Mudanças entre as edições de "Ecossistemas costeiros"

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A zona costeira corresponde ao espaço geográfico de interação do ar, mar e terra, abrangendo uma faixa terrestre e uma marítima1. É na região costeira que se concentram as maiores cidades do planeta2, bem como a maior parcela da sua população3. Pelo fato de representar um ambiente de transição, os ecossistemas costeiros proporcionam diversos serviços a essas populações e, ao mesmo tempo, estão vulneráveis às atividades antrópicas4.  
A zona costeira corresponde ao espaço geográfico de interação do ar, mar e terra, abrangendo uma faixa terrestre e uma marítima<ref>Gergling et al. Manual de ecossistemas: marinhos e costeiros para educadores. Santos, SP: Editora Comunnicar, 2016. Disponível em: <nowiki>https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/ManualEcossistemasMarinhoseCost</nowiki> eiros3.pdf. </ref>. É na região costeira que se concentram as maiores cidades do planeta<ref>Neumann, B.; Vafeidis, A. T.; Zimmermann, J.; Nicholls, R. J. 2015. Future coastal population growth and exposures to sea-level rise and coastal flooding – A global assessment. PLos ONE, 10, 3: e0118571. doi: 10.1371/journal.pone.0118571</ref>, bem como a maior parcela da sua população.<ref>He, Q; Silliman, B. R. 2019. Climate Change, Human Impacts, and Coastal Ecosystems in the Anthropocene, Current Biology, Volume 29, Issue 19, p. R1021-R1035, ISSN 0960-9822, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.cub.2019.08.042</nowiki>.</ref> Pelo fato de representar um ambiente de transição, os ecossistemas costeiros proporcionam diversos serviços a essas populações e, ao mesmo tempo, estão vulneráveis às atividades antrópicas<ref>Gedan, K. B., Silliman, B. R., & Bertness, M. D. (2009). Centuries of Human-Driven Change in Salt Marsh Ecosystems. Annual Review of Marine Science, 1(1), 117–141. doi:10.1146/annurev.marine.010908.163930 </ref>.  


Entre os diversos ecossistemas que podemos encontrar no ambiente costeiro, temos: praias, costões rochosos, manguezais, marisma, recifes de corais, entre outros.
Entre os diversos ecossistemas que podemos encontrar no ambiente costeiro, temos: praias, costões rochosos, manguezais, marisma, recifes de corais, entre outros.
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1.1 Definições
1.1 Definições


As praias são depósitos de sedimento inconsolidado, como areia e cascalho, formados na região entre terra e o mar ou outro corpo aquoso de grandes dimensões (rios, lagos) e que são retrabalhados por ondas, marés, ventos e correntes geradas por esses três agentes5 .  
As praias são depósitos de sedimento inconsolidado, como areia e cascalho, formados na região entre terra e o mar ou outro corpo aquoso de grandes dimensões (rios, lagos) e que são retrabalhados por ondas, marés, ventos e correntes geradas por esses três agentes.<ref>(Voigt, 1998)</ref>


São ambientes muito dinâmicos que se ajustam às condições de ondas e maré, atuando como um importante elemento de proteção do litoral6. Além da proteção costeira para os ecossistemas adjacentes e de ser habitat para várias espécies animais e vegetais, as praias são muito importantes para diversas atividades urbanas, recreação e turismo.
São ambientes muito dinâmicos que se ajustam às condições de ondas e maré, atuando como um importante elemento de proteção do litoral6. Além da proteção costeira para os ecossistemas adjacentes e de ser habitat para várias espécies animais e vegetais, as praias são muito importantes para diversas atividades urbanas, recreação e turismo.
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1.2. Características gerais e classificações  
1.2. Características gerais e classificações  


De acordo com as características das ondas e dos processos costeiros, as praias podem ser classificadas em dissipativas*, reflexivas* e intermediárias*7 . Além disso, de acordo com o alcance das marés ao longo de um perfil transversal à linha de costa, as praias podem também ser classificadas em ambientes ou zonas chamadas de pós-praia ou <span style="color:blue" title="Zona que se estende desde o nível do mar durante a maré alta de sizígia até a base de uma falésia, duna, terraço marinho ou linha de vegetação permanente. Nessa área, ocasionalmente, ocorrem ondas de tempestade que podem formar uma berma de tempestade, atingir seu limite superior ou ultrapassá-lo.">supramaré</span>, estirâncio ou <span style="color:blue" title="É a zona da praia localizada entre o nível do mar durante a maré alta de sizígia e o nível do mar durante a maré baixa de sizígia. Os biólogos se referem a essa zona como zona intermaré ou entremarés.">entremarés</span>, <span style="color:blue" title="É a zona que se estende desde o nível do mar durante a maré baixa de sizígia até o nível base de ação das ondas em condições de mar calmo. Também conhecida como zona inframaré por biólogos e geólogos que estudam ambientes de macromarés.">face litorânea ou inframarés</span>, <span style="color:blue" title="É a zona que vai desde o ponto da última quebra normal da onda na face da praia até o limite máximo de ação das ondas de tempestade. Inclui a pós-praia e parte do estirâncio. A posição da face da praia varia com as mudanças diárias e sazonais do nível médio do mar.">praia subaérea</span>, <span style="color:blue" title="É a zona que se estende desde a primeira linha de arrebentação de ondas até o ponto onde ocorre a última quebra da onda na face da praia.">zona de surfe e arrebentação de ondas</span> e <span style="color:blue" title="É a zona compreendida entre o nível base de ação das ondas em condições de mar calmo e a primeira linha de arrebentação de ondas. Nessa zona, ocorre o processo de empolamento de ondas (wave shoaling), que é caracterizado pela redução progressiva do comprimento de onda e aumento de sua altura, resultando na arrebentação das ondas.
De acordo com as características das ondas e dos processos costeiros, as praias podem ser classificadas em dissipativas*, reflexivas* e intermediárias*.<ref>Wright, L.D. & Short, A.D. 1984. Morphodynamic variability of surf zones and beaches: a syntesis. Marine Geology, v.56, p.93-118.</ref> Além disso, de acordo com o alcance das marés ao longo de um perfil transversal à linha de costa, as praias podem também ser classificadas em ambientes ou zonas chamadas de pós-praia ou <span style="color:blue" title="Zona que se estende desde o nível do mar durante a maré alta de sizígia até a base de uma falésia, duna, terraço marinho ou linha de vegetação permanente. Nessa área, ocasionalmente, ocorrem ondas de tempestade que podem formar uma berma de tempestade, atingir seu limite superior ou ultrapassá-lo.">supramaré</span>, estirâncio ou <span style="color:blue" title="É a zona da praia localizada entre o nível do mar durante a maré alta de sizígia e o nível do mar durante a maré baixa de sizígia. Os biólogos se referem a essa zona como zona intermaré ou entremarés.">entremarés</span>, <span style="color:blue" title="É a zona que se estende desde o nível do mar durante a maré baixa de sizígia até o nível base de ação das ondas em condições de mar calmo. Também conhecida como zona inframaré por biólogos e geólogos que estudam ambientes de macromarés.">face litorânea ou inframarés</span>, <span style="color:blue" title="É a zona que vai desde o ponto da última quebra normal da onda na face da praia até o limite máximo de ação das ondas de tempestade. Inclui a pós-praia e parte do estirâncio. A posição da face da praia varia com as mudanças diárias e sazonais do nível médio do mar.">praia subaérea</span>, <span style="color:blue" title="É a zona que se estende desde a primeira linha de arrebentação de ondas até o ponto onde ocorre a última quebra da onda na face da praia.">zona de surfe e arrebentação de ondas</span> e <span style="color:blue" title="É a zona compreendida entre o nível base de ação das ondas em condições de mar calmo e a primeira linha de arrebentação de ondas. Nessa zona, ocorre o processo de empolamento de ondas (wave shoaling), que é caracterizado pela redução progressiva do comprimento de onda e aumento de sua altura, resultando na arrebentação das ondas.
">zona próxima à praia</span>.8
">zona próxima à praia</span>.


A morfologia e a estrutura de uma praia podem mudar drasticamente, dependendo de fatores oceanográficos, meteorológicos/climáticos, geológicos e antrópicos. Os fatores oceanográficos abrangem as influências das ondas, marés e ventos, assim como as correntes geradas por cada um desses agentes.
A morfologia e a estrutura de uma praia podem mudar drasticamente, dependendo de fatores oceanográficos, meteorológicos/climáticos, geológicos e antrópicos. Os fatores oceanográficos abrangem as influências das ondas, marés e ventos, assim como as correntes geradas por cada um desses agentes.


Os fatores meteorológicos/climáticos exercem uma influência significativa nas variações do nível médio do mar (diárias, sazonais e de longo prazo) e na ação dos ventos e das ondas, interferindo nas características das correntes costeiras9.
Os fatores meteorológicos/climáticos exercem uma influência significativa nas variações do nível médio do mar (diárias, sazonais e de longo prazo) e na ação dos ventos e das ondas, interferindo nas características das correntes costeiras.<ref>Masselink, G., Hughes, M., & Knight, J. (2014). Introduction to coastal processes and geomorphology. Routledge.</ref>


Entre os vários fatores geológicos que atuam na zona costeira, os processos sedimentares são os mais relevantes para as praias, sendo responsáveis pelos ganhos (deposição) e perdas (erosão) de areia, determinando o seu balanço sedimentar. Os fatores antrópicos englobam as interferências humanas nos ecossistemas costeiros, modificando os demais fatores.
Entre os vários fatores geológicos que atuam na zona costeira, os processos sedimentares são os mais relevantes para as praias, sendo responsáveis pelos ganhos (deposição) e perdas (erosão) de areia, determinando o seu balanço sedimentar. Os fatores antrópicos englobam as interferências humanas nos ecossistemas costeiros, modificando os demais fatores.
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As praias desempenham uma variedade de <span style="color:blue" title="São os benefícios diretos e indiretos que os ecossistemas fornecem aos seres humanos e à natureza como resultado das interações entre os organismos vivos, o ambiente físico e os processos naturais. Esses serviços são essenciais para a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento sustentável das sociedades.>serviços ecossistêmicos,</span> que são essenciais para o bem-estar das comunidades humanas e a saúde dos ecossistemas costeiros. Alguns dos principais serviços ecossistêmicos das praias incluem biodiversidade, proteção costeira, manutenção da qualidade da água costeira, ciclagem de nutrientes, recreação e turismo, entre outros.
As praias desempenham uma variedade de <span style="color:blue" title="São os benefícios diretos e indiretos que os ecossistemas fornecem aos seres humanos e à natureza como resultado das interações entre os organismos vivos, o ambiente físico e os processos naturais. Esses serviços são essenciais para a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento sustentável das sociedades.>serviços ecossistêmicos,</span> que são essenciais para o bem-estar das comunidades humanas e a saúde dos ecossistemas costeiros. Alguns dos principais serviços ecossistêmicos das praias incluem biodiversidade, proteção costeira, manutenção da qualidade da água costeira, ciclagem de nutrientes, recreação e turismo, entre outros.


As praias arenosas são habitats importantes para uma variedade de espécies de plantas e animais. Muitas espécies de aves, répteis, insetos e crustáceos dependem desse ambiente para alimentação, reprodução e abrigo. A presença e a diversidade destes organismos são influenciadas pelas características físicas da praia, como o tamanho do grão (granulometria) da areia, a inclinação da praia e a presença de vegetação10. Portanto, essa biodiversidade desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde dos ecossistemas costeiros e na sustentação de cadeias alimentares complexas.
As praias arenosas são habitats importantes para uma variedade de espécies de plantas e animais. Muitas espécies de aves, répteis, insetos e crustáceos dependem desse ambiente para alimentação, reprodução e abrigo. A presença e a diversidade destes organismos são influenciadas pelas características físicas da praia, como o tamanho do grão (granulometria) da areia, a inclinação da praia e a presença de vegetação<ref>Defeo, O., McLachlan, A., Schoeman, D. S., Schlacher, T. A., Dugan, J., Jones, A., Lastra, M., & Scapini, F. (2009). Threats to sandy beach ecosystems: a review. Estuarine, Coastal and Shelf Science, 81(1), 1–12.</ref>. Portanto, essa biodiversidade desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde dos ecossistemas costeiros e na sustentação de cadeias alimentares complexas.


As praias atuam como uma barreira natural de proteção contra a erosão costeira causada por ondas, tempestades e marés. A presença de dunas e vegetação costeira ajuda a dissipar a energia das ondas, reduzindo o impacto das tempestades e minimizando a perda de terras.
As praias atuam como uma barreira natural de proteção contra a erosão costeira causada por ondas, tempestades e marés. A presença de dunas e vegetação costeira ajuda a dissipar a energia das ondas, reduzindo o impacto das tempestades e minimizando a perda de terras.
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As praias são também um importante destino turístico e proporcionam oportunidades de lazer e recreação para as pessoas. As atividades como natação, banhos de sol, prática de esportes aquáticos, passeios e turismo costeiro contribuem para o bem-estar físico e mental, além de serem uma fonte de renda para as comunidades locais.
As praias são também um importante destino turístico e proporcionam oportunidades de lazer e recreação para as pessoas. As atividades como natação, banhos de sol, prática de esportes aquáticos, passeios e turismo costeiro contribuem para o bem-estar físico e mental, além de serem uma fonte de renda para as comunidades locais.


É importante ressaltar que as praias arenosas estão sujeitas a uma série de ameaças, incluindo a erosão costeira, o aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas, urbanização descontrolada, a poluição e a exploração excessiva de recursos. Estas ameaças podem levar à perda de habitat, à redução da diversidade biológica e à degradação da qualidade desse ecossistema, ameaçando a integridade dos serviços ecossistêmicos das praias. A gestão eficaz das praias arenosas é, portanto, crucial para a conservação desse valioso ecossistema e pode incluir a proteção das áreas costeiras, a restauração de habitats degradados e a mitigação dos impactos das atividades humanas11 . Portanto, a conservação e a gestão adequada desses ecossistemas são essenciais para garantir a continuidade dos serviços que eles fornecem.
É importante ressaltar que as praias arenosas estão sujeitas a uma série de ameaças, incluindo a erosão costeira, o aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas, urbanização descontrolada, a poluição e a exploração excessiva de recursos. Estas ameaças podem levar à perda de habitat, à redução da diversidade biológica e à degradação da qualidade desse ecossistema, ameaçando a integridade dos serviços ecossistêmicos das praias. A gestão eficaz das praias arenosas é, portanto, crucial para a conservação desse valioso ecossistema e pode incluir a proteção das áreas costeiras, a restauração de habitats degradados e a mitigação dos impactos das atividades humanas. <ref>Martínez, M. L., Intralawan, A., Vázquez, G., Pérez-Maqueo, O., Sutton, P., & Landgrave, R. (2007). The coasts of our world: Ecological, economic and social importance. Ecological Economics, 63(2–3), 254–272.</ref>Portanto, a conservação e a gestão adequada desses ecossistemas são essenciais para garantir a continuidade dos serviços que eles fornecem.


2. COSTÕES ROCHOSOS
2. COSTÕES ROCHOSOS
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Uma das características marcantes dos costões rochosos é a zona de influência das marés, que cria uma área única e dinâmica entre os limites da maré alta e baixa. Essa zona, chamada de zona entremarés*, está sujeita a flutuações diárias das condições ambientais, como a exposição ao ar durante a maré baixa e a imersão na água durante a maré alta. Essa alternância de condições cria desafios e oportunidades únicas para os organismos que habitam o costão rochoso.
Uma das características marcantes dos costões rochosos é a zona de influência das marés, que cria uma área única e dinâmica entre os limites da maré alta e baixa. Essa zona, chamada de zona entremarés*, está sujeita a flutuações diárias das condições ambientais, como a exposição ao ar durante a maré baixa e a imersão na água durante a maré alta. Essa alternância de condições cria desafios e oportunidades únicas para os organismos que habitam o costão rochoso.


Portanto, a estrutura física dos costões rochosos e a influência das condições oceânicas, como marés, correntes e ondas, bem como a competição por espaço e recursos entre os organismos contribuem para uma zonação nos costões12.  
Portanto, a estrutura física dos costões rochosos e a influência das condições oceânicas, como marés, correntes e ondas, bem como a competição por espaço e recursos entre os organismos contribuem para uma zonação nos costões.<ref>Connell, J. H. (1972). Community interactions on marine rocky intertidal shores. Annual Review of Ecology and Systematics, 3(1), 169–192.</ref>


A zonação nos costões rochosos é geralmente observada em faixas horizontais ou verticais, que são definidas por diferentes espécies de organismos e pelas adaptações necessárias para sobreviver em cada área específica. Essas faixas são conhecidas como zonas de acordo com a localização em relação à maré e às condições ambientais predominantes. As principais zonas encontradas nos costões rochosos são:
A zonação nos costões rochosos é geralmente observada em faixas horizontais ou verticais, que são definidas por diferentes espécies de organismos e pelas adaptações necessárias para sobreviver em cada área específica. Essas faixas são conhecidas como zonas de acordo com a localização em relação à maré e às condições ambientais predominantes. As principais zonas encontradas nos costões rochosos são:
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* Zona Infralitoral: Também chamada de zona submersa, está localizada abaixo da maré baixa e é regularmente submersa pelas marés. Nessa zona, a luz solar é menos disponível, e os organismos encontrados são adaptados a essas condições. Aqui os fatores abióticos são relativamente estáveis e as relações de predação e competição regulam as comunidades locais. Algas de maiores tamanhos, como as algas pardas (Sargassum), cnidários (anêmonas), crustáceos (camarão, ermitão, caranguejo), ouriços-do-mar e peixes são comuns nessa área.
* Zona Infralitoral: Também chamada de zona submersa, está localizada abaixo da maré baixa e é regularmente submersa pelas marés. Nessa zona, a luz solar é menos disponível, e os organismos encontrados são adaptados a essas condições. Aqui os fatores abióticos são relativamente estáveis e as relações de predação e competição regulam as comunidades locais. Algas de maiores tamanhos, como as algas pardas (Sargassum), cnidários (anêmonas), crustáceos (camarão, ermitão, caranguejo), ouriços-do-mar e peixes são comuns nessa área.


Na zona entremarés* dos costões rochosos, também ocorrem as chamadas poças de maré, que são depressões onde a água do mar se acumula formando piscinas temporárias. Essas poças estão sujeitas às condições atmosféricas e apresentam alta variabilidade de temperatura e salinidade durante a maré baixa. Os organismos presentes nessas poças de maré são expostos a flutuações extremas nas condições ambientais, o que requer adaptações específicas para sobreviver nesse ambiente dinâmico. Estes microhabitats proporcionam um refúgio para uma variedade de organismos, incluindo moluscos, anêmonas, caranguejos, algas entre outros13 .
Na zona entremarés* dos costões rochosos, também ocorrem as chamadas poças de maré, que são depressões onde a água do mar se acumula formando piscinas temporárias. Essas poças estão sujeitas às condições atmosféricas e apresentam alta variabilidade de temperatura e salinidade durante a maré baixa. Os organismos presentes nessas poças de maré são expostos a flutuações extremas nas condições ambientais, o que requer adaptações específicas para sobreviver nesse ambiente dinâmico. Estes microhabitats proporcionam um refúgio para uma variedade de organismos, incluindo moluscos, anêmonas, caranguejos, algas entre outros.<ref>Raffaelli, D., & Hawkins, S. J. (1996). Intertidal ecology. Springer Science & Business Media</ref>


2.3 Serviços ecossistêmicos
2.3 Serviços ecossistêmicos
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Eles também contribuem para a estabilidade do ecossistema marinho, fornecendo substrato sólido para a fixação de organismos e servindo como base para as cadeias alimentares marinhas. Eles também ajudam a filtrar e purificar a água, promovendo a qualidade da água marinha.
Eles também contribuem para a estabilidade do ecossistema marinho, fornecendo substrato sólido para a fixação de organismos e servindo como base para as cadeias alimentares marinhas. Eles também ajudam a filtrar e purificar a água, promovendo a qualidade da água marinha.


Os costões rochosos também desempenham um papel significativo em processos costeiros maiores, incluindo a proteção da linha de costa contra a erosão, a dissipação de energia das ondas e o fornecimento de sedimentos para praias e dunas14. A sua configuração rochosa ajuda a dissipar a energia das ondas, reduzindo o impacto das tempestades e protegendo as áreas costeiras adjacentes da erosão.
Os costões rochosos também desempenham um papel significativo em processos costeiros maiores, incluindo a proteção da linha de costa contra a erosão, a dissipação de energia das ondas e o fornecimento de sedimentos para praias e dunas. <ref>Naylor, L. A., Stephenson, W. J., & Trenhaile, A. S. (2010). Rock coast geomorphology: recent advances and future research directions. Geomorphology, 114(1–2), 3–11</ref>A sua configuração rochosa ajuda a dissipar a energia das ondas, reduzindo o impacto das tempestades e protegendo as áreas costeiras adjacentes da erosão.


Eles também podem servir como áreas de pesca, oferecendo habitat para várias espécies comerciais e recreativas. Além disso, certas espécies marinhas presentes nos costões rochosos são utilizadas como recursos naturais, como algas marinhas para a indústria alimentícia e moluscos para a aquicultura.
Eles também podem servir como áreas de pesca, oferecendo habitat para várias espécies comerciais e recreativas. Além disso, certas espécies marinhas presentes nos costões rochosos são utilizadas como recursos naturais, como algas marinhas para a indústria alimentícia e moluscos para a aquicultura.


Apesar de sua importância ecológica, os costões rochosos são frequentemente impactados por atividades humanas, incluindo poluição, pesca excessiva e desenvolvimento costeiro. É importante reconhecer e valorizar os serviços ecossistêmicos dos costões rochosos, bem como adotar práticas de manejo sustentável para garantir a conservação desses ecossistemas e sua capacidade de fornecer benefícios contínuos para as comunidades humanas e a natureza. Portanto, a proteção e a gestão destes habitats são cruciais para a conservação da biodiversidade marinha15 .
Apesar de sua importância ecológica, os costões rochosos são frequentemente impactados por atividades humanas, incluindo poluição, pesca excessiva e desenvolvimento costeiro. É importante reconhecer e valorizar os serviços ecossistêmicos dos costões rochosos, bem como adotar práticas de manejo sustentável para garantir a conservação desses ecossistemas e sua capacidade de fornecer benefícios contínuos para as comunidades humanas e a natureza. Portanto, a proteção e a gestão destes habitats são cruciais para a conservação da biodiversidade marinha.<ref>Hawkins, S. J., Moore, P. J., Burrows, M. T., Poloczanska, E., Mieszkowska, N., Herbert, R. J. H., Jenkins, S. R., Thompson, R. C., Genner, M. J., & Southward, A. J. (2008). Complex interactions in a rapidly changing world: responses of rocky shore communities to recent climate change. Climate Research, 37(2–3), 123–133</ref>


3. MANGUEZAIS
3. MANGUEZAIS
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2.2 Características gerais e classificações
2.2 Características gerais e classificações


Os manguezais são caracterizados por apresentarem uma grande diversidade de espécies vegetais e animais adaptadas a condições extremas, como a salinidade elevada e sedimento anóxico, devido a variação do nível d’água durante os intervalos de maré (Alongi, 2002). Entre as espécies vegetais de mangue conhecidas, temos os gêneros Avicennia (mangue-preto), Laguncularia (mangue-branco), Rhizophora (mangue-vermelho) e Conocarpus erectus (mangue de botão)16.
Os manguezais são caracterizados por apresentarem uma grande diversidade de espécies vegetais e animais adaptadas a condições extremas, como a salinidade elevada e sedimento anóxico, devido a variação do nível d’água durante os intervalos de maré.<ref>Alongi, D. M. (2002). Present state and future of the world’s mangrove forests. Environmental Conservation, 29(3), 331–349. </ref> Entre as espécies vegetais de mangue conhecidas, temos os gêneros Avicennia (mangue-preto), Laguncularia (mangue-branco), Rhizophora (mangue-vermelho) e Conocarpus erectus (mangue de botão).<ref>Rezende, C. E.; Lacerda, L. D.; Bernini, E.; Silva, C. A. R. e; Ovalle, A. R. C.; Aragon, G. T. 2009. Ecologia e biogeoquímica de manguezal. In: Pereira, R. C.; Soares-Gomes, A. Biologia Marinha (2ª ed). Editora Interciência: Rio de Janeiro, p. 361-382.</ref>


Os manguezais são influenciados por uma série de fatores abióticos e bióticos que controlam a vida dos organismos que habitam esses ecossistemas. Os fatores abióticos incluem a salinidade da água, a variação das marés, a disponibilidade de nutrientes, tipo de sedimento (lamoso, arenoso etc.) e a temperatura. Esses fatores podem variar dependendo da localização geográfica e das condições climáticas. Os fatores bióticos incluem a interação entre as espécies de plantas e animais que habitam os manguezais, como as relações de predação, competição e simbiose.
Os manguezais são influenciados por uma série de fatores abióticos e bióticos que controlam a vida dos organismos que habitam esses ecossistemas. Os fatores abióticos incluem a salinidade da água, a variação das marés, a disponibilidade de nutrientes, tipo de sedimento (lamoso, arenoso etc.) e a temperatura. Esses fatores podem variar dependendo da localização geográfica e das condições climáticas. Os fatores bióticos incluem a interação entre as espécies de plantas e animais que habitam os manguezais, como as relações de predação, competição e simbiose.
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3.3 Serviços ecossistêmicos
3.3 Serviços ecossistêmicos


Os manguezais desempenham um importante papel na manutenção da saúde dos ecossistemas costeiros e na sustentabilidade das comunidades humanas. Esses ecossistemas funcionam como berçários para diversas espécies marinhas, uma vez que fornecem proteção e alimento para as primeiras fases da vida de muitos organismos. Além disso, contribuem para a manutenção da qualidade da água, por meio da retenção de sedimentos e nutrientes que seriam levados para o mar, ajudando a prevenir a eutrofização de ambientes marinhos17 .
Os manguezais desempenham um importante papel na manutenção da saúde dos ecossistemas costeiros e na sustentabilidade das comunidades humanas. Esses ecossistemas funcionam como berçários para diversas espécies marinhas, uma vez que fornecem proteção e alimento para as primeiras fases da vida de muitos organismos. Além disso, contribuem para a manutenção da qualidade da água, por meio da retenção de sedimentos e nutrientes que seriam levados para o mar, ajudando a prevenir a eutrofização de ambientes marinhos.<ref>Nagelkerken, I., Blaber, S. J. M., Bouillon, S., Green, P., Haywood, M., Kirton, L. G., Meynecke, J.-O., Pawlik, J., Penrose, H. M., & Sasekumar, A. (2008). The habitat function of mangroves for terrestrial and marine fauna: a review. Aquatic Botany, 89(2), 155–185.</ref>


Em geral, os manguezais são considerados ecossistemas altamente produtivos devido à atividade fotossintética das plantas e à decomposição dos detritos orgânicos. Estudos científicos têm estimado a produtividade primária líquida dos manguezais em uma média de cerca de 2 a 4 toneladas de carbono por hectare por ano. Essa estimativa leva em consideração a quantidade de carbono fixado pelas plantas por meio da fotossíntese, descontando a respiração das plantas e a decomposição dos detritos vegetais. Parte dessa matéria orgânica é liberada nas águas costeiras por meio da decomposição de folhas, raízes e outros detritos vegetais.
Em geral, os manguezais são considerados ecossistemas altamente produtivos devido à atividade fotossintética das plantas e à decomposição dos detritos orgânicos. Estudos científicos têm estimado a produtividade primária líquida dos manguezais em uma média de cerca de 2 a 4 toneladas de carbono por hectare por ano. Essa estimativa leva em consideração a quantidade de carbono fixado pelas plantas por meio da fotossíntese, descontando a respiração das plantas e a decomposição dos detritos vegetais. Parte dessa matéria orgânica é liberada nas águas costeiras por meio da decomposição de folhas, raízes e outros detritos vegetais.


Os manguezais também têm importância social e econômica. Eles fornecem uma série de serviços ambientais, como a proteção da linha de costa contra a erosão e o amortecimento de ondas de tempestades e tsunamis. Além disso, muitas comunidades humanas dependem diretamente dos recursos dos manguezais para sua subsistência, seja pela pesca, coleta de mariscos, ou pelo uso da madeira18 . Além dos produtos pesqueiros, os manguezais fornecem recursos naturais valiosos como fibras e medicamentos tradicionais.
Os manguezais também têm importância social e econômica. Eles fornecem uma série de serviços ambientais, como a proteção da linha de costa contra a erosão e o amortecimento de ondas de tempestades e tsunamis. Além disso, muitas comunidades humanas dependem diretamente dos recursos dos manguezais para sua subsistência, seja pela pesca, coleta de mariscos, ou pelo uso da madeira.<ref>Barbier, E. B., Hacker, S. D., Kennedy, C., Koch, E. W., Stier, A. C., & Silliman, B. R. (2011). The value of estuarine and coastal ecosystem services. Ecological Monographs, 81(2), 169–193. </ref> Além dos produtos pesqueiros, os manguezais fornecem recursos naturais valiosos como fibras e medicamentos tradicionais.


Apesar de sua importância, os manguezais estão entre os ecossistemas mais ameaçados do planeta, principalmente devido à expansão urbana, ao desmatamento para a aquicultura (principalmente de camarão), à poluição e às mudanças climáticas. A degradação e a perda de manguezais podem ter impactos significativos tanto na biodiversidade como na resiliência de comunidades costeiras19.  
Apesar de sua importância, os manguezais estão entre os ecossistemas mais ameaçados do planeta, principalmente devido à expansão urbana, ao desmatamento para a aquicultura (principalmente de camarão), à poluição e às mudanças climáticas. A degradação e a perda de manguezais podem ter impactos significativos tanto na biodiversidade como na resiliência de comunidades costeiras.<ref>Polidoro, B. A., Carpenter, K. E., Collins, L., Duke, N. C., Ellison, A. M., Ellison, J. C., Farnsworth, E. J., Fernando, E. S., Kathiresan, K., & Koedam, N. E. (2010). The loss of species: mangrove extinction risk and geographic areas of global concern. PloS One, 5(4), e10095.</ref>


Nesse contexto, a conservação dos manguezais é uma necessidade urgente. Para isso, é preciso não apenas a criação de áreas protegidas, mas também a implementação de políticas públicas efetivas e a conscientização da sociedade sobre a importância desses ecossistemas20 .
Nesse contexto, a conservação dos manguezais é uma necessidade urgente. Para isso, é preciso não apenas a criação de áreas protegidas, mas também a implementação de políticas públicas efetivas e a conscientização da sociedade sobre a importância desses ecossistemas.<ref>Spalding, M. (2010). World atlas of mangroves. Routledge.</ref>


4. MARISMAS ou PÂNTANO SALOBRO
4. MARISMAS ou PÂNTANO SALOBRO
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