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Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas saprófagos* ou detritívoros* surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref>
Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas saprófagos* ou detritívoros* surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref>


O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais (Smith; Baco, 2003).
O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref>
 
 


'''ZONAS DE OXIGÊNIO MÍNIMO'''
'''ZONAS DE OXIGÊNIO MÍNIMO'''


Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O2) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O2 por L de água do mar.  
Encontrada em diferentes profundidades, até mais de 1000 m, essas zonas são caracterizadas por uma diminuição persistente de baixas concentrações de oxigênio (O<sub>2</sub>) dissolvido, atingindo valores de 0,5 mL de O<sub>2</sub> por L de água do mar.  


Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia*. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo20 (Levin, 2003).  
Atualmente se tem registro de grandes áreas de Oxigênio Mínimo no oceano Pacífico leste, entre a Península Arábica até a Baía de Bengala, no Oceano Índico, e na costa sudoeste do continente africano. Além disso, outras regiões espalhadas pelo mundo também dão sinais de hipóxia*. Nesses ambientes, ocorre a proliferação de tapetes microbianos (como os gêneros Beggiatoa sp. e Thiploca), e a presença de organismos adaptados para essas condições de baixo oxigênio, enquanto outras espécies (mais sensíveis) se tornam ausentes, voltando a apresentar grande diversidade nas regiões ao redor das Zonas de Oxigênio Mínimo.<ref>Levin, L. A. 2003. Oxygen Minimum Zone benthos: adaptation and community response to hypoxia. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 1-45. </ref>


'''CORAIS DE MAR PROFUNDO'''
'''CORAIS DE MAR PROFUNDO'''


Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local21 (Montseny et al, 2021).
Compostos por cnidários de diferentes espécies de coral (dos grupos Antipatharia, Octocorallia, Scleractinia e Stylasteridae), esse ecossistema pode ser encontrado até os 4000 m de profundidade, em cordilheiras, canyons, montes submarinos, além de margens continentais, em profundidades mais rasas como 50 m. Suas estruturas sésseis e rígidas fornecem locais de abrigo e berçário para outras espécies, incluindo de peixes, bem como aumentam consideravelmente a heterogeneidade local.<ref>Montseny, M.; Linares, C.; Carreiro-Silva, M.; Henry, L.-A.; Billett, D.; Cordes, E. E.; Smith, C. J.; Papadopoulou, N.; Bilan, M.; Girad, F.; Curdett, H. L.; Larsson, A.; Strömberg, S.; Viladrich, N.; Barry, J. P.; Baena, P.; Godinho, A.; Grnyó, J.; Santin, A.; Morato, T.; Sweetman, A. K.; Gili, J.-M.; Gori, A. Actvie ecological restoration of cold-water corals: tecnhiques, challenges, costs and future directions. Frontiers in Marine Science, 8: 621151. doi:  10.3389/fmars.2021.621151.</ref>
 
Sendo os corais organismos suspensívoros*, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de zooxantelas*.<ref>Lim et al, 2020.</ref>


Sendo os corais organismos suspensívoros*, esse ecossistema depende principalmente da matéria orgânica particulada de origem fitoplanctônica, uma vez que a falta de luz leva à inexistência de zooxantelas*22 (Lim et al, 2020).
'''MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS'''


== MONTES E CORDILHEIRAS SUBMARINOS ==
Montes submarinos são definidos como qualquer elevação isolada com uma altura vertical superior a 100 m. Ou seja, na prática esses montes são verdadeiras montanhas que possuem sua base no fundo dos oceanos e cujos picos ainda permanecem submersos, sendo muitos deles vulcões submarinos extintos.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086.</ref>
Montes submarinos são definidos como qualquer elevação isolada com uma altura vertical superior a 100 m. Ou seja, na prática esses montes são verdadeiras montanhas que possuem sua base no fundo dos oceanos e cujos picos ainda permanecem submersos, sendo muitos deles vulcões submarinos extintos23 (Goode et al., 2020).  


Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil24 (Clark et al., 2010). Dado essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico25 (Goode et al., 2020).
Estimativas apontam que existam mais de 30 mil montes submarinos ao redor do globo e em diversas profundidades do oceano, chegando até 4000 m abaixo do nível do mar. No entanto, dependendo dos critérios utilizados para classificá-los, esse número pode subir para 200 mil.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Essas diferenças, as condições de luz, pressão, temperatura e fluxo de água destes ecossistemas podem ser diferentes quando comparados entre si. Dessa forma, podem ocorrer diferentes habitats em um mesmo monte, como um ecossistema mosaico.<ref>Goode, S. L., Rowden, A. A., Bowden, D. A., Clark, M. R. Resilience of seamount benthic communities to trawling disturbance, Marine Environmental Research, Volume 161, 2020, 105086, ISSN 0141-1136, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2020.105086</nowiki>.</ref>


Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies sésseis * ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica26 (Clark et al., 2010). Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (hotspots, em inglês) no mar profundo27 (Rowden et al., 2010).
Ao contrário de infiltrações frias e fontes hidrotermais, que proporcionam a existência de toda uma comunidade de origem quimioautotrófica, o alimento que chega nos montes submarinos é proveniente das camadas superiores do oceano – Zona Epipelágica ou por correntes. Sendo assim, a fauna desses ambientes é formada principalmente por espécies suspensívoras, e em sua maioria, de espécies sésseis * ou sedentárias (pouca habilidade de locomoção), como esponjas e corais, além de diversas espécies de peixes, que assim como recifes de coral, utilizam esses organismos sésseis para abrigo, respeitando-se sua distribuição batimétrica.<ref>Clark, M. R.; Rowden, A. A.; Sclacher, T.; Williamns, A.; Consalvey, M.; Stocks, K. I.; Rogers, A. D.; O’Hara, T. D.; White, M.; Shank, T. M.; Hall-Spencer, J. M. 2010. The ecology of seamounts: structure, function and human impacts. Annual Review in Marine Science, 2: 253-278. doi: 10.1146/annurev-marine-120308-081109.</ref> Mesmo assim, os montes submarinos são considerados verdadeiros centros de alta de biodiversidade (''hotspots'') no mar profundo.<ref>Rowden, A. A., Schlacher, T. A., Williams, A., Clark, M. R., Stewart, R., Althaus, F., … Dowdney, J. (2010). A test of the seamount oasis hypothesis: seamounts support higher epibenthic megafaunal biomass than adjacent slopes. Marine Ecology, 31, 95–106. doi:10.1111/j.1439-0485.2010.00369.x </ref>


No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas28 (Wessel, 2001), como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras.  
No entanto, além dos montes isolados, cadeias ou cordilheiras de montes também ocorrem no fundo do mar, principalmente em regiões entreplacas,<ref>Wessel, P. 2001. Global distribution of seamounts inferred from gridded Geosat/ERS-1 altimetry. Journal of Geophysical Research, 106, p. 19431-19441.</ref> como a cordilheira Meso-Atlântica, a cadeia Vitória-Trindade, no litoral brasileiro, e a cadeia Hawaii-Emperor, no oceano Pacífico; entre outras.  


== TRINCHEIRAS OU FOSSAS OCEÂNICAS ==
== TRINCHEIRAS OU FOSSAS OCEÂNICAS ==
Trincheira oceânica, também conhecida como fossa, é uma depressão longa, estreita e geralmente com maior profundidade que o terreno no seu entorno. As fossas oceânicas representam os lugares mais profundos da superfície terrestre, podendo atingir até aproximadamente os 11 km abaixo do nível do mar, como na fossa das Marianas com 10.920 metros de profundidade abaixo29 (Stern, 2021), ou seja, já dentro da zona Hadal.
Trincheira oceânica, também conhecida como fossa, é uma depressão longa, estreita e geralmente com maior profundidade que o terreno no seu entorno. As fossas oceânicas representam os lugares mais profundos da superfície terrestre, podendo atingir até aproximadamente os 11 km abaixo do nível do mar, como na fossa das Marianas com 10.920 metros de profundidade abaixo,<ref>Stern, R. J. (2021) Ocean Trenches. In: Alderton, David; Elias, Scott A. (eds.) Encyclopedia of Geology, 2nd edition. vol. 3, pp. 845-854. United Kingdom: Academic Press. dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-102908-4.00099-0.</ref> ou seja, já dentro da zona Hadal.


As trincheiras oceânicas são formadas pela convergência de duas placas tectônicas, que ficam uma sobre a outra. Assim, elas não são necessariamente fendas verticais, mas assimétricas, com um declive suave em direção ao centro da Terra (Stern, 2021).  
As fossas oceânicas são formadas pela convergência de duas placas tectônicas, que ficam uma sobre a outra. Assim, elas não são necessariamente fendas verticais, mas assimétricas, com um declive suave em direção ao centro da Terra.<ref>Stern, R. J. (2021) Ocean Trenches. In: Alderton, David; Elias, Scott A. (eds.) Encyclopedia of Geology, 2nd edition. vol. 3, pp. 845-854. United Kingdom: Academic Press. dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-102908-4.00099-0.</ref>


Ao contrário do que se pode pensar a princípio, as fossas oceânicas não são inabitadas. Suas baixas temperaturas não diferem das temperaturas comumente encontradas no mar profundo, bem como as concentrações de oxigênio dissolvido. Dessa maneira, a pressão extremamente alta é o verdadeiro aspecto físico que molda a vida nesses ambientes, bem como a baixa disponibilidade de alimento30 (Jamieson et al., 2010). Dito isso, grandes depósitos de sedimentos ricos em matéria orgânica oriundos da superfície dos oceanos já foram encontrados nas fossas oceânicas31 (Du et al., 2021).
Ao contrário do que se pode pensar a princípio, as fossas oceânicas não são inabitadas. Suas baixas temperaturas não diferem das temperaturas comumente encontradas no mar profundo, bem como as concentrações de oxigênio dissolvido. Dessa maneira, a pressão extremamente alta é o verdadeiro aspecto físico que molda a vida nesses ambientes, bem como a baixa disponibilidade de alimento30 (Jamieson et al., 2010). Dito isso, grandes depósitos de sedimentos ricos em matéria orgânica oriundos da superfície dos oceanos já foram encontrados nas fossas oceânicas31 (Du et al., 2021).
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