Mudanças entre as edições de "Mar Profundo"

1 178 bytes adicionados ,  11h37min de 14 de junho de 2023
sem sumário de edição
Linha 1: Linha 1:
A zona Epipelágica corresponde à primeira camada da coluna d’água, que vai da superfície dos oceanos até cerca de 200 metros de profundidade, que é zona que recebe incidência solar, e consequentemente onde ocorre a maior parte da fotossíntese (produtividade primária pelo <span style="color:blue" title="Microalgas que não possuem capacidade natatória, sendo carregadas pelas correntes.">fitoplâncton</span>).
A zona Epipelágica corresponde à primeira camada da coluna d’água, que vai da superfície dos oceanos até cerca de 200 metros de profundidade, que é zona que recebe incidência solar, e consequentemente onde ocorre a maior parte da fotossíntese (produtividade primária pelo <span style="color:blue" title="Microalgas que não possuem capacidade natatória, sendo carregadas pelas correntes.">fitoplâncton</span>).


Abaixo disso, existe o que se conhece como Mar Profundo, que constitui o maior ecossistema do planeta,<ref>Ramirez-Llodra, E.; Tyler, P. A.; Baker, M. C.; Bergstad, O. A.; Clark, M. P.; Escobar, E.; Levin, L. A.; Menot, L.; Rowden, A. A.; Smith, C. R.; Van Dover, C. L. 2021. Man and the last great wilderness: human impact on the deep-sea. PLoS One 6(7): e22588. doi: 10.1371/journal.pone.0022588</ref> com cerca de 326 milhões de km<sup>2</sup><sub>.</sub> <ref>Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016</nowiki></ref>  
Abaixo disso, existe o que se conhece como Mar Profundo, que constitui o maior ecossistema do planeta,<ref>Ramirez-Llodra, E.; Tyler, P. A.; Baker, M. C.; Bergstad, O. A.; Clark, M. P.; Escobar, E.; Levin, L. A.; Menot, L.; Rowden, A. A.; Smith, C. R.; Van Dover, C. L. 2021. Man and the last great wilderness: human impact on the deep-sea. PLoS One 6(7): e22588. doi: 10.1371/journal.pone.0022588</ref> com cerca de 326 milhões de km<sup>2</sup><sub>.</sub><ref>Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016</nowiki></ref>  


O mar profundo pode ser dividido em diferentes zonas, baseado em diversos aspectos oceanográficos, como profundidade e pressão, temperatura e salinidade3 (Paulus, 2021).
O mar profundo pode ser dividido em diferentes zonas, baseado em diversos aspectos oceanográficos, como profundidade e pressão, temperatura e salinidade.<ref>Paulus, 2021.</ref>


Entre essas zonas, temos:
Entre essas zonas, temos:
Linha 15: Linha 15:


= ECOLOGIA DE MAR PROFUNDO =
= ECOLOGIA DE MAR PROFUNDO =
Como dito anteriormente, o ambiente de mar profundo é caracterizado por altas pressões, temperaturas extremas, falta de luz, e escassez de nutrientes/alimento4 (Snelgrove; Grassler, 2019).  E mesmo com toda sua imensidão, especula-se que se conheça apenas 2% da fauna marinha a partir de 500 metros, de acordo com o Ocean Biogeographic Information System (OBIS)5 (Levin et al., 2019), justamente pela dificuldade de se chegar nesses ambientes.
Como dito anteriormente, o ambiente de mar profundo é caracterizado por altas pressões, temperaturas extremas, falta de luz, e escassez de nutrientes/alimento.<ref>Snelgrove, P. V. R.; Grassle, J. F. 2019. Deep-sea fauna. In: Steele, J. H. (Ed). Encylopedia of Oceans Sciences (3rd ed). Academic Press, pp. 706-714.</ref> E mesmo com toda sua imensidão, especula-se que se conheça apenas 2% da fauna marinha a partir de 500 metros, de acordo com o Ocean Biogeographic Information System (OBIS),<ref>Levin et al., 2019.</ref> justamente pela dificuldade de se chegar nesses ambientes.


Entretanto, estudos recentes demonstram a existência de alguns ecossistemas típicos de águas profundas6 (Feng et al., 2022), tratadas a seguir:
Entretanto, estudos recentes demonstram a existência de alguns ecossistemas típicos de águas profundas,<ref>Feng, J. C., Liang, J., Cai, Y., Zhang, S., Xue, J., & Yang, Z. (2022). Deep-sea organisms research oriented by deep-sea technologies development. Science bulletin, 67(17), 1802–1816. <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.scib.2022.07.016</nowiki></ref> tratadas a seguir:


FONTES HIDROTERMAIS
'''FONTES HIDROTERMAIS'''


As fontes hidrotermais são mais comumente encontradas em fundos marinhos formados por crosta oceânica recente, em regiões ativas tectonicamente, pelos quais ocorre a saída de fluidos em altas temperaturas (até ~ 400 °C) e ricos em minerais, como sulfetos e metais. As baixas concentrações de oxigênio desses fluidos favorece o crescimento de uma fauna baseada na quimiossíntese, com diversos organismos típicos desses habitats dependendo da relação com microorganismos simbiontes7 (Van Dover et al., 2002).  
As fontes hidrotermais são mais comumente encontradas em fundos marinhos formados por crosta oceânica recente, em regiões ativas tectonicamente, pelos quais ocorre a saída de fluidos em altas temperaturas (até ~ 400 °C) e ricos em minerais, como sulfetos e metais. As baixas concentrações de oxigênio desses fluidos favorece o crescimento de uma fauna baseada na quimiossíntese, com diversos organismos típicos desses habitats dependendo da relação com microorganismos simbiontes.<ref>Van Dover, C. L.; German, C. R.; Speer, K. G.; Parson, L. M.; Vrjenhoek, R. C. 2002. Evolution and biogeography of deep-sea vent and seep invertebrates. Science, v. 298, p. 1253-1257. </ref>


Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas8 (German; Von Damm, 2004), sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente9 (Hannington et al., 1995).
Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas,<ref>German, C. R.; Von Damm, K. L. 2004. Hydrothermal processes. In: Holland, H. D.; Turekian, K. K.; Elderfield, H. (Eds). Treatise on geochemistry, vol. 6. The oceans and marine geochemistry. Oxford, UK. Elsevier-Pergamon, pp. 181-222.</ref> sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente.<ref>Hannington, M. D.; Jonasson, I. R.; Herzig, P. M.; Petersen, S. 1995. Physical and chemical processes of seafloor mineralization at Mid-Ocean Ridges. In: Humphris, S. E.; Zierenberg, R. A.; Mullineaux, L. S.; Thomson, R. E. (Eds). Seafloor hydrothermal systems: physical, chemical, biological, and geological interactions.Geophysical Monograph, 91. American Geophysical Union: Washington, DC, pp. 115-157.</ref>


Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO2) em compostos orgânicos10 (Magdalena et al., 2021), servindo como base da cadeia alimentar quimiossintética, por meio de ecto- (fora) ou endossimbiose (dentro) com diversas espécies endêmicas*. Entre os organismos dessa fauna encontram-se: poliquetas tubulares da família Siboglinidae, moluscos como Bathymodiolus, Vesicomyidae, e Provannidae; além de crustáceos, como Alvinocarididae e Kiwa (Magdalena et al., 2021).
Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>) em compostos orgânicos10 (Magdalena et al., 2021), servindo como base da cadeia alimentar quimiossintética, por meio de ecto- (fora) ou endossimbiose com diversas espécies endêmicas*. Entre os organismos dessa fauna encontram-se: poliquetas tubulares da família Siboglinidae, moluscos como Bathymodiolus, Vesicomyidae, e Provannidae; além de crustáceos, como Alvinocarididae e Kiwa (Magdalena et al., 2021).


== INFILTRAÇÕES FRIAS ==
== INFILTRAÇÕES FRIAS ==
Linha 42: Linha 42:




ZONAS DE OXIGÊNIO MÍNIMO
 
'''ZONAS DE OXIGÊNIO MÍNIMO'''


Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O2) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O2 por L de água do mar.  
Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O2) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O2 por L de água do mar.  
Linha 48: Linha 49:
Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia*. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo20 (Levin, 2003).  
Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia*. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo20 (Levin, 2003).  


CORAIS DE MAR PROFUNDO
'''CORAIS DE MAR PROFUNDO'''


Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local21 (Montseny et al, 2021).
Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local21 (Montseny et al, 2021).
161

edições