, L. R., Webster, D. G., Young, O., Polette, M., & Turra, A. (2020). The Brazilian Blue Amazon under threat: Why has the oil spill continued for so long?. Ambiente & Sociedade, 23.</ref>
 Ao entrar em contato com o óleo, os animais marinhos de valor comercial passam a representar uma ameaça à economia. A contaminação em massa de recursos pesqueiros provoca uma alta taxa de mortalidade, e consequentemente um prejuízo econômico para pescadores e maricultores. Assim, comunidades tradicionais e o comércio são fragilizados, sendo necessária a busca por outras alternativas para meios de subsistência e lucro.<ref>Gonçalves, L. R., Webster, D. G., Young, O., Polette, M., & Turra, A. (2020). The Brazilian Blue Amazon under threat: Why has the oil spill continued for so long?. Ambiente & Sociedade, 23.</ref>


'''Derramamento de óleo Nordeste, 2019'''  
'''Derramamento de óleo Nordeste, 2019'''<ref>Vieira, D. S. (2021). Derramamento de óleo no litoral do nordeste do Brasil.</ref>


 Em 30 de agosto de 2019, foi identificado o maior desastre ambiental envolvendo derramamento de petróleo do Brasil. Inicialmente, o óleo apareceu em algumas praias do Nordeste brasileiro e rapidamente se espalhou pelo oceano, atingindo o litoral Sudeste. Investigações do Governo Federal tinham como objetivo descobrir qual a origem do óleo e o local inicial do derramamento. Assim, foi constatado que a fonte principal estaria a mais de 700 quilômetros da costa brasileira e que mais de 2.000 km de praias foram atingidas por cerca de 5.000 toneladas de óleo, incluindo os nove estados do Nordeste, e dois do Sudeste, sendo estes Rio de Janeiro e Espírito Santo.  
 Em 30 de agosto de 2019, foi identificado o maior desastre ambiental envolvendo derramamento de petróleo do Brasil. Inicialmente, o óleo apareceu em algumas praias do Nordeste brasileiro e rapidamente se espalhou pelo oceano, atingindo o litoral Sudeste. Investigações do Governo Federal tinham como objetivo descobrir qual a origem do óleo e o local inicial do derramamento. Assim, foi constatado que a fonte principal estaria a mais de 700 quilômetros da costa brasileira e que mais de 2.000 km de praias foram atingidas por cerca de 5.000 toneladas de óleo, incluindo os nove estados do Nordeste, e dois do Sudeste, sendo estes Rio de Janeiro e Espírito Santo.  
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 Em outubro de 2019, o governo brasileiro divulgou a compatibilidade do óleo encontrado nas praias com o obtido em campos petrolíferos venezuelanos. (Marinha  do  Brasil,  2019). Em novembro do mesmo ano, um navio de bandeira grega foi apontado como suspeito da origem do óleo (Ministério Público Federal, 2019). As dificuldades que permearam a averiguação dos fatos se baseiam no caso da posição geográfica da costa brasileira. Isso porque está localizada próxima ao Canal do Panamá, região de intenso tráfego de navios mercantes entre o oceano Pacífico e Atlântico. Ou seja, os danos causados vão além das jurisdições brasileiras, prejudicando assim a identificação dos responsáveis, como também a especificação das possíveis medidas de contenção e recuperação das áreas afetadas.
 Em outubro de 2019, o governo brasileiro divulgou a compatibilidade do óleo encontrado nas praias com o obtido em campos petrolíferos venezuelanos. (Marinha  do  Brasil,  2019). Em novembro do mesmo ano, um navio de bandeira grega foi apontado como suspeito da origem do óleo (Ministério Público Federal, 2019). As dificuldades que permearam a averiguação dos fatos se baseiam no caso da posição geográfica da costa brasileira. Isso porque está localizada próxima ao Canal do Panamá, região de intenso tráfego de navios mercantes entre o oceano Pacífico e Atlântico. Ou seja, os danos causados vão além das jurisdições brasileiras, prejudicando assim a identificação dos responsáveis, como também a especificação das possíveis medidas de contenção e recuperação das áreas afetadas.


Devido a evolução da dispersão do óleo, sua presença foi notada em aproximadamente metade da extensão litorânea do Brasil. As correntes marítimas são as responsáveis pelo espalhamento do petróleo. Neste caso, é provável que a Corrente Sul-equatorial e Corrente do Brasil tenham levado o contaminante a alcançar regiões mais distantes do possível ponto de partida.
Devido a evolução da dispersão do óleo, sua presença foi notada em aproximadamente metade da extensão litorânea do Brasil. As correntes marítimas são as responsáveis pelo espalhamento do petróleo. Neste caso, é provável que a Corrente Sul-equatorial e Corrente do Brasil tenham levado o contaminante a alcançar regiões mais distantes do possível ponto de partida.<ref>BEIRÃO, A. P.; MARQUES, M.; RUSCHEL, R. (org.). O VALOR DO MAR: uma visão integrada dos recursos do oceano do brasil. 2. ed. São Paulo: Essential Idea Editora, 2020. 247 p.</ref>


Além do acometimento de praias, estuários e costões rochosos, ecossistemas como manguezais e recifes de corais também foram comprometidos. A contaminação dos manguezais é ainda preocupante, pois funcionam como zonas de reprodução e berçários para inúmeras espécies. Além disso, do ponto de vista geoquímico, o ambiente retém o contaminante juntamente com o sedimento, uma vez que a lama é altamente porosa. Assim, torna-se complexa a remoção do óleo nessas áreas, fator que desencadeia a mortalidade de diversas espécies que vivem e se reproduzem permanente ou temporariamente ali.
Além do acometimento de praias, estuários e costões rochosos, ecossistemas como manguezais e recifes de corais também foram comprometidos. A contaminação dos manguezais é ainda preocupante, pois funcionam como zonas de reprodução e berçários para inúmeras espécies. Além disso, do ponto de vista geoquímico, o ambiente retém o contaminante juntamente com o sedimento, uma vez que a lama é altamente porosa. Assim, torna-se complexa a remoção do óleo nessas áreas, fator que desencadeia a mortalidade de diversas espécies que vivem e se reproduzem permanente ou temporariamente ali<ref>UCHÔA, Victor. '''Danos do óleo no litoral do Nordeste vão durar décadas, dizem oceanógrafos'''. 2019. Disponível em: <nowiki>https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50131560</nowiki>. Acesso em: 30 out. 2021.</ref>.


Outro ponto marcante em consequência do acontecimento foi o impacto gerado na economia local. A diminuição na procura por pescado em decorrência da contaminação de peixes e mariscos foi considerável, prejudicando a economia familiar, já que a renda de populações locais foi drasticamente reduzida. Como o Nordeste brasileiro é mundialmente conhecido pela força de seu turismo, este setor também foi atingido. Hotéis e outros meios de hospedagem tiveram suas reservas canceladas e os serviços de bares, restaurantes e quiosques foram minimamente aproveitados neste período.
Outro ponto marcante em consequência do acontecimento foi o impacto gerado na economia local. A diminuição na procura por pescado em decorrência da contaminação de peixes e mariscos foi considerável, prejudicando a economia familiar, já que a renda de populações locais foi drasticamente reduzida. Como o Nordeste brasileiro é mundialmente conhecido pela força de seu turismo, este setor também foi atingido. Hotéis e outros meios de hospedagem tiveram suas reservas canceladas e os serviços de bares, restaurantes e quiosques foram minimamente aproveitados neste período.

Edição das 19h06min de 28 de julho de 2022

 O ambiente costeiro e marinho está constantemente suscetível a diversos acidentes ambientais, podendo ser causados naturalmente, ou por ações antrópicas. Atividades vulcânicas, tectonismo e tsunamis são alguns fenômenos naturais que afetam a costa e o oceano. Já o rompimento de barragens de rejeitos, o derramamento de óleo e explosões de plataformas petrolíferas são exemplos de acidentes causados por falhas humanas.

 Derramamentos de óleo nem sempre são acidentais, já que podem ser causados por vários fatores como problemas com navios, plataformas petroleiras, acidentes com embarcações menores, e também por negligência humana, considerando o descarte irregular de resíduos originados em navios cargueiros. O mundo já presenciou algumas catástrofes ambientais geradas pelo derramamento de petróleo no oceano (e.g. derramamento de petróleo no Golfo do México em 2010). No Brasil também foram constatados alguns desastres neste contexto, como o derramamento de 6 mil toneladas de óleo na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro em 1975 e no Nordeste em 2019.

 O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos (moléculas de carbono e hidrogênio) menos densa que a água. Este é um recurso extremamente importante economicamente, pois é um combustível fóssil muito utilizado para a geração de energia em escala mundial. O transporte do petróleo é feito por grandes navios e seu ciclo de produção ocorre em refinarias localizadas em proximidade a alguns corpos hídricos, como por exemplo, rios e estuários. A grande preocupação relacionada ao derramamento de óleo no mar deve-se ao fato de que quando este entra em contato com a água, torna-se um poluente persistente. Ou seja, possui um elevado tempo de residência no ambiente marinho. Com o despejo do óleo na água, há formação de manchas, que por serem menos densas que a água, se dispõem na superfície. Como a degradação natural do petróleo é muito lenta, podendo levar décadas, a remoção dessas manchas deve ser feita com técnicas especializadas, devido à persistência e toxicidade do material.

Impactos na vida marinha

As manchas formam camadas na superfície que bloqueiam a entrada de luz na água, inviabilizando a fotossíntese pelo fitoplâncton e atrapalhando as trocas gasosas do oceano com a atmosfera. Ademais, os hidrocarbonetos do petróleo são contaminantes acumulativos nos sistemas de organismos aquáticos e até mesmo de aves marinhas e terrestres. O óleo pode alterar desde a morfologia e a reprodução do fitoplâncton, até provocar a asfixia de animais da megafauna como peixes, que ao absorver os fluidos, têm suas brânquias obstruídas, impedindo as trocas gasosas com o ambiente. As aves ficam recobertas pelo óleo, impossibilitando o vôo e a regulação térmica, levando-as à morte. Portanto, há uma grande perda de biodiversidade e desequilíbrio de variados ecossistemas em regiões afetadas pelo derramamento de óleo.

Impactos na sociedade

 Ao entrar em contato com o óleo, os animais marinhos de valor comercial passam a representar uma ameaça à economia. A contaminação em massa de recursos pesqueiros provoca uma alta taxa de mortalidade, e consequentemente um prejuízo econômico para pescadores e maricultores. Assim, comunidades tradicionais e o comércio são fragilizados, sendo necessária a busca por outras alternativas para meios de subsistência e lucro.[1]

Derramamento de óleo Nordeste, 2019[2]

 Em 30 de agosto de 2019, foi identificado o maior desastre ambiental envolvendo derramamento de petróleo do Brasil. Inicialmente, o óleo apareceu em algumas praias do Nordeste brasileiro e rapidamente se espalhou pelo oceano, atingindo o litoral Sudeste. Investigações do Governo Federal tinham como objetivo descobrir qual a origem do óleo e o local inicial do derramamento. Assim, foi constatado que a fonte principal estaria a mais de 700 quilômetros da costa brasileira e que mais de 2.000 km de praias foram atingidas por cerca de 5.000 toneladas de óleo, incluindo os nove estados do Nordeste, e dois do Sudeste, sendo estes Rio de Janeiro e Espírito Santo.  

 Em outubro de 2019, o governo brasileiro divulgou a compatibilidade do óleo encontrado nas praias com o obtido em campos petrolíferos venezuelanos. (Marinha  do  Brasil,  2019). Em novembro do mesmo ano, um navio de bandeira grega foi apontado como suspeito da origem do óleo (Ministério Público Federal, 2019). As dificuldades que permearam a averiguação dos fatos se baseiam no caso da posição geográfica da costa brasileira. Isso porque está localizada próxima ao Canal do Panamá, região de intenso tráfego de navios mercantes entre o oceano Pacífico e Atlântico. Ou seja, os danos causados vão além das jurisdições brasileiras, prejudicando assim a identificação dos responsáveis, como também a especificação das possíveis medidas de contenção e recuperação das áreas afetadas.

Devido a evolução da dispersão do óleo, sua presença foi notada em aproximadamente metade da extensão litorânea do Brasil. As correntes marítimas são as responsáveis pelo espalhamento do petróleo. Neste caso, é provável que a Corrente Sul-equatorial e Corrente do Brasil tenham levado o contaminante a alcançar regiões mais distantes do possível ponto de partida.[3]

Além do acometimento de praias, estuários e costões rochosos, ecossistemas como manguezais e recifes de corais também foram comprometidos. A contaminação dos manguezais é ainda preocupante, pois funcionam como zonas de reprodução e berçários para inúmeras espécies. Além disso, do ponto de vista geoquímico, o ambiente retém o contaminante juntamente com o sedimento, uma vez que a lama é altamente porosa. Assim, torna-se complexa a remoção do óleo nessas áreas, fator que desencadeia a mortalidade de diversas espécies que vivem e se reproduzem permanente ou temporariamente ali[4].

Outro ponto marcante em consequência do acontecimento foi o impacto gerado na economia local. A diminuição na procura por pescado em decorrência da contaminação de peixes e mariscos foi considerável, prejudicando a economia familiar, já que a renda de populações locais foi drasticamente reduzida. Como o Nordeste brasileiro é mundialmente conhecido pela força de seu turismo, este setor também foi atingido. Hotéis e outros meios de hospedagem tiveram suas reservas canceladas e os serviços de bares, restaurantes e quiosques foram minimamente aproveitados neste período.

Pesquisas continuam sendo desenvolvidas para a obtenção de mais informações sobre a catástrofe ocorrida e sobre as ações que ainda devem ser executadas no presente e no futuro, a fim de atenuar os efeitos do derramamento de óleo e evitar que acidentes e crimes ambientais continuem ocorrendo. As investigações foram concluídas pela Polícia Federal em dezembro de 2021. Indícios apontam para um navio petroleiro grego como responsável do crime ambiental. Os responsáveis  foram indiciados pela prática dos crimes de poluição, descumprimento de obrigação ambiental e dano a unidades de conservação (previstos nos Artigos 40, 54 e 68 da Lei 9.605/98[5]).

Efeitos de barragens

Barragens são grandes estruturas que têm por função reter ou dispor materiais líquidos ou sólidos, como a água, no caso das usinas hidrelétricas, e rejeitos, no caso da mineração.

Barragens de rejeitos[6]

As barragens de rejeitos são utilizadas para conter os materiais não aproveitados após o beneficiamento dos minérios, que é o processo de separação da parte de interesse, da parte sem valor comercial. Basicamente, esse procedimento consiste no uso de grandes quantidades de água, para ser misturada com os rejeitos. Até as barragens estarem cheias, a mistura de rejeitos com água forma uma lama, que fica ali até a decantação das partículas sólidas, de modo que mais rejeitos possam ser depositados ali.

As barragens podem ser feitas tanto com o próprio rejeito, como também com solo e sedimento  compactado ou com blocos de rochas, constituídos predominantemente de areia, sem componentes tóxicos. Devem possuir sistemas de impermeabilização e drenagem. Para garantir uma melhor estabilização das barragens, é necessário que haja um planejamento para escolher o tipo de barragem, de acordo com a natureza do rejeito que será depositado.

Existem três tipos principais de barragens qualificadas pelo método de construção, os quais são:[7]

  1. Barragem de alteamento a jusante[8]: Neste tipo, a disposição da barragem se assemelha a uma pirâmide. Isso garante maior segurança ao barramento, à medida que o material se deposita;
  2. Barragem por alteamento a montante: Consiste na construção de degraus com o próprio material rejeitado, no qual a barragem se eleva ao passo que o volume de rejeitos aumenta. É um método mais simples, mas não muito seguro;
  3. Barragem de linha de centro: Possui disposição semelhante ao método a montante, com a diferença de que há um acompanhamento de um dreno pelo alteamento da construção, o qual lança os rejeitos a partir da crista do dique inicial.

Impactos sociais e ambientais

A construção de barragens demanda espaço e recursos específicos, e de uma maneira geral, comunidades rurais que habitam nas regiões demarcadas podem ter que ser realocadas, deixando suas casas e suas vidas.

Em relação à sedimentação, pode-se dizer que as barragens interferem no aporte de sedimentos e nutrientes, provocando  mudanças na zona costeira, atingindo tanto os recursos vivos quanto os recursos não-vivos. [9]Como já exposto anteriormente, as barragens retém e transformam o material. Isso pode alterar a dinâmica natural dos fluxos de materiais em uma bacia, bem como seu transporte na interface continente-oceano e deposição, originando novas formas de leito. Além disso, pode contribuir para a ocorrência de processos erosivos à jusante da bacia.

A água dos rios é rica em sedimentos constituídos por nutrientes, que alimentam peixes e outros seres vivos. As barragens bloqueiam o fluxo natural da água, impedindo o livre transporte e consequentemente, a disposição de alimento para a fauna. Além disso, muitas espécies migratórias são prejudicadas e até extintas, uma vez que precisam do ambiente para alimentação e reprodução.

Rompimento de barragens e suas consequências

O rompimento de barragens pode ter tanto causas naturais como causas antrópicas. No primeiro caso, ocorre em decorrência de fenômenos da natureza, como por exemplo: tsunamis e terremotos. Já no segundo caso, por falhas humanas, seja por má escolha do local de implementação, ou por erros na operação das barragens previamente instaladas.

Apesar dos rejeitos de barragens não serem tóxicos, ao se misturar com a água, se depositam, virando uma lama pesada, a qual devasta a vegetação e áreas de migração e berçário para algumas espécies, provoca a morte de animais por sufocamento e deixa a água dos rios imprópria para qualquer tipo de consumo.

Além do perigo oferecido para as vidas de trabalhadores e comunidades habitantes dessas regiões, o rompimento de barragens gera uma série de prejuízos para a economia local, já que há comprometimento de estoques pesqueiros, bem como a redução de empregos e consequentemente de renda. Como a lama contamina a água dos rios, fica inviável o consumo e o abastecimento rural e urbano.

A falta de monitoramento e fiscalização também contribuem para a ruptura. As inspeções de barragens devem ser feitas periodicamente, e em seguida há necessidade de elaboração de relatórios de segurança completos, para a identificação de possíveis problemas e proposição de sugestões de correção dentro de um limite de tempo adequado, já que o rompimento de barragens ocorre ao longo prazo. Além disso, é indispensável o planejamento de ações emergenciais, para evitar desastres que atingem a saúde, segurança e vida dos trabalhadores e moradores da região, bem como do meio ambiente.

Prevenção do rompimento de barragens

As empresas mineradoras são responsáveis pelo monitoramento regular e preventivo de barragens. Isso é feito com algumas tecnologias como: laser terrestre, geofísica para barragens e a batimetria.

É um método simples, barato e de alta precisão, que consiste em um equipamento que emite um feixe de luz com um alcance de até 2000 metros. Esse feixe alcança obstáculos visíveis e retorna com informações em 3D de cada ponto. O acompanhamento dos resultados é feito em tempo real e os dados coletados ficam em uma nuvem de pontos georreferenciados. A partir disso, são extraídos os volumes e curvas de níveis, que apontam informações específicas sobre o estado das barragens.

A geofísica para barragens é um método não invasivo, que gera respostas rápidas, além de possuir um menor custo. Inicialmente, os métodos geofísicos utilizados detectam o melhor terreno para a implementação, reconhecem estruturas instáveis em subsuperfície (falhas e fraturas). Já na fase de monitoramento, auxilia na determinação de descontinuidades e na verificação do grau de saturação da estrutura. Os métodos geofísicos são:

  1. Ground Penetrating Radar (GPR): Mapeia e identifica estruturas de 3 a 20 metros, ideal para a localização de anomalias em maciços rochosos que apresentam coberturas de solo;
  2. Refração sísmica: Utilizada em profundidades de até 50 metros, geralmente no início das construções de barragens, a fim de realizar a identificação de corpos rochosos e para determinação do nível da água, fundação da barragem e estruturas anexas;
  3. Geoelétricos: Caracterizada por coletar numerosas quantidades de dados, em diferentes profundidades, desde as mais rasas até as mais profundas. Utiliza-se a eletrorresistividade (investigação geofísica baseada na injeção de corrente elétrica no solo, para medir a resistividade do meio, com a finalidade de reconhecer estruturas e tipos de rocha em subsuperfície) e o potencial espontâneo (indica tendências de fluxo de água a partir da geração de uma diferença de potencial, por meio da percolação de água em fraturas e falhas).

A batimetria é um método de medição de profundidade dos oceanos, lagos, rios, barragens e represas. Basicamente, essa técnica consiste no levantamento de dados de topografia do fundo de barragens e reservatórios. Assim, é possível verificar o assoreamento, sua capacidade volumétrica e o volume da massa d’ água.

Segundo resolução da Agência Nacional de Mineração (ANM), instituída em julho de 2020 pelo Governo Federal, é obrigatório o uso de sistemas de monitoramento automatizado de barragens de rejeito. [13]Outro mecanismo de prevenção que reduz os riscos de rompimentos, é o tratamento e reutilização dos rejeitos, a fim de gerar mais segurança e sustentabilidade. Estes podem ser tratados e transformados em cimento ou pigmento.

Os maiores desastres envolvendo barragens no Brasil

Em novembro de 2015, no subdistrito de Bento Rodrigues no município de Mariana em Minas Gerais, a barragem de Fundão se rompeu, marcando um dos maiores desastres ambientais com barragens no mundo. A lama tóxica contaminou a principal bacia hidrográfica do sudeste brasileiro. As consequências destas catástrofes não se resumem apenas aos reservatórios de águas continentais (doce), mas eventualmente chegam ao oceano, desencadeando uma série de problemas. Recifes de corais, berçários de tartarugas marinhas no Oceano Atlântico receberam a lama tóxica, ocasionando grande perda de biodiversidade.[14]

Semelhantemente, em 25 de janeiro de 2019 ocorreu o rompimento da barragem de Córrego do Feijão em Brumadinho, Minas Gerais. [15]Cerca de 14 milhões de toneladas de lama e rejeitos de minério de ferro foram despejados. Além das vidas perdidas, o Rio Paraopeba ficou completamente poluído, necessitando urgentemente de planos de recuperação.

REFERÊNCIAS

Gonçalves, L. R., Webster, D. G., Young, O., Polette, M., & Turra, A. (2020). The Brazilian Blue Amazon under threat: Why has the oil spill continued for so long?. Ambiente & Sociedade, 23.

Vieira, D. S. (2021). Derramamento de óleo no litoral do nordeste do Brasil.

Informações oficiais adicionais: http://www.ibama.gov.br/manchasdeoleo

Marinha  do  Brasil  (2019c). Nota  à  imprensa  (25  de  outubro  de  2019).https://www.marinha.mil.br/sites/default/files/nota_a_imprensa_25ut.pdf

Ministério Público Federal (2019). Operação Mácula: MPF e PF no RN obtêm mandados envolvendo   navio   suspeito   de   derramamento   de   óleo. https://racismoambiental.net.br/2019/11/02/operacao-macula-mpf-e-pf-no-rn-obtem-mandados-envolvendo-navio-suspeito-de-derramamento-de-oleo/

Danos do óleo no litoral do Nordeste vão durar décadas, dizem oceanógrafos - BBC News Brasil

BEIRÃO, A. P.; MARQUES, M.; RUSCHEL, R. (org.). O VALOR DO MAR: uma visão integrada dos recursos do oceano do brasil. 2. ed. São Paulo: Essential Idea Editora, 2020. 247 p.

https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2021/12/02/pf-conclui-investigacao-e-diz-que-navio-grego-foi-responsavel-por-derramamento-de-oleo-que-atingiu-litoral-brasileiro.ghtml

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm


https://www.geoscan.com.br/blog/barragem-de-rejeito/

Araújo (2006): Contribuição ao estudo do comportamento de barragens de rejeito de

mineração de ferro. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil.

Hazin, F. H. V. (2012). Relatório da sessão “Mar e ambientes costeiros”. Parcerias Estratégicas, 15(31), 341-350.

https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/rejeitos-de-min%C3%A9rio-de-ferro-n%C3%A3o-s%C3%A3o-t%C3%B3xicos-mas-podem-sedimentar-rio-e-matar-animais-e-vegeta%C3%A7%C3%A3o-1.688826

https://miranteengenharia.com.br/laser-scanner-terrestre/

https://www.geoscan.com.br/blog/geofisica-para-barragem/

https://www.ergbh.com.br/batimetria/

https://www.oeco.org.br/noticias/rompimento-da-barragem-de-brumadinho-e-a-primeira-grande-tragedia-ambiental-do-ano/

  1. Gonçalves, L. R., Webster, D. G., Young, O., Polette, M., & Turra, A. (2020). The Brazilian Blue Amazon under threat: Why has the oil spill continued for so long?. Ambiente & Sociedade, 23.
  2. Vieira, D. S. (2021). Derramamento de óleo no litoral do nordeste do Brasil.
  3. BEIRÃO, A. P.; MARQUES, M.; RUSCHEL, R. (org.). O VALOR DO MAR: uma visão integrada dos recursos do oceano do brasil. 2. ed. São Paulo: Essential Idea Editora, 2020. 247 p.
  4. UCHÔA, Victor. Danos do óleo no litoral do Nordeste vão durar décadas, dizem oceanógrafos. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50131560. Acesso em: 30 out. 2021.
  5. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
  6. Araújo (2006): Contribuição ao estudo do comportamento de barragens de rejeito de mineração de ferro. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
  7. GEOSCAN. Barragem de Rejeito: O que são e como evitar rompimentos. 2020. Disponível em: https://www.geoscan.com.br/blog/barragem-de-rejeito/. Acesso em: 30 mar. 2021.
  8. https://pt.wikipedia.org/wiki/A_montante_e_a_jusante_(hidr%C3%A1ulica)
  9. Hazin, F. H. V. (2012). Relatório da sessão “Mar e ambientes costeiros”. Parcerias Estratégicas, 15(31), 341-350.
  10. ENGENHARIA, Mirante. Laser Scanner Terrestre- Dinamismo e eficiência. Disponível em: https://miranteengenharia.com.br/laser-scanner-terrestre. Acesso em: 30 mar. 2021.
  11. GEOSCAN. Geofísica para barragem: Entenda como funciona. 2020. Disponível em: https://www.geoscan.com.br/blog/geofisica-para-barragem/. Acesso em: 30 mar. 2021.
  12. ENGENHARIA, Erg. Batimetria. Disponível em: https://www.ergbh.com.br/batimetria/. Acesso em: 30 mar. 2021.
  13. OLIVEIRA, Alexandre Vidigal de. Boletim do Setor Mineral. Brasília: Secretaria Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, 2020. Disponível em: http://antigo.mme.gov.br/documents/36108/1006289/Boletim+do+Setor+Mineral+-+julho+2020/abcdb81f-e8e6-dd16-243f-87e97f23f418?version=1.1. Acesso em: 28 jul. 2022.
  14. BAETA, Juliana. Rejeitos de minério de ferro não são tóxicos, mas podem sedimentar rio e matar animais e vegetação. 2021. Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/rejeitos-de-min%C3%A9rio-de-ferro-n%C3%A3o-s%C3%A3o-t%C3%B3xicos-mas-podem-sedimentar-rio-e-matar-animais-e-vegeta%C3%A7%C3%A3o-1.688826. Acesso em: 28 jul. 2022.
  15. RODRIGUES, Sabrina. Retrospectiva: Rompimento da barragem de Brumadinho foi a primeira grande tragédia ambiental do ano. 2019. Disponível em: https://oeco.org.br/noticias/rompimento-da-barragem-de-brumadinho-e-a-primeira-grande-tragedia-ambiental-do-ano/. Acesso em: 28 jul. 2022.