161
edições
Linha 25: | Linha 25: | ||
Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas,<ref>German, C. R.; Von Damm, K. L. 2004. Hydrothermal processes. In: Holland, H. D.; Turekian, K. K.; Elderfield, H. (Eds). Treatise on geochemistry, vol. 6. The oceans and marine geochemistry. Oxford, UK. Elsevier-Pergamon, pp. 181-222.</ref> sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente.<ref>Hannington, M. D.; Jonasson, I. R.; Herzig, P. M.; Petersen, S. 1995. Physical and chemical processes of seafloor mineralization at Mid-Ocean Ridges. In: Humphris, S. E.; Zierenberg, R. A.; Mullineaux, L. S.; Thomson, R. E. (Eds). Seafloor hydrothermal systems: physical, chemical, biological, and geological interactions.Geophysical Monograph, 91. American Geophysical Union: Washington, DC, pp. 115-157.</ref> | Nestes locais, a água do mar entra em contato com o magma presente abaixo da superfície da Terra, por meio de fissuras na crosta oceânica, tornando-a superaquecida, reagindo com os elementos químicos presentes nas rochas e solos. Dessa maneira, pode ocorrer ou não, em caso de fontes difusas, a formação de chaminés ou fumarolas, classificadas pela sua cor, dependendo de suas características físico-químicas,<ref>German, C. R.; Von Damm, K. L. 2004. Hydrothermal processes. In: Holland, H. D.; Turekian, K. K.; Elderfield, H. (Eds). Treatise on geochemistry, vol. 6. The oceans and marine geochemistry. Oxford, UK. Elsevier-Pergamon, pp. 181-222.</ref> sendo: 1) fumarolas negras, formadas a partir de precipitados de sulfetos de ferro, cobre e zinco, em altas temperaturas, e 2) fumarolas brancas, comuns em sistemas hidrotermais de temperaturas mais baixas (até 250 °C), com precipitados de sílica, anidrita e barita. No entanto, ambas fumarolas podem até mesmo ocorrer concomitantemente.<ref>Hannington, M. D.; Jonasson, I. R.; Herzig, P. M.; Petersen, S. 1995. Physical and chemical processes of seafloor mineralization at Mid-Ocean Ridges. In: Humphris, S. E.; Zierenberg, R. A.; Mullineaux, L. S.; Thomson, R. E. (Eds). Seafloor hydrothermal systems: physical, chemical, biological, and geological interactions.Geophysical Monograph, 91. American Geophysical Union: Washington, DC, pp. 115-157.</ref> | ||
Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>) em compostos | Bactérias como Proteobacteria e Campylobacterota possuem a capacidade de utilizar esses fluidos quimicamente reduzidos como doadores de elétrons para converter dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>) em compostos orgânicos,<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> servindo como base da cadeia alimentar quimiossintética, por meio de ecto ou endossimbiose com diversas espécies endêmicas*. Entre os organismos dessa fauna encontram-se: poliquetas tubulares da família Siboglinidae, moluscos como Bathymodiolus, Vesicomyidae, e Provannidae; além de crustáceos, como Alvinocarididae e Kiwa.<ref>Magdalena N. Georgieva, Crispin T.S. Little, Valeriy V. Maslennikov, Adrian G. Glover, Nuriya R. Ayupova, Richard J. Herrington. The history of life at hydrothermal vents, Earth-Science Reviews, Volume 217, 2021, 103602, ISSN 0012-8252, <nowiki>https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2021.103602</nowiki>.</ref> | ||
== INFILTRAÇÕES FRIAS == | == INFILTRAÇÕES FRIAS == | ||
As exsudações, infiltrações ou emanações frias ( | As exsudações, infiltrações ou emanações frias (''cold seeps'') são ecossistemas de mar profundo comumente encontradas em margens continentais ativas e passivas tectonicamente,<ref>Levin, L. A. 2005. Ecology of cold seep sediments: interactions of fauna with flow, chemistry and microbes.Oceanography and Marine Biology: An Annual Review, 43, 1-46. </ref> e que podem inclusive estar associadas à hidrotermalismo.<ref>Levin, L. A.; Orphan, V. J.; Rouse, G. W.; Rathburn, A. E.; Ussler III, W.; Cook, G. S.; Goffredi, S. K.; et al. 2012. A hydrothermal seep on the Costa Rica margin: middle ground in a continuum of reducing ecosystems. Proceedings of the Royal Society, v. 279, p. 2580-2588. </ref> Com uma variedade grande de formas (precipitados de carbonatos autigênicos*, pockmarks*, montes de hidratos e vulcões lamosos)<ref>Boetius, A.; Wenzhöfer, F. 2013. Seafloor oxygen consumption fueled by methane from cold seeps. Nature Geoscience, v. 6, p. 725-734. </ref> as infiltrações frias emitem fluidos com uma mistura de gases, como metano (CH<sub>4</sub>), dióxido de carbono (CO<sub>2</sub>), hidrogênio (H<sub>2</sub>) e sulfeto de hidrogênio (H<sub>2</sub>S).<ref>Levin, L. A.; Baco, A. R.; Bowden. D. A.; Colaco, A.; Cordes, E. E.; Cunha, M. R.; Demopoulos, A. W. J.; Gobin, J.; Grupe, B. M.; Le, J.; Metaxas, A.; Netbur, A. N.; Rouse, G. W.; Thurber, A. R.; Tinnicliffe, V.; Van Dover, C. L.; Venreusel, A.; Watling, L. 2016. Hydothermal vents and methane seeps: rethinking the sphere of influence. Forintiers in Marine Science, 3: 72. doi: 10.3389/fmars.2016.00072</ref> | ||
Elas são consideradas “frias” porque, comparadas às fontes hidrotermais, as temperaturas dos fluidos são mais baixas, além dessas emanações apresentarem velocidades menores. Entretanto, a temperatura da água das infiltrações frias são geralmente as mesmas das águas circundantes presentes no fundo do | Elas são consideradas “frias” porque, comparadas às fontes hidrotermais, as temperaturas dos fluidos são mais baixas, além dessas emanações apresentarem velocidades menores. Entretanto, a temperatura da água das infiltrações frias são geralmente as mesmas das águas circundantes presentes no fundo do mar.<ref>Suess, E. Marine cold seeps and their manifestations: geological control, biogeochemical criteria and environmental conditions. Int J Earth Sci (Geol Rundsch) 103, 1889–1916 (2014). <nowiki>https://doi.org/10.1007/s00531-014-1010-0</nowiki></ref> | ||
Semelhante às fontes hidrotermais, a fauna desses ecossistemas depende de microorganismos quimiossintéticos, que representam a principal fonte de alimento para organismos maiores. Outra característica interessante é que a intensidade e composição do fluxo desses fluidos vai determinar o tipo de comunidade dominante, sejam de tapetes microbianos (bactérias Beggiatoa sp., em infiltrações mais ativas e ricas em metano) ou moluscos (relacionados a ambientes menos ativos) | Semelhante às fontes hidrotermais, a fauna desses ecossistemas depende de microorganismos quimiossintéticos, que representam a principal fonte de alimento para organismos maiores. Outra característica interessante é que a intensidade e composição do fluxo desses fluidos vai determinar o tipo de comunidade dominante, sejam de tapetes microbianos (bactérias Beggiatoa sp., em infiltrações mais ativas e ricas em metano) ou moluscos (relacionados a ambientes menos ativos).<ref>Martin, R. A.; Nesbitt, E. A.; Campbell, K. A. 2007. Carbon stable isotopic composition of benthic foraminifera fromPliocene cold methane seeps, Cascadia accretionary margin. Palaeogeograpgy, Palaeoclimatology, Palaeoecology, v. 246, p. 260-277. </ref> | ||
== GRANDES QUEDAS ORGÂNICAS == | == GRANDES QUEDAS ORGÂNICAS == | ||
Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de | Considerando-se o estado oligotrófico geral do mar profundo, quando grandes quantidades de alimento chegam nesse ambiente, a composição da fauna local sofre uma alteração considerável. Entre as possíveis quedas orgânicas, temos: macroalgas (como kelps), madeiras e diferentes carcaças de vertebrados,<ref>Tunnicliffe, V.; Juniper, S. K.; Sibuet, M. 2003. Reducing environments of the dee-sea floor. In: Tyler, P. A. (ed). Ecosystems of the World, v. 28. Ecosystems of the deep Oceans, pp. 81-110.</ref><ref>Bernardino, A. F.; Levin, L. A.; Thurber, A. R.; Smith, C. R. 2012. Comparative composition, diversity and trophic ecology of sediment macrofauna at vents, seeps and organic falls. PLoS ONE, v. 7: e33515.</ref> sendo as de baleias as mais estudadas até o momento.<ref>Smith C. R,; Baco, A. R. 2003. Ecology of whale falls at the deep-sea floor. Oceanography and Marine Biology: an Annual Review, 41, 311-354.</ref> | ||
Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas saprófagos* ou detritívoros* surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela | Recém-descoberto, esse ecossistema de mar profundo tem origem logo após o afundamento de uma carcaça de baleia, quando diversos animais oportunistas saprófagos* ou detritívoros* surgem para consumirem sua carcaça, atraindo até mesmo outras espécies não usuais naquela área.<ref>Yin K, Zhang D, Xie W. Experimental Whale Falls in the South China Sea. Ocean-Land-Atmos. Res. 2023; 2: 0005. <nowiki>https://doi</nowiki>. org/10.34133/olar.0005.</ref> | ||
O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais (Smith; Baco, 2003). | O consumo dessa grande fonte de matéria orgânica ocorre de acordo com quatro estágios principais: 1) Na primeira fase, animais saprófagos (carniceiros) retiram e consomem todo o tecido mole (mais externo) das baleias; 2) Em seguida, espécies oportunistas (particularmente poliquetas e crustáceos) colonizam densamente a carcaça, removendo toda a carne e deixando apenas o esqueleto; 3) A terceira fase é caracterizada pela presença de organismos quimioautotróficos (bactérias tiofílicas, metanogênicas e Archaea) que consomem e colonizam a carcaça; 4) Por fim, o estágio recifal, no qual filtradores colonizam o restante do esqueleto. A duração de cada estágio depende do tamanho da carcaça, da profundidade do local onde ela caiu e outras variáveis ambientais (Smith; Baco, 2003). |
edições