Mudanças entre as edições de "Mar Profundo"

899 bytes adicionados ,  11h55min de 14 de junho de 2023
sem sumário de edição
Linha 68: Linha 68:
As fossas oceânicas são formadas pela convergência de duas placas tectônicas, que ficam uma sobre a outra. Assim, elas não são necessariamente fendas verticais, mas assimétricas, com um declive suave em direção ao centro da Terra.<ref>Stern, R. J. (2021) Ocean Trenches. In: Alderton, David; Elias, Scott A. (eds.) Encyclopedia of Geology, 2nd edition. vol. 3, pp. 845-854. United Kingdom: Academic Press. dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-102908-4.00099-0.</ref>  
As fossas oceânicas são formadas pela convergência de duas placas tectônicas, que ficam uma sobre a outra. Assim, elas não são necessariamente fendas verticais, mas assimétricas, com um declive suave em direção ao centro da Terra.<ref>Stern, R. J. (2021) Ocean Trenches. In: Alderton, David; Elias, Scott A. (eds.) Encyclopedia of Geology, 2nd edition. vol. 3, pp. 845-854. United Kingdom: Academic Press. dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-102908-4.00099-0.</ref>  


Ao contrário do que se pode pensar a princípio, as fossas oceânicas não são inabitadas. Suas baixas temperaturas não diferem das temperaturas comumente encontradas no mar profundo, bem como as concentrações de oxigênio dissolvido. Dessa maneira, a pressão extremamente alta é o verdadeiro aspecto físico que molda a vida nesses ambientes, bem como a baixa disponibilidade de alimento30 (Jamieson et al., 2010). Dito isso, grandes depósitos de sedimentos ricos em matéria orgânica oriundos da superfície dos oceanos já foram encontrados nas fossas oceânicas31 (Du et al., 2021).
Ao contrário do que se pode pensar a princípio, as fossas oceânicas não são inabitadas. Suas baixas temperaturas não diferem das temperaturas comumente encontradas no mar profundo, bem como as concentrações de oxigênio dissolvido. Dessa maneira, a pressão extremamente alta é o verdadeiro aspecto físico que molda a vida nesses ambientes, bem como a baixa disponibilidade de alimento.<ref>Jamieson, A. J.; Fujii, T.; Mayor, D. J.; Solan, M.; Priede, I. G. 2010. Hadal trenches: the ecology of the deepest places on Earth. Trends in Ecology and Evolution – Review, 25, n. 3, pp. 190-197.</ref> Dito isso, grandes depósitos de sedimentos ricos em matéria orgânica oriundos da superfície dos oceanos já foram encontrados nas fossas oceânicas.<ref>Du, M., Peng, X., Zhang, H., Ye, C., Dasgupta, S., Li, J., … Ta, K. (2021). Geology, environment, and life in the deepest part of the world’s oceans. The Innovation, 2(2), 100109. doi:10.1016/j.xinn.2021.100109.</ref>


Somente em 1901, pesquisadores encontraram pela primeira vez diversas espécies de metazoários, incluindo echiúros, equinodermes (Asteroidea, Ophiuroidea), e alguns peixes observados a 6.035 m de profundidade na Trincheira de Moseley (Du et al., 2021). Dado sua profundidade extrema, poucos estudos são realizados para compreender melhor os ecossistemas das trincheiras oceânicas, quando comparados ao estudo de ecossistemas oceânicos mais superficiais. Entretanto, recentemente vêm se demonstrando algumas adaptações morfológicas e fisiológicas dos organismos que vivem nesses ambientes. Por exemplo, para sobreviver à alta pressão, os peixes caracóis (família Liparidae) exibem altos volumes de tecidos gelatinosos, músculos aquosos, pele e escamas transparentes e finas, esqueleto não completamente calcificado, bem como crânio não fechado. Além disso, estes peixes possuem fortes maxilares e estômagos que inflam, possivelmente para aumentar sua capacidade de predação de crustáceos anfípodes, também encontrados nessas profundidades31 (Jamieson et al, 2019).
Somente em 1901, pesquisadores encontraram pela primeira vez diversas espécies de metazoários, incluindo echiúros, equinodermes (Asteroidea, Ophiuroidea), e alguns peixes observados a 6.035 m de profundidade na Trincheira de Moseley.<ref>Du, M., Peng, X., Zhang, H., Ye, C., Dasgupta, S., Li, J., … Ta, K. (2021). Geology, environment, and life in the deepest part of the world’s oceans. The Innovation, 2(2), 100109. doi:10.1016/j.xinn.2021.100109.</ref>  Dado sua profundidade extrema, poucos estudos são realizados para compreender melhor os ecossistemas das trincheiras oceânicas, quando comparados ao estudo de ecossistemas oceânicos mais superficiais. Entretanto, recentemente vêm se demonstrando algumas adaptações morfológicas e fisiológicas dos organismos que vivem nesses ambientes. Por exemplo, para sobreviver à alta pressão, os peixes caracóis (família Liparidae) exibem altos volumes de tecidos gelatinosos, músculos aquosos, pele e escamas transparentes e finas, esqueleto não completamente calcificado, bem como crânio não fechado. Além disso, estes peixes possuem fortes maxilares e estômagos que inflam, possivelmente para aumentar sua capacidade de predação de crustáceos anfípodes, também encontrados nessas profundidades.<ref>Jamieson A. J.,  Brooks L. S. R.,  Reid W. D. K.,  Piertney S. B.,  Narayanaswamy B. E. and  Linley T. D.  2019. Microplastics and synthetic particles ingested by deep-sea amphipods in six of the deepest marine ecosystems on EarthR. Soc. open sci.6180667180667 http://doi.org/10.1098/rsos.180667.</ref>


PLANÍCIES ABISSAIS
'''PLANÍCIES ABISSAIS'''


Removendo-se todos os ecossistemas de mar profundo mencionados anteriormente, ainda temos mais de 50% da superfície do planeta que não se enquadra em nenhuma de suas configurações, e sim como planícies abissais.  
Removendo-se todos os ecossistemas de mar profundo mencionados anteriormente, ainda temos mais de 50% da superfície do planeta que não se enquadra em nenhuma de suas configurações, e sim como planícies abissais.  
Linha 78: Linha 78:
Presentes em todas as bacias oceânicas, elas são caracterizadas por pequenas variações de profundidade (considerando grandes escalas horizontais), as correntes de baixa velocidade e temperatura entre 0,5 e 3 °C fazem com que a biomassa da fauna encontrada nessas regiões seja baixa, apesar de altos índices de diversidade específica encontrados em algumas dessas planícies, devido à limitação de alimento32 (Paulus, 2021).
Presentes em todas as bacias oceânicas, elas são caracterizadas por pequenas variações de profundidade (considerando grandes escalas horizontais), as correntes de baixa velocidade e temperatura entre 0,5 e 3 °C fazem com que a biomassa da fauna encontrada nessas regiões seja baixa, apesar de altos índices de diversidade específica encontrados em algumas dessas planícies, devido à limitação de alimento32 (Paulus, 2021).


IMPACTOS ANTROPOGÊNICOS
'''IMPACTOS ANTROPOGÊNICOS'''


Mesmo a quilômetros de distância da superfície oceânica e, por tanto, dos humanos, praticamente todos os ecossistemas de mar profundo são afetados por atividades antropogênicas, seja de forma direta ou indireta33 (Ramirez-Llodra et al., 2011).
Mesmo a quilômetros de distância da superfície oceânica e, por tanto, dos humanos, praticamente todos os ecossistemas de mar profundo são afetados por atividades antropogênicas, seja de forma direta ou indireta33 (Ramirez-Llodra et al., 2011).
161

edições